Augustine

10/22/2013 10:55:00 PM |

Se você é fã de psiquiatria ou qualquer coisa ligada a problemas mentais de estudo sexual, esse é o filme que indico sem dúvida alguma para assistir. Claro que muitas mulheres que não entenderem que naquela época do filme a forma de estudos era nesse estilo irão ficar chocadas com "Augustine", mas a temática e a forma feita é tão bela que acaba sendo relevante o teor sexual da histeria que é tratada no filme, principalmente por ser o primeiro longa de uma diretora, então ela soube dosar e agradar tanto os da área quanto os curiosos que gostarem de um filme bem feito e com boa pegada.

O longa nos situa no inverno de 1885, em Paris, onde o professor Jean-Martin Charcot, do Hospital Pitié-Salpêtriere, está estudando uma doença misteriosa, a histeria, que atinge apenas as mulheres. Devido à pouca informação sobre a doença e suas características peculiares, os ataques de histeria por vezes são confundidos com possessões demoníacas, o que faz com que Charcot tenha que provar a seriedade de sua pesquisa. Um dia, chega ao hospital a jovem Augustine, de apenas 19 anos, que teve um ataque durante o trabalho. Logo ela se torna objeto de estudo de Charcot, que passa a dedicar um bom tempo à garota. Augustine acredita que Charcot possa curá-la e, aos poucos, desenvolve uma relação especial com o médico.

Como o filme tem todo um embasamento real de uma das pacientes de Charcot, alguns momentos até parece virar um pouco documental, com mulheres dando seus depoimentos de como se sentiam e o que faziam, mas o grande potencial da obra recai quando a diretora bota a ficção para ferver com todo o sentimentalismo entre os protagonistas e suas interações, até mesmo as de cunho extremamente forte e sexual, pois em momento algum sentimos estar vendo inverdades e no decorrer do filme em momento algum conseguimos imaginar um final para ele, o que na minha opinião é ótimo e agradável por dar ao público o que ele espera sem forçar sua mente para fabricar ilusões. Agora como comentei com alguns amigos, assistir esse filme com algum psiquiatra deve ser praticamente uma sessão de tortura, já que terão horas para discutir métodos, linguagens e tudo mais da forma técnica que era empregada na época os tratamentos e exames, como já vimos em outros filmes que envolvam essa temática, mas quem for da área e quiser comentar abaixo, toda informação é construtiva e válida, então não se acanhem. Voltando a falar sobre o filme, um outro ponto que vale ser ressaltado da diretora Alice Winocour conseguiu trabalhar o elenco todo em prol da câmera, pois geralmente iniciantes em longas costumam deixar os atores mais soltos, o que aqui difere por conseguirmos sempre vê-los enquadrados conforme a cena pedia.

Dos atores vale a pena falar realmente apenas dos dois protagonistas que captaram toda a essência do tema e trabalharam muito seus personagens para ficarem bem convincentes em tudo que faziam. A pobre Soko, sim esse é o nome da atriz sem sobrenome nem nada, consegue dar angústia até na pessoa mais calma possível, passando horas com um olho fechado, mais outras horas com um braço pendurado de forma extremamente dolorido, e por aí vai, fazendo isso com a expressão mais perfeita impossível para alguém que está sofrendo, mas não transmite com exageros, porém poderia em algumas cenas ter salientado mais convicção nos diálogos, que muitas vezes soam superficiais, mas tirando isso está perfeita. Vincent Lindon praticamente como diria algumas pessoas mais antigas chupou um caju verde e foi filmar, sua expressão fechada e séria de médico é introspectiva demais, claro que naquela época não tínhamos médicos tão saltitantes como temos hoje, mas um pouco de harmonia de humor cairia bem para a trama e faria ela ficar até um pouco mais leve já que não arrumaram um ator bem parecido com o médico original. Dos demais todos fazem pequenas pontas, então nem convém destacar ninguém.

A equipe de arte conseguiu fazer um trabalho bem denso de elementos de época, colocando figurinos à prova e até alguns objetos de praxe já vistos em outros filmes psiquiátricos, onde muitas coisas pareciam até elementos de tortura, mas eram usados como tratamento. Além disso, optaram por cenários bem escuros que acabam em alguns momentos até parecendo ser de filmes de terror, com um clima denso e ao mesmo tempo bonito de ser observado. A fotografia seguiu a mesma linha, trabalhando muito com o cinza e o marrom, onde tudo ficou extremamente pesado e acabou auxiliando o filme a ter a pegada que tem.

A trilha sonora pontuada intercalando grandes momentos de silêncio junto de ritmos tensos onde tudo poderia ocorrer na sequência é um fator bom para dar a tensão que o longa pedia, mas também contribuiu bastante para que ele parecesse ter uma duração muito maior do que realmente tem, e isso pode ser uma faca de dois gumes, ao cansar alguns espectadores que não estiverem realmente interessados no filme.

Enfim, é um longa que vale a pena ser visto, afinal como diria os mais antigos de médico e de louco todo mundo tem um pouco, então aqui podemos ver as duas situações. Não é algo que vai agradar a todos, mas é um belo trabalho artístico de iniciação da diretora com boa técnica empregada e que consegue manter a tensão na maioria dos momentos. Por trabalhar com um tema de difícil entrosamento para o público também vai criar algumas rejeições, mas nada que muitos outros filmes famosos não tenham passado também. No geral vale a pena ser visto com essas ressalvas apenas. Fico por aqui hoje, mas amanhã estou de volta com mais um filme do Cine Belas Artes Ribeirão Preto, com "Depois de Maio", então quem quiser me acompanhar fica o convite para amanhã às 19hs nos Estúdios Kaiser de Cinema. Abraços e até amanhã pessoal.


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