Netflix - Malcolm & Marie

2/09/2021 01:08:00 AM |

Está virando moda fazer filme sobre discussões de relacionamentos, ao ponto de transformar um longa em uma peça teatral com uma tonelada de diálogos e boas interpretações, aonde vemos raríssimas dinâmicas funcionais, mas que a explosão verborrágica acaba funcionando e envolvendo o público, e isso não é algo bom de acontecer, pois mostra que cada dia mais os roteiristas estão se limitando demais, e em breve veremos tantas versões possíveis de um mesmo filme que nada vai parecer original. Dito isso, é inegável a qualidade técnica do filme da Netflix, "Malcolm & Marie", aonde Zendaya e John David Washington se amam e se odeiam na mesma proporção, numa noite recheada de olhares, discussões, mais olhares, mais discussões, andanças pelos cômodos da casa, conversas aleatórias sobre a noite, voltamos para discussões, e nesse chove e não molha, algumas carícias, e claro mais discussões, para algo que até envolve pela essência, mostra um bom lado de uma discussão sobre críticos, sobre cinema, sobre querer atuar/dirigir, mas que dá mais raiva de ver do que felicidade por ser um bom filme, e que muito nos lembra diversos outros longas com grandes "DRs", mas que acabaram soando melhores por sair do eixo de dupla, e as vezes emprestar algo a mais para a trama. Ou seja, não é um filme ruim, muito longe disso, pois tanto com uma fotografia maravilhosa em preto e branco, quanto discussões fora do relacionamento inteligentíssimas, o resultado é bacana de ver, mas certamente um algo a mais agradaria bem mais.

A sinopse nos conta que ao retornar para casa após a estreia de seu filme, o cineasta Malcolm aguarda a resposta da crítica ao lado da namorada, Marie. Mas a noite toma um rumo inesperado quando revelações importantes colocam o amor do casal à prova.

A forma que o diretor Sam Levinson dá para sua trama é instigante e bem dosada, de forma que conseguimos quase que entrar na sala junto com os protagonistas, e ir acompanhando a discussão acalorada deles, que conforme vão nos permeando com todo o ótimo diálogo criado por Sam também, o filme vai se enrolando mais e mais, com perspectivas exatas e claras que acabamos até nos revoltando com tudo o que acaba ocorrendo, ou seja, o longa é quase aqueles bate-bolas rápidos que já vemos uma pessoa falando se preparando para contra argumentar, e que ficamos apenas esperando quem vai levar a melhor no seu ponto de vista. Ou seja, é um roteiro incrível, que mostra que o roteirista/diretor tem uma mão precisa e que facilmente encontra toda a dinâmica propícia para um bom debate, porém ficamos querendo um pouco mais dele, talvez algo mais forte, uma quebra de pratos, um soco na parede, num espelho, uma revolta menos irônica, uma esquentada maior no clima de romance, e por aí vai, de forma que o filme se mantém seguro demais dentro da caixinha escolhida por Sam, e assim mesmo não partindo para o erro, o resultado acaba agradando, mas não explode para algo memorável.

Sobre as atuações é fato que ambos os protagonistas deram um show de atuação, afinal o longa é só eles discutindo, então não teria como ser diferente, e se antes Zendaya só fazia filmes e séries mais adolescentes, aqui ela mostrou uma maturidade incrível e se impôs com personalidade e trejeitos fortes bem colocados, e mesmo que eu tenha ficado com muita raiva dela (afinal seus atos só aumentavam ainda mais a DR), sua Marie foi perfeita e já está começando a colher resultados aparecendo como indicada nas premiações. John David Washington já falei no seu outro filme que é daqueles atores que veremos explodir demais em tantos filmes quanto seu pai, pois o jovem ator é imponente, tem estilo e sabe aonde entrar para não falhar, algo que poucos atores têm, pois a qualquer momento seu papel poderia afrouxar, e ele segurou completamente tudo com seu Malcolm, fazendo trejeitos felizes quando precisava, e completamente insano quando estava em sua explosão, ou seja, foi muito bem.

Visualmente a estética preta e branca funcionou muito bem para dar um clima ainda mais pesado para o longa, e só, pois quem tentar justificar qualquer outra coisa para terem escolhido esse estilo de  fotografia está maluco, mas com isso tudo o que pensaram no ambiente acabou sumindo, e mesmo a casa sendo incrível com ambientes bem trabalhados, todo o feitio do macarrão, tudo ao redor, como seria o ambiente fora dali acabou apagadíssimo e não mostrou a riqueza que talvez a equipe de arte tenha conseguido para tudo, mas isso foi uma opção (que muitos andam gostando de voltar as origens com filmes preto e branco) e certamente o diretor assumiu assim, ou seja, a trama esqueceu todo o restante da produção, e focou apenas nos diálogos.

Enfim, é um filme interessante de conferir, mas que ao mesmo tempo que dá muita raiva por tudo o que acaba acontecendo entre eles (quando você acha que a DR vai acabar e vão fazer outra coisa, surge outro gatilho e a discussão recomeça), acabamos cansando também com a repetição do tema, então digo que recomendo com muitas ressalvas, e principalmente já deixo claro que muitos irão odiar, pois é um tema que não envolve muito. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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