As Trapaceiras (The Hustle)

7/27/2019 01:30:00 AM |

Diria que "As Trapaceiras" pode ser definido facilmente como um filme leve, gostoso de assistir e cheio de sacadas, de tal forma que me fez lembrar muito as comédias francesas, e se passando na Riviera Francesa então, ficou mais ainda com o estilo, de modo que com uma boa levada do começo ao fim, com uma dinâmica bem colocada, muitas tretas entre as protagonistas, e uma reviravolta bem sagaz ao final, o resultado acaba sendo uma grata surpresa. Claro que o filme não é daqueles que você sai rolando de tanto rir, mas que diverte pela essência sem precisar ser exageradamente apelativo, e que trabalha as situações com bons modos e muita classe (alguns momentos nem tanto!) para fazer com que o público sorria do que acabam mostrando, ou seja, um longa simples, com um certo ar luxuoso, boas atuações, e com o resultado preciso.

Beaumont-sur-mer, Riviera Francesa. Josephine e Penny são duas manipuladoras, conhecidas pela arte de extorquir milionários. No entanto, enquanto a primeira é sofisticada, a segunda tem métodos muito menos elegantes. De início Josephine aceita Penny como sua pupila, mas logo se percebe que na verdade a intenção era usá-la para um golpe específico e, logo em seguida, descartá-la. Surge então uma disputa entre elas, sobre quem conseguirá antes a quantia de US$ 500 mil de Thomas Westerburg, um prodígio da tecnologia, que está hospedado na cidade.

Outro ponto bem sacado do longa foi o estilo que o diretor Chris Addison, que já levou vários prêmios pelas séries que dirigiu, de trabalhar a trama com praticamente várias esquetes acontecendo em sequência de modo que nem se percebe as quebras de andamento, fazendo com que o filme ficasse linearmente perfeito, porém com cada momento desenvolvido separado, e isso é algo que geralmente costuma dar muito errado, e aqui felizmente não deu, pois ele soube colocar as transições de forma bem leve, costurando tudo com minúcias únicas bem encontradas. Ou seja, assistir ao filme é quase como ver leves momentos soltos bem divertidos de um programa cômico, porém encontrando atitudes certas para que tudo fluísse e ficasse agradável de ver, e assim vamos entrando no meio das trapaças das protagonistas, e até caindo no golpe maior bem desenvolvido por trás de tudo. Como o longa é praticamente uma refilmagem do longa "Os Safados" de 1988 com Michael Caine e Steve Martin, porém agora com mulheres nos papeis principais, o teor de empoderamento é grande, mas isso não chega a ser um problema para a trama, pois souberam usar de maneira satisfatória.

Como bem sabemos, Rebel Wilson é uma das comediantes que mais tem sido usadas no cinema, principalmente pelo seu estilo debochado, que não liga para métricas corporais, e que se joga para tudo o que for preciso, e aqui sua Penny é debochada, bem maluca, e principalmente funciona como uma amadora seguindo os passos da mestra, e claro, na sequência ficando tão boa quanto, de modo que agrada com muitas sacadas bem colocadas, e principalmente usando seu estilo forçado para funcionar bem, mesmo apelando sem atrapalhar o andamento da trama, ou seja, faz o seu melhor ser o que o longa precisava. Enquanto pelo lado mais sedutor, porém de uma forma cômica da utilização desses atributos, Anne Hathaway acaba sendo de uma sutileza precisa e muito interessante para sua Josephine, encaixando o trambique como arte, e sem descer do salto conseguindo enganar quem passar na sua frente, ou seja, dá show de classe. E não menos importante, Alex Sharp conseguiu trabalhar trejeitos nerds, desenvolver atitudes emotivas bem gostosas e de uma forma bem clássica também conseguiu entregar para seu Thomas um desenho expressivo bem bacana de ver, o que acaba agradando demais, tirando o exagero das últimas cenas, mas aí é conversa para um segundo filme.

No conceito visual, a trama escolheu locações tão ricas e incríveis, que fica até difícil olhar somente para os personagens, com uma ambientação exótica, cheia de elementos bem trabalhados para mostrar a riqueza da trapaceira-mor, além claro de boas cenas no hotel, no trem e até em bares no começo do filme, de modo que mostra todo o trabalho técnico da equipe de arte para deixar a trama luxuosa para falar não dos pequenos 500-1000 dólares costumeiros que a novata costuma roubar, mas sim ir para os números com muito mais zeros que a experiente dama consegue fazer com nomes maiores também como senadores, bilionários, entre outros. Ou seja, um filme com um visual para se encantar, e claro também se divertir no famoso golpe do "Senhor dos Anéis" que até possui uma cena extra após os rápidos créditos para quem quiser esperar.

Enfim, é um longa com bons momentos, que é bem amarrado, mas que falha um pouco em fazer o público gargalhar como deveria em uma comédia realmente, mas que por ser leve, as sutilezas fazem com que nos divertíssemos na sessão, e isso já se faz por valer. Então recomendo a trama para quem gosta de comédias menos exageradas, que com leveza acaba fazendo boas sacadas e diverte, lembrando bem o estilo francês, mas se você já prefere longas mais impactantes de comicidade, certamente essa não será a melhor opção para conferir, pois vai acabar achando chato demais. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, já encerrando as estreias dos cinemas da semana, mas volto em breve com alguns textos de filmes das plataformas de streaming, então abraços e até logo mais.

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