Trem Noturno Para Lisboa

1/14/2014 01:05:00 AM |

Qual a receita para um bom suspense policial, prender a atenção do espectador e manter o mistério até o final. Se um filme conseguir isso e ainda ter tempo de contar alguma história que faça você se envolver e conhecer algo mais ainda, fica perfeito. Bem, "Trem Noturno Para Lisboa" possui tudo isso e ainda muito mais, só cometeu uma pequena gafe que até pode ser ignorada por muitos, mas que fica extremamente evidente, o longa se passa quase todo em Portugal, e no filme todos falam um inglês perfeito, sem quase um texto em português. Porém tirando esse detalhe, é um dos filmes de mistério policial sem mortes para todo lado que mais conseguiu prender minha atenção, e aliado à fotografias e cenários tensos, o longa se revela muito mais interessante no fechamento quando descobrimos algumas coisas que nem imaginávamos.

O filme nos mostra que Raimund Gregorius, afetuosamente chamado de 'Mundus' por seus alunos, é um professor de latim do ensino médio e um especialista em línguas antigas. Sua vida é transformada depois de um encontro misterioso com uma jovem portuguesa na antiga ponte de Kirchenfeld, na bela cidade suíça de Berna, que ele consegue impedir que salte para a morte nas águas geladas do rio. Raimund fica intrigado, mas a mulher desaparece, deixando seu casaco para trás. Dentro de um bolso, ele descobre um livro de um médico português chamado Amadeu de Prado, com uma passagem de trem no miolo. Ele decide usá-la espontaneamente, partindo para uma jornada de aventura em Lisboa. Enquanto procura pelo autor, Raimund revisita um capítulo sombrio da história do país e desvela um trágico triângulo amoroso. Ele é atraído para dentro de um misterioso quebra-cabeças onde os riscos são extremamente altos, cheio de intrigas políticas e emocionais. Por fim, sua jornada transcende o tempo e o espaço, tocando questões da história, da filosofia e da medicina, encontrando o amor e evoluindo para uma busca libertadora pelo verdadeiro sentido da vida.

Bom, exageraram na sinopse colocada, mas ainda assim continuamos com muitas intrigas para saber como tudo rola. E o que posso falar do diretor Bille August é que soube trabalhar essa instigação que o espectador costuma ter, logo no começo, dando apenas alguma pista simples a cada conversa no melhor estilo de RPG que muitos já jogaram, afinal a mulher do início dos jogos poderia falar tudo de uma só vez que você já acharia o portal mágico, mas não ela manda você para 800 lugares antes até dizer que era só olhar no alçapão embaixo dela. Usei uma referência meio fora dos padrões cinematográficos, mas acho que muitos já jogaram pelo menos uma vez um jogo desse estilo, e o que vemos no filme é bem nesse estilo, de ir andando, coletando conversas imaginando como tudo foi, claro que para o público isso aparece na tela, e montando até chegar numa grande notícia a qual ninguém com certeza iria imaginar logo de cara. Além disso o diretor soube trabalhar o elenco para ser misterioso no limite de não deixar ninguém com raiva de nenhum personagem, então tudo fica calmo e sensato para ir devagarinho até o momento exato de contar tudo. Agora, tudo bem que a maioria do elenco não é português de verdade, mas custava um filme que se passa em Portugal, numa época tão marcante para portugueses colocar os caras falando português já que o ator principal é um linguista e entenderia tudo que dissessem? Tem vezes que os caras erram de propósito só pode!

A atuação de Jeremy Irons é pontual, mostrando que o ator infelizmente já começa a demonstrar um certo cansaço por fazer quase sempre os mesmos papéis, pode até ser que a ideia era de ser um professor cansado e tudo mais, mas seu semblante sempre enrugado chega a dar desânimo para o personagem, pelo menos suas citações soavam gostosas de ouvir e com isso a interpretação pelo menos dos diálogos ficaram interessantes de sua parte. Jack Huston teve a chance nas mãos para se destacar nos momentos chave do filme, mas fazendo sempre seu gestual mauricinho demais acaba parecendo esnobe, e mulheres só se interessariam pelo dinheiro dele em qualquer vida real, mas no conjunto da obra até que agrada, poderia ter mais falas ao invés de tudo que diz ressoar na voz do professor. Tom Courtenay faz o papel mais português impossível, e cadê sotaque, cadê uma palavrinha em português, não o pobre sofreu toda a rebelião de Salazar por falar inglês, mas em quesito de interpretação visual manda bem demais. Os demais atores acabam tendo participações bem colocadas, alguns com bastante texto que daria pra destacar por terem feito um bom trabalho são Bruno Ganz, Charlotte Rampling e até alguns momentos de Christopher Lee. E poderiam ter melhorado a maquiagem se é que não poderia ser outra atriz de Lena Olin, que todos envelheceram, mas ela ficou quarentona enxuta.

Os cenários escolhidos para as filmagens foram de primeira linha, colocando Lisboa como pontos bem feios mas que se encaixaram perfeitamente para a trama da época, e o clima saudoso que ficou nas cenas atuais deram um ar meio noir para o filme. Sem contar que em todas as cenas foram colocados elementos chaves para dar continuidade nas pistas da trama, e sem isso um filme policial iria pro brejo. A fotografia usou um filtro um pouco escuro demais, deixando algumas cenas tão escuras que qualquer elemento secundário inexiste, claro que tudo era feito nas espreitas, mas poderiam ter trabalhado apenas com contraluzes que cairiam melhor para o clima.

Enfim, é um excelente filme que poderia ser muito melhor se tivesse tido alguns cuidados, não que eles tenham estragado o filme, mas deixaram de ficar com um longa perfeito por bobagens. Recomendo para todos que gostem do gênero e estão cansados da mesmice que sempre vem com filmes americanos, não que você não vá ver muitos clichês por aqui, mas são pelo menos mais comedidos. Quem for de Ribeirão Preto, o longa está em cartaz no Cine Belas Artes até quarta às 20hs, e continuará na próxima semana em horário ainda não definido, então aproveitem. Fico por aqui, mas ainda faltam alguns filmes para conferir nessa semana, então abraços e até breve pessoal.


2 comentários:

Anônimo disse...

Assisti uma tarde sozinho no Kaiser
Também gostei, muito bem feito com os fash back no tempo de cada personagem
Achei um pouco cansativo os poemas mostrados no livro do médico, para mostrar sua ânsias de liberdade, enfim 8 coelhinhos é perfeito . Abraço Roberto Glarner

Fernando Coelho disse...

Olá Roberto, nossa quanto tempo não nos trombamos nas salas hein!! Também achei isso dos poemas, mas é o normal de filmes europeus né, eles gostam de muito texto! Obrigado por comentar, e saiba que estou sempre passando lá pelo seu site. Abração!!

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