Globoplay - Olga (Ольга)

7/23/2022 01:18:00 AM |

Certa vez numa discussão com um amigo após uma sessão de um filme politizado falei que o cinema político costuma mais atrapalhar do que ajudar no resultado de como um país é visto, pois geralmente a opinião do diretor dificilmente acaba agradando a todos e com isso a parte artística da trama acaba enroscada e quase sumindo, então ou você faz um filme totalmente com um viés político ou faz um filme de arte, as duas coisas juntas é quase que uma certeza de dar errado. Comecei o texto do longa suíço-franco-ucraniano "Olga" dessa forma pelo simples exemplar de algo que aconteceu novamente, o filme ia bem na desenvoltura, mostrando os conflitos na Ucrânia em 2014 de um lado, e mostrando a jovem ginasta ucraniana promissora do outro sofrendo tanto para seus exercícios ficarem perfeitos na Suíça quanto por ter largado a mãe jornalista no meio da revolução e não estar fazendo nada para ajudar seu país de origem, e isso vai funcionando com um teor estressante bem envolvente, com uma pegada clássica e gostosa para quem curte o esporte, que sabe que os treinos são bem intensos, e também vendo o sofrimento no país com pessoas morrendo com as leis malucas do presidente contra o povo revolucionário, porém é necessário um fechamento de filme, e o diretor optou por algo quase que jogado, que até dá para entender a opção, mas que faz qualquer pessoa que está assistindo a brochar com a ideia, pois não tem um ápice, não tem um grande plano, mas sim um desabamento de ideias, para o mais fácil, e infelizmente o filme termina. Ou seja, não ficou incrível em nenhum dos dois sentidos, sendo um pouco melhor do que mediano, mas que poderia ter sido perfeito com um fechamento digamos revolucionário em um lugar mais chamativo, por exemplo com a protagonista fazendo igual a amiga, só que em um lugar maior, e não apenas do jeito que foi feito.

O longa nos mostra que é Olga é uma ginasta ucraniana de 15 anos exilada na Suíça, trabalhando para garantir um lugar na Seleção Nacional do Esporte do país. Porém, quando a revolta Euromaiden irrompe na Ucrânia, a ansiedade aumenta à medida que a sua família se envolve, a desgastando até mais do que os treinos de seu esporte.

Posso dizer que o diretor e roteirista Elie Grappe foi bem conciso na ideia completa de seu filme, pois com apenas 85 minutos ele desenvolveu bem ambos os lados conflituosos da vida da garota, mostrou suas ânsias e intensidades, e conseguiu um ápice bem marcante, porém como todo iniciante na cadeira de direção, ele se perdeu na forma de fechar o filme, pois seu filme merecia ter ido muito além de um final digamos bonitinho, mas sim algo imponente como a guerra/revolução que estava ocorrendo na Ucrânia em 2014, e isso é algo que numa sessão teste muitos pegariam e falariam para ele, mas não, já recaiu em Cannes, e lá o pessoal gosta de abstrações em fechamentos, de simbologias e tudo mais, e dessa forma o filme explode quase igual aquelas bombas que você acha que vai arremessar tudo para o alto, e apenas faz um barulhinho pequeno e desapontador. Não digo que o longa por inteiro é ruim, e até mesmo o final é algo digamos bacana de ver como a jovem pode ajudar seu país na reconstrução (algo que deve acontecer após a guerra que está rolando agora), mas merecia muito mais, ao menos na opinião desse que vos escreve, então vejam o filme, mas esperem algo mais calmo no final, pois senão o desapontamento é grande.

Não vou falar muito das atuações pelo simples fato de não termos realmente atores nos papeis principais, afinal como a maioria das cenas é em cima do treinamento das garotas, optaram por pegar realmente ginastas e colocar elas para fazer seus exercícios, saber cair mesmo que de forma bruta de uma maneira que ninguém deslocasse alguma parte do corpo, e assim o filme até que fluiu bem, com Anastasiia Budiashkina fazendo muito bem sua Olga, trabalhando trejeitos até que bem marcantes, e claro dando show nos aparelhos, de forma que suas explosões foram bem dirigidas para representar bem, e assim tem futuro como atriz, caso queira embarcar de vez no meio. Da mesma forma, a jovem Sabrina Rubtsova foi ainda mais explosiva com sua Sasha, criando momentos diretos e imponentes, sejam eles no tablet da protagonista, ou mesmo no campeonato, o que acabou sendo bem forte e ímpar de ver. Quanto aos demais, é claro que tivemos alguns atores, principalmente no caso dos familiares, mas nenhum realmente foi muito além a ponto de chamar atenção, de forma que o filme ficou misto entre as várias atletas das equipes e material documental real da revolução, e assim sendo o quesito expressividade não foi algo tão chamativo para o filme.

Visualmente foi bacana ver todo o centro de treinamento suíço, as várias cenas correndo no frio, toda a preparação fortíssima para os exercícios intensos, e claro a jovem vendo através de imagens tudo o que estava ocorrendo em seu país natal, ou seja, tudo é muito representativo na trama, desde os conflitos, até os campeonatos, incluindo um Natal junto dos avós paternos que a jovem praticamente nem conhecia, com as devidas rixas acontecendo na mesa. Ou seja, é um filme que a equipe de arte se formos ver a fundo trabalhou pouco, mas escolheram bem tudo o que foi mostrado na tela, e assim o resultado flui.

Enfim, é um filme que tinha tudo para ser incrível, que tem uma representação forte de uma revolução e claro o dilema de poder estar ajudando ou fugindo, mas que falhou demais no fechamento, que alguns até podem gostar mais dessa ideia crua e seca, mas para o meu gosto foi fugir da entrega realmente. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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