Praça Needle Baby (Platzspitzbaby)

8/28/2020 01:25:00 AM |

Sempre que um longa trabalha o tema de drogas acabamos vendo filmes duríssimos, cheios de situações fortes e impactantes, e que geralmente não queremos ver pelo lado marginalizado mais real do que fictício, porém quando um diretor sabe usar bem a linguagem para retratar tudo e trabalha ainda o carisma familiar para tentar salvar a pessoa das drogas ou ir para um rumo de vivência junto com algum viciado, o resultado costuma agradar bastante, e principalmente envolver se bem adequado. E o que certamente todos que conferirem, "Praça Needle Baby" (como traduziram o título) ou "A Garota da Praça das Agulhas" (como melhor ficaria), ou ainda com o nome original "Platzspitzbaby", seja agora no 8º Panorama Digital do Cinema Suíço ou quando estrear oficialmente em alguma plataforma, verão é uma trama que emociona pela força de vontade da garota de tentar tirar a mãe desse mundo, pela vontade de ter amigos que a reconheça fora do ambiente, e principalmente ser mais ela, pois tudo o que a garotinha vive é barra pesada de nível alto, e o diretor trabalhou meticulosamente para que cada ato fosse bem realista, bem tenso, e claro conseguindo ir para um lado abstrato de fuga da mente da garotinha em alguns atos, ainda teve a doçura de brincar com o amigo imaginário cantor que acaba brilhando com a música que a faz viver. Ou seja, é um filme muito forte, que é entregue de uma maneira bem consciente, e que agrada demais, ao ponto de valer cada minuto que fiquei brigando para conseguir passar ele na minha TV (a plataforma do SESC não é das melhores e para funcionar na TV deu um belo baile em mim), mas que compensou no final.

A sinopse nos situa na Primavera de 1995, aonde depois do fechamento da famosa Praça Needle, local público frequentado por usuários de drogas em Zurique, Mia, de onze anos, e sua mãe, Sandrine, mudam-se para uma pequena e idílica cidade nos arredores de Zurique. No entanto, a nova casa não é um paraíso para Mia, porque a mãe, que continua dependente das drogas, dificilmente conseguirá ter a sua custódia. A garota busca refúgio em seu mundo de fantasia com seu amigo imaginário, com quem conversa durante horas e faz planos para uma vida melhor. Mia também encontra uma espécie de família substituta na turma de adolescentes que têm uma origem semelhante à sua. Cada vez mais, ela ganha força para se rebelar contra sua mãe e, finalmente, consegue deixá-la.

O diretor Pierre Monnard foi preciso em cada ato da trama para detalhar a vida da garotinha num ambiente não tão agradável, mas que ela tenta amar, que tenta fugir em sua imaginação, e que de uma forma bem graciosa ele acabou fazendo um filme duro ficar gostoso e leve de assistir, pois certamente teria inúmeras maneiras de transportar o livro bestseller suíço de Michelle Halbheer e Franzisca K. Mueller, mas que ele optou por ambientar tudo em algo mais forte que é no meio dos drogados, com situações fortes e duras de busca de drogas, de overdoses e tudo mais, mas que com uma fuga bem ambientada na mente da jovem, nas suas desenvolturas junto dos amigos adolescentes, acabou fluindo para uma leveza mais doce e gostosa de se situar. Ou seja, o trabalho do diretor foi balancear bem cada momento para que o filme não pesasse, e que ainda fosse realista, pois se floreasse muito talvez não passasse a mensagem do mal que as drogas causam tanto para a pessoa, quanto para os seus entes próximos, e assim sendo vemos um filme muito singelo, sem economias de atos, e que funciona demais, sendo uma grata surpresa, mesmo com o final digamos esperado (que até poderia ter ocorrido muito antes para não brigarmos tanto com tudo!).

Sobre as atuações, basicamente o filme é da garotinha Luna Mwezi, que mostrou dinâmicas interpretativas, foi doce e precisa em todos os momentos que necessitaram dela, encontrou formas de ser carismática sem precisar apelar para nada, e principalmente trabalhou sua Mia como alguém que quer o melhor para sua mãe custe o que custar, de forma que por ser seu primeiro trabalho em filmes a jovem foi muito além do que se esperava e deu show, agradando do começo ao fim, sem falhar em um trejeito sequer. Sarah Spale também foi muito bem com sua Sandrine, trabalhando intensamente nas cenas fortes, fazendo atos de vício imponentes e duríssimos, colocando olhares vazios, desespero nos trejeitos, e principalmente dosando a intensidade de cada momento para ficar o mais realista possível, ou seja, foi perfeita no que fez e ainda teve momentos doces bem colocados para complementar a oscilação que é costumeira em pessoas viciadas. Quanto aos demais, tivemos momentos muito bem colocados com todos os adolescentes do grupo da garota, destacando claro Anouk Petri como Lola, que trabalhou tão bem os sentimentos, que em seu ato mais duro chegamos a ficar com raiva da protagonista, ou seja, a jovem caiu bem no papel e chamou atenção, e além dela temos de destacar o músico Delio Malär como o amigo imaginário, que envolveu e foi algo meio que fora do comum, mas que acaba sendo gracioso e bacana com suas virtudes para tentar mostrar o caminho certo para a garota.

Visualmente a trama foi bem bonita e perfeita na composição cênica para mostrar tudo para o público, desde como acaba virando um apartamento de um viciado, que inicialmente até era simples, mas parecia um lar, mas próximo do final tudo está destruído, jogado para todos os lados, com colchão queimado, roupas espalhadas e sujas, comidas para todos os lados, além disso vemos os diversos pontos espalhados de drogas pelo país, o desespero para se conseguir, os antros e tudo mais muito bem montado pela equipe de arte para funcionar e não pesar, principalmente nos tons mais escuros e intensos que o filme pediu. 

Enfim, é um filme muito bem feito, daqueles que emocionam e arrepiam em diversos momentos, e que também passa uma mensagem forte sem precisar apelar, ao ponto de podermos indicar ele para todos, e ter a certeza de que quem conferir irá gostar, não sendo algo de gênero propriamente preso, e nem um filme artístico demais que o público mais comercial não irá gostar. Ou seja, indico ele com toda a certeza, e posso dizer que o Panorama Suíço começou muito bem, agora é torcer para os demais serem bons também, e para quem quiser ver esse filme gratuitamente vai ter de correr um pouco, pois é só até as 20hs de hoje nesse link. Bem é isso então pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve tanto com as estreias do streaming, quanto com mais filmes do Panorama, então abraços e até logo mais.


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