Alabama Monroe

10/09/2014 02:34:00 AM |

Sei que já assisti diversos filmes, mas alguns me dá tanta raiva de ver meses após sua estreia oficial que não tenho sensações para expressar. E "Alabama Monroe" é mais um que entra para essa seleta lista, pois quando foi indicado ao Oscar no começo do ano, jurava que estrearia ao menos em alguma sala pelo interior, e somente agora com o Festival de Cinema de Ribeirão Preto tivemos o privilégio de poder ver esse maravilhoso filme belga. Muitos podem até achar que tudo que é mostrado no filme seria uma novela de 1 capítulo só, mas o que acabou diferenciando tanto ele, foi sua montagem totalmente quebrada onde a qualquer momento podemos ver o fim do filme, e logo em seguida o começo, depois meio e por aí vai, e por mais incrível que se possa imaginar, isso ficou lindo de ver e emociona de uma forma totalmente diferenciada com canções belíssimas e ideologias duras de aguentar. É algo único que precisa ser visto para acreditar no que estou dizendo.

O filme nos mostra que Elise e Didier se apaixonam à primeira vista, mesmo sendo pessoas muito diferentes. Ele é um músico romântico e ela a realista dona de um estúdio de tatuagem. Apesar das diferenças, o relacionamento dá certo e eles têm uma filha, Maybelle. Aos seis anos a menina fica gravemente doente e a família se desestabiliza.

O que é notável no filme é que o diretor Felix Van Groeningen nem quis saber de fazer algo ameno, foi colocando sofrimento em doses homeopáticas e trabalhou em diversos momentos o conteúdo musical para dar uma suavizada apenas, claro que usando do ritmo country que chamam de bluegrass que faz quase os instrumentos chorarem de tanto sofrimento. E com essa vertente mais dolorida, o filme comove ao trabalhar o câncer, religião e amor tudo  num único pacote, mas se você for esperando ver um filme bonitinho vai cair do cavalo, afinal temos cenas acontecendo em uma ordem completamente fora dos eixos que se ainda tivéssemos projeção 35mm iríamos certamente reclamar com o projecionista, pois teria montado o filme errado, mas aqui é de fábrica assim, e o que com muita certeza esse Coelho chato reclamaria, acabou achando genial, afinal deu um ritmo completamente diferenciado que nos envolve e quando tudo está perdido, nos vemos torcendo por algo que já mostrou estar ferrado, então estamos apenas aguardando o acontecido já sabendo o que houve, e isso ao menos ameniza o choro continuado durante toda a projeção.

Os protagonistas trabalham tão consistentemente na trama que quase não notamos a existência de outros atores, inclusive na banda aonde temos outros elementos tocando e cantando com eles. Veerle Baetens ao mesmo tempo que possui uma voz doce e suave tanto para cantar como para colocar na imposição de sua personagem, mantém uma postura sólida e firme perante as situações, apenas se derrubando no momento exato em que a trama pede, mas mesmo nos momentos mais duros, suas expressões beiram a perfeição com uma nitidez ímpar. Johan Heldenbergh é literalmente um cowboy que não conseguimos ver ele de outro jeito, incorporou o personagem e até mesmo nos seus momentos de cântico romantizado, o que vemos ali é um vaqueiro com boas expressões, claro que no seu momento surto ficamos impressionados com o que faz, mas na maior parte do filme a tenacidade é sua maior característica. Agora o destaque mesmo que com poucos diálogos é para a garotinha Nell Cattrysse que deu um show de fofura e não quero nem pesquisar se foi maquiagem ou se a família foi maluca o suficiente de deixar que cortassem todo seu cabelo da forma que foi feito, pois ficou incrível a atuação da jovem nos momentos mais duros e impactantes, sinceramente é de chorar ver uma criança sofrer com a doença.

A direção de arte escolheu bem as locações tanto para realçar o ambiente rural que a família vivia, quanto para mostrar a tristeza que é uma área hospitalar voltada para o câncer, e utilizando de poucos, mas bem encaixados elementos, a sintonia de cada parte acaba nos envolvendo e mostrando tudo que deve. Além das partes onde ocorrem as apresentações musicais serem teatros bacanas e bares onde a banda pode se destacar com os elementos mais importantes que eram os instrumentos e as vozes dos integrantes. A fotografia trabalhou com alguns tons opacos para realçar sofrimento, puxou a cor para o laranja avermelhado nos momentos mais tórridos tanto de amor quanto de brigas e jogou para o cinza escuro com chuva claro (existe clichê maior?) para as cenas dramáticas onde o clima fica ruim.

Com boas canções, onde os protagonistas botaram o gogó para fora, o ritmo do filme nos envolve com um estilo musical não muito frequente nos cinemas, e isso acabou ficando bem interessante de acompanhar na trama, dando uma característica bem diferenciada do usual.

Enfim, um excelente filme que vale muito a pena conferir, e se antes já estava curioso com o ganhador do Oscar que também não estreou aqui, agora fiquei mais ainda, pois se esse aqui perdeu pra ele, deve ser algo sensacional. Recomendo muito ele para todos, mas aqueles que perderam algum parente devido ao câncer talvez vai ser meio dolorido assistir ao longa. Bem é isso pessoal, acabou o Festival de Cinema de Ribeirão Preto, mas logo mais volto com as estreias dessa semana. Então abraços e até breve.


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