Lincoln

1/25/2013 11:03:00 PM |

O que dizer de um filme de quase 3 horas que não possui uma pausa sequer nos diálogos? Pode variar entre o excelente para aqueles que amam filmes lotados de história e diálogos num bom roteiro, como pode se tornar extremamente cansativo para aqueles que forem cansados para o cinema esperando ver o mega indicado pelo Oscar filme de Steven Spielberg. O fato é que "Lincoln" é um filme americano feito nos maiores moldes patrióticos para todos americanos aplaudirem de pé e só, pois para pessoas normais como fui numa sessão com poucas pessoas o que se via era a ânsia por acabar para poder ir embora visto que o desfecho da história parecia não sair de forma alguma. Mas o elenco de peso soube conduzir a história com toda a força possível para que tivéssemos ao menos algo pelo menos interessante para quem não conheça a história da abolição da escravatura americana contada de forma mais pessoal do que histórica mesmo.

O longa pode ser resumido como a cinebiografia do 16º presidente norte-americano que liderou o Norte dos Estados Unidos na vitória durante a Guerra Civil.  O longa enfatiza os tumultuados meses finais do presidente no cargo. Em um país dividido pela guerra e varrido por fortes ventos de mudança, Lincoln segue estratégia para encerrar a guerra, unir o país e abolir a escravatura. Com coragem moral e determinação férrea de vencer, suas escolhas nesse momento crítico mudarão o destino das gerações futuras.

A história em si, para quem gosta de política pode sair do cinema apaixonado pelas sessões na câmara dos deputados americanos, que pra mim é onde estão as cenas mais bacanas do longa, não desmerecendo as demais. Porém o problema é que como o filme é extremamente dialogado, embora tenhamos visuais de época muito bem encaixados e colocados na trama, não temos um alívio na tensão das palavras, não temos aquele tempo de refletir sobre algo que foi dito, sendo tudo jogado para nós, principalmente os não americanos que por sua vez não conhecem bem a história dos EUA que querem saber algo a mais sobre o que ocorria. Vemos deputados discutindo política com o presidente, que por sua vez tenta negociar votos, que vai para campo de guerra e ficamos sendo acelerados a todo momento sem parar para ver o que está acontecendo. Não digerimos o filme e sim somos digeridos pela quantidade de textos e personagens que nos são colocados a todo momento de modo que mesmo gostando de tudo que nos é apresentado, saímos do filme pensando se realmente gostamos ou se apenas suportamos tudo que Spielberg tentou nos mostrar. A forma que dirige o longa com planos bem montados e sempre trabalhando não necessariamente o plano e contra-plano tradicional é algo bacana de se observar e sua condução, principalmente junto com o trabalho perfeito da fotografia, ele consegue nos emocionar numa crescente que tem seu clímax na cena de votação. Mas o diretor que já teve ótimos momentos no cinema, aqui acredito que fez apenas um trabalho para enaltecer o que mais gostam de enaltecer em filmes americanos: o seu próprio ego.

O ponto forte do longa, além do roteiro claro, principalmente pela quantidade de diálogos inseridos, é a atuação que o elenco fantástico pode nos proporcionar. Daniel Day-Lewis com toda certeza leva seu 3° Oscar, pois você não vê o ator no longa, e sim o personagem em todos os momentos, esquecemos com 10 minutos de atuação qualquer outro personagem que o ator possa ter feito em sua carreira(mesmo fazendo pouquíssimos filmes), o que ele nos proporciona é uma introspecção na alma de Abraham Lincoln colocando uma entonação na voz e trejeitos na interpretação que mesmo nunca tendo visto uma imagem real de Lincoln em movimento, já que não tínhamos TV em  1865, podemos afirmar quase que com certeza que ele era dessa forma. Tommy Lee Jones está impressionante também, colocaria como sendo sua melhor atuação disparada, pois a forma que construiu seu personagem é algo de parar e falar "Nossa!". pois a cada momento ele vai num crescendo no longa que ao final estamos 100% torcendo para que faça tudo, e seu fechamento é de uma grandeza que se o filme não fosse focado em Lincoln e sim na abolição da escravatura, eu fecharia com sua cena e todos levantariam aplaudindo. Sally Field possui algumas cenas que mostra o motivo de ter sido indicada aos prêmios, mas seu papel não é algo que nos faça vibrar ou torcer por ela, acaba meio que sumindo da história tendo apenas 3 ou 4 cenas que apareça e nelas sim mostra a boa interpretação que é capaz de fazer. James Spader poderia ser considerado embora bem pequeno, o alívio cômico do filme, e faz bem feito nas cenas que está presente colocando uma interpretação carismática para seu papel, possui também algumas cenas que com certeza foram cortadas do longa e o que acabou ficando acaba parecendo jogado, mas no geral agrada bem. Joseph Gordon-Levitt não mostrou nada para o longa, tirando a cena que vê pedaços de corpos sendo jogados fora, é um personagem que diria inútil para a trama e poderia ter ficado apenas nas falas dos atores principais. Poderia passar horas falando de cada personagem aqui, mas como são muitos, visto que como disse a cada momento nos é colocado um novo político na trama, apenas digo que todos fizeram bem o dever de casa.

Outro ponto fundamental para que o longa fosse aclamado está na direção de arte, que faz um visual de época muito bem trabalhado tanto em locações e cenários quanto na parte de figurino e maquiagem. O que vemos em cena, claro que nos momentos que conseguimos dar uma escapada dos diálogos, são detalhes minuciosos que só têm a engrandecer a produção magnífica por trás do longa. E mesmo a quase todo momento sendo mostrado onde os personagens estão conseguimos engolir perfeitamente que ali é realmente aquilo que mostra, trazendo tudo para um âmbito bem visual característico dos filmes que Spielberg dirige ou produz. Como já enalteci antes, a direção de fotografia é sem dúvida um dos melhores pontos do longa, trabalhando com sombras a todo momento, conseguimos ver mais do que um personagem, mas sua alma e seus ideais transparecendo com uma energia e uma luz que domina o plano. A cena pós-votação que volta para onde Lincoln está é o show máximo que a fotografia poderia colocar tanto para enaltecer egos quanto para falar somos bons mesmo.

A trilha de John Williams está muito bem colocada, mas diferente do que costuma fazer nos filmes que trabalha junto com Spielberg, ela não é tão evidente, ficando mais de condução apenas e menos de emoção e ritmo para o filme, o que com certeza falta um pouco, pois quem for cansado ver o longa pode levar a coberta pro cinema que vai dormir com muita garantia.

Enfim, é um bom longa, que está sendo falado demais por ter toda a gama patriótica que contém por trás dele, aqueles que curtem uma boa dose de política e um roteiro completamente focado em diálogos com certeza irá sair do cinema muito feliz, mas quem não é adepto disso irá ou dormir ou sair do cinema reclamando de tudo. No geral gostei bastante do que vi, mas acabei um pouco cansado esperando que tivesse pelo menos, mais momentos de respiro e isso com certeza fará com que muitos não gostem. Quanto ao Oscar ainda não sei no que opinar senão Daniel Day-Lewis do resto acho muito pouco provável que leve outros prêmios. Fico por aqui hoje, mas ainda nesse final de semana, mais filmes estarão por aqui conferidos e comentados, então abraços e até breve pessoal.


2 comentários:

Valérie Roberto disse...

Fernando, eu juro que não sei se gostei ou não rsrsrs. Muitos diálogos como vc disse, mas não tem como não amar Lincoln de Daniel Day-Lewis. Ele é tudo isso que vc falou e muito mais. Ele passou todo aquele peso da responsabilidade de governar uma nação que nascia, toda a humildade de quem não está acostumado as luxos do governo, todo o poder da palavra, ao contar um simples "causo" e todo mundo parar para ouvir. Me fez desejar estar lá, conhecer de perto este Governante.

Uma analogia ou uma "mensagem subliminar" com o atual governo de Obama? Pode ser...

Tommy Lee Jones perfeito! Concordo, sua cena final é de se aplaudir em pé, chorei bonito! rsrs

Sally Field demonstra uma primeira dama com um peso em suas costas muito grande e sem muito controle emocional para suportá-lo. Ela é o contra-ponto a toda maturidade e controle do Lincoln. Talvez para mostrar que nem tudo são flores na vida do governante carismático como ele.

Acho que é isso. Valeu muito a pena. Tinha até me esquecido que era um filme de Spielberg.

Abçs

Fernando Coelho disse...

Falou tudo Valérie!!
Esquecemos que é um filme do mestre Spielberg, que como sendo produtor prefiro mais ele como produtor do que como diretor, claro que alguns irão discordar, mas ele sabe como fazer um filme meia boca e transformar numa mega produção. Não é o caso aqui que soube dirigir de uma forma perfeita os atores que já eram excelentes e saíram melhores ainda e também o roteiro é excelente(dizem alguns que leram o livro que é melhor ainda).
Abraços e continue sempre incrementando aqui para discutirmos sempre, pois esse é o intuito do blog!

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