Netflix - Tempo de Caça (Sa Nyang Eui Si Gan) (Time To Hunt)

4/26/2020 02:24:00 AM |

O cinema sul coreano sempre teve grandes obras interessantes, mas não tinha tanta divulgação/distribuição, mas com o sucesso de "Parasita" agora certamente veremos mais longas imponentes do país aparecendo por aqui, e eis que o novo lançamento da Netflix, "Tempo de Caça", já traz no elenco o jovem do filme premiado, trabalhando em um país praticamente destruído, aonde um crime simples, porém forte de amigos acaba virando uma caça sem rumo, aonde todos precisarão lutar por sua vida. A ideia é bem interessante, temos atos fortes, temos uma história bem contada e montada, só acaba sendo meio louco o caçador sair sem rumo atrás deles, não colocando uma meta do que ele deseja (a não ser matar todos), mas ainda assim ficamos tensos com vários atos, e até torcemos pelos jovens conseguir ir para um lugar melhor, o caso é se conseguirão chegar lá vivos. Diria que o longa tem um pouco de vários outros filmes que já vimos, mas ao ser tratado como um filme mais denso, acabamos curtindo ele de uma forma diferente. O único porém do longa é que ele é levemente arrastado, pois o assassino quer brincar com sua caça (no caso os jovens), e assim o filme de 135 minutos parece ter até mais tempo de tela.

A sinopse nos situa em um suspense distópico cheio de ação e ambientado na Coreia do Sul pós-capitalista de um futuro próximo, aonde depois de três anos na prisão, Jun-seok convence seus companheiros a roubar um cassino. O assalto é bem sucedido, mas então os jovens bandidos se tornam os caçados.

O diretor Sung-hyun Yoon soube desenvolver sua história segurando cada elo, conseguiu deixar ao mesmo tempo o filme violento e humano, e com um ar futurista sem exagerar em algo muito além ele trabalhou o tema da desvalorização do dinheiro, do desespero de conseguir ter algo, e ter alguém para confiar suporte, de forma que acabamos mesmo que os jovens sejam ladrões criar um carisma em cima deles. Ou seja, é um filme que tem uma abrangência forte, que trabalha temas pesados, e ainda assim passa mensagens num mundo maluco que estamos vivendo, e quem sabe o que irá acontecer num futuro. Outro grande acerto do diretor foi criar tomadas rápidas, pois volto a frisar que é um filme longo que parece não ter fim, mas com a dinâmica rápida dos personagens, toda a história se amplia, e isso deu um tom bem trabalhado e interessante de ver.

Se o diretor soube dar carisma para os personagens, é claro que as atuações de todos foram bem encaixadas, e isso é algo que tem mudado muito o conceito dos atores orientais para nós, pois antes ou eram vistos como personagens exageradamente sérios ou lutadores, e com esses estilos mais dramáticos estamos vendo todo tipo de personalidade nos jovens atores atuais. Lee Jehoon trabalhou seu Jun-seok com muita garra e ao mesmo tempo que se mostrou um sonhador, também mostrou dinâmica para com as armas e claro defendendo sempre que possível seus amigos, e o ator jovem teve bons atos para se mostrar, segurou o protagonismo e foi bem até o fim, que soou exagerado para talvez ter uma continuação, mas foi correto no que fez ao menos. Woo-sik Choi ficou muito famoso pela dinâmica de seu personagem em "Parasita", e por todos os demais filmes sul-coreanos que tem estourado por aqui ("Okja", "Invasão Zumbi", entre outros) e daqui a pouco vão perguntar se só existe ele na Coréia do Sul de ator, mas o jovem é bom demais de trejeitos, possui um carisma fora do comum e tem destreza de inverter os problemas de seus personagens para o ambiente todo, tanto que aqui seu Ki-hoon é o único com família na trama, e ele com muita destreza traz esse ambiente familiar para o grupo de ladrões, consegue criar envolvimento e agrada demais, ou seja, dá show também. Jae-hong Ahn trouxe o famoso gordinho para o crime também, coisa rara de vermos, e seu Jang-ho consegue comover até o fim, com uma cena marcante e muito bem trabalhada, mostrando que seu personagem não era mero enfeite em tudo. O caçador Han vivido por Hae-soo Park é daqueles que não morre de forma alguma e que sabe até onde você respirou para te achar, fazendo quase que trejeitos de "O Exterminador do Futuro", e indo pra cima com toda força dos protagonistas, e embora dê muita raiva do que faz, ele foi muito bem em cena. Quanto aos demais a maioria foi encaixe cênico, desde o traficante de armas que tem um irmão gêmeo (algo meio bizarro que arrumaram para fechar a trama!) até o jovem do cassino que ajuda no roubo por ser conhecido do protagonista, e nenhum teve lá grandes expressões para valer um destaque.

No conceito visual, a trama foi bem inteligente em criar um futuro distópico, com uma Coréia destruída pela quebra da moeda local, com partes inteiras da cidade destruídas e abandonadas, outras com protestos frequentes, vários cassinos clandestinos escondidos trabalhando só com dólar, e claro muitas armas, com pessoas dando tiros dentro das casas, cidades inteiras abandonadas na beira-mar, e claro muita violência, com ares fortes, fumaças, neblinas e tudo mais para criar um clima forte e intenso, ou seja, cada detalhe conta para a trama, desde a bombinha de ar de um dos protagonistas, até os carros elétricos cheios de efeitos. Ou seja, é um filme de baixo orçamento, mas que foi moldado de uma maneira forte e bem colocada, que faz o público enxergar algo a mais do que só a violência dos personagens, mas a possibilidade de um futuro daquela maneira e não com carros voadores como imaginávamos nos filmes antigos.

Enfim, é um filme bem denso, com propostas marcantes e com uma pegada bem trabalhada em cima de dinâmicas, com ações fortes, porém contidas, e com uma desenvoltura digamos alongada, pois o filme parece ser muito maior do que sua duração. Ou seja, é daqueles que quem gosta de um bom filme de tiros, de dramaticidade, de roubos e fugas vai gostar bastante, mas com a ressalva clara de que o cinema sul coreano é totalmente diferente do usual que muitos costumam ver, então mesmo aqui tendo um tino mais comercial não vá esperando ver um longa do mesmo estilo e formato americano. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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