Netflix - Sergio

4/19/2020 02:54:00 AM |


É engraçado como lembramos de coisas que estudamos tanto de outras épocas mais antigas, mas não lembramos de fatos que ocorreram há 17/20 anos, e para isso claro surgem algumas biografias incríveis que conseguem entregar filmes belíssimos e muito bem feitos. Digo isso, pois, o longa "Sergio", que estreou na Netflix, será daqueles que certamente ficarão na mente de quem não lembrava da história do atentado em 2003 na sede da ONU, e ao entregar uma montagem completamente diferente, cheia de momentos espalhados, diversas ações fortes de diplomacia e discussões acaloradas, juntamente com um romance bem bonito de ver, isso tudo sendo lembrado debaixo de escombros é para emocionar, envolver, e entender um pouco mais das missões da ONU, e claro motivos fortes de a entidade desde aquela época brigar ferozmente com diversos países. Ou seja, um filme cheio de nuances bem feitas, dirigido e atuado com uma precisão cirúrgica de bons momentos, e que com uma produção primorosa certamente merece ser lembrado em premiações mundo afora, pois ficou perfeito.

O longa nos entrega um drama arrebatador que se passa nas caóticas consequências da invasão americana do Iraque, onde a vida do alto diplomata da ONU Sérgio Vieira de Mello está em jogo durante a missão mais traiçoeira de sua carreira.

Em sua primeira ficção, o documentarista Greg Barker mostrou um pouco do que já fez, afinal documentários são biografias sem enfeites, e aqui apenas trabalhou o lado sentimental, as nuances e envolvimentos dos personagens, e que junto de uma montagem incrível acabou desenvolvendo a trama baseada no livro de Samanta Power com algo tão preciso que acabamos conhecendo bem mais a história desse brasileiro que desejava melhorar o mundo aonde pisava, enfrentando até mesmo os líderes mais rebeldes e ricos, ou seja, souberam utilizar tudo de bom (e também de ruim, afinal foram felizmente bem imparciais em alguns momentos para mostrar também o ego, os erros com a família, entre outros) que o personagem fez e criaram um personagem que teve carisma suficiente para envolver a todos, com uma história forte, falada em várias línguas, e que com uma dinâmica precisa de estilos acabaram desenvolvendo sem pensar em regras e moldes, de forma que o filme sai completamente da caixinha, e mostra bem a diferença entre um diplomata e um homem verdadeiro, num resultado perfeito de ver, e que até vale a torcida para cair em alguma premiação mundo afora.

Sobre as atuações, todos sabemos do potencial de Wagner Moura em qualquer filme que faça, e aqui deu um tom tão bem colocado para seu Sérgio com uma postura elegante, uma força nos trejeitos tamanha, uma precisão de falar em quatro línguas diferentes quase que em sequência, trabalhou as dinâmicas do personagem em todas as cenas para poder entregar paixão e força no que fazia, e a cada ato se erguia mais ainda nas atitudes coesas para que o personagem ficasse como alguém fora do comum, ou seja, foi perfeito do começo ao fim, e agradou demais. Olha, não sei onde essa Ana de Armas estava escondida, pois se nos outros filmes que fez ela estava bem sem sal e usando expressões bem simples, aqui a jovem se entregou de corpo completo para o papel da argentina Carolina Larriega, com dinâmicas expressivas belíssimas, com uma postura certeira para todas as cenas, e claro com muita emoção nos olhares tanto apaixonados quanto de desespero nas cenas finais, ou seja, acertou bem demais. Brían F. O'Byrne também foi certeiro demais nos atos de seu Gil Loescher, de modo que a parceria e a química dele junto do protagonista é algo tão marcante, que no momento em que Sérgio fala que Gil seria sua consciência vemos no olhar que os dois trocam aquela amizade precisa e certeira que poucos atores conseguem demonstrar, ou seja, um lorde perfeito para o clima do filme. Clemens Schick embora apareça menos com seu Gaby Pichon também foi certeiro no estilo do personagem, colocando dinâmicas e atitudes coesas para a equipe do diplomata ao ponto de tudo coexistir junto. Ainda tivemos outros bons personagens menos chamativos na produção toda, mas que tiveram atos bem fortes, como dos socorristas do exército tentando tirar os sobreviventes com olhares fortes e bem colocados de forma que acabamos nos conectando com eles, e também tivemos o imponente Bradley Whitford fazendo o temível Paul Bremer, que muitos dizem ter sido o responsável por muitos erros no Iraque, e que mesmo aparecendo em poucos momentos foi bem chave para o filme.

Quanto da parte cênica da trama, tivemos locações incríveis na Jordânia que representou Bagdá, no Rio de Janeiro e na Tailândia que acabou representando o Timor Leste, com cores bem representativas em cada um dos atos, usando muito material de arquivo também para realçar alguns pontos, escolhendo certo o visual da época, os momentos certeiros para dar o ar romântico entre os protagonistas, e sabendo encontrar detalhes até onde não existiria para representar tudo, de modo que até mesmo as cenas debaixo dos escombros tiveram seu luxo, e o acerto da equipe de arte acaba sendo notável demais em todos os atos. A fotografia conseguiu encontrar praticamente três grandes paletas de cores para dominar os atos fortes e tristes da trama, outro para os momentos alegres e românticos, e ainda os lados de lembranças/imaginações/delírios do protagonista debaixo dos escombros, de forma que vamos sentindo a força visual em cada um deles pela ótima escolha de tudo, ou seja, um filme forte, muito bem produzido, que para um drama foram muito além em tudo.

Enfim, é um filme denso, porém muito gostoso de ver, aonde sentimos cada momento, e que claro recomendo não ser visto dublado, afinal a grande sacada aqui além de todo o contexto é ver o protagonista falando em diversas línguas com cada personagem diferente. Ou seja, um filme que vai muito além da história do personagem, que consegue passar uma mensagem forte, e que mostra muita precisão por parte de toda a equipe, pois o filme acabou aparentando ser até maior que a própria biografia do homenageado. Sendo assim recomendo ele para todos mesmo com uma ou outra falha, e caso tenhamos premiações (o que já está ficando bem difícil de imaginar com o mundo da forma que está!) irei torcer muito para a trama. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.

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