O Amante De Um Dia (L'Amant D'un Jour) (Lover For a Day)

12/15/2017 01:07:00 AM |

Diria que os franceses também sabem fazer novelões mexicanos/argentinos aonde a trama gira em torno de um ou mais personagens, com uma ideologia romantizada, porém dando leves pitadas machistas, outras sexistas, num clima noir todo em preto e branco e uma velocidade bem lenta para que o público se envolva na história e acabe se encontrando no que a trama deseja mostrar. Com isso em mente, não digo que "O Amante De Um Dia" seja um filme perfeito, pois cansa deveras com algo que de forma simples poderia ser muito melhor, mas também passa longe de ser algo ruim (como acontece com muitos filmes novelescos), pois a essência estética juntamente com o ar sexual que o diretor conseguiu imprimir acaba envolvendo e sendo satisfatório. Ou seja, é um filme razoável, que por pouco a filha do diretor não acabou estragando com uma atuação bem mediana depois de um começo lastimável aonde precisa aprender a chorar com urgência!

A história nos mostra que uma jovem acabou de tomar uma difícil decisão, mesmo com partes de sua mente negando a atitude. Isso porque, ainda ressentida com problemas do passado, ela acaba de retornar para viver com seu pai, após uma ruptura traumática tempo atrás. O problema é que, ao encontrá-lo, percebe que agora ele vive com uma mulher da mesma idade que ela.

Certamente a França é o país que mais oscila no estilo romantizado dos seus diretores, que enquanto uns pegam um tema e retorcem com doçura, outros acabam indo por um vértice mais estiloso e com nuances mais puxadas para o lado artístico antigo e que fazem de suas histórias mesmo curtas, um pano de fundo imenso para que tudo possa chamar atenção. E se tem alguém que faz muito isso é a família Garrel, que aqui com Philippe Garrel dirigindo e roteirizando e sua filha Esther interpretando a protagonista, temos um longa que vai permear as mentes e entregar uma história "romântica" de sofrimento por amor, e claro sexo desenfreado. Não posso dizer que o estilo de Philippe seja o mais adequado para a trama, pois talvez pudesse desenvolver a arte de uma outra forma, talvez contrapondo mais as mulheres, e problematizando mais os homens também, mas acabou simples demais, e alongado demais, de modo que seus 76 minutos parecem muito maiores do que são, ou seja, cansou aonde poderia agradar.

Sobre as atuações, tivemos praticamente um misto de bons e maus momentos de todos os protagonistas, começando por Esther Garrel com seu choro de nível mais amador impossível logo no começo da trama com sua Jeanne, e depois sua tentativa de suicídio meio que falseada, mas nas cenas com diálogos, a jovem conseguiu demonstrar uma dinâmica bem colocada e agradar com um semblante bem marcado. Éric Caravaca trabalhou seu Gilles bem encaixado num estilo de pai perdido com amante amoroso demais, e com isso ficamos na dúvida de até onde sua personalidade poderia chegar. Louise Chevillote trabalhou sua Ariane de um modo bem moderno cheio de instintos, misturando até um ar materno em algumas cenas para com uma garota da mesma idade, e com isso foi ousada e certeira até mais da metade do filme, mas não encontrou um final mais convincente e acabou fraca. E quanto os demais, a maioria foi só romance e relação rápida mesmo.

As locações foram simples, mas efetivas para o momento da trama, de modo que nem notamos muitos detalhes nisso, deixando que o texto falasse sozinho e a fotografia dominasse em cena, ou seja, a equipe de arte praticamente não precisou trabalhar. Agora quanto da fotografia, o uso de preto e branco foi algo mais como estética para criar o ar noir romanceado, usando algumas ranhuras e sujeiras para dar um estilo mais antigo para a trama, deixando sim o filme bonito visualmente, mas nada que impressionasse de técnicas de contraluzes, sombras e tudo mais, ficando quase algo mais convertido do que realmente filmado em preto e branco.

Enfim, é um filme curto, mas que entrega bem o material proposto, e talvez alguns leves macetes e melhores atores trariam para o filme um vértice bem diferenciado que agradaria bem mais. Volto a falar que não é ruim, apenas poderia ser bem melhor. Recomendo ele com ressalvas do ritmo um pouco lento para algo que arde com as paixões e sofrimentos, mas com certeza conheço muitos que vão gostar do estilo entregue. Bem fico por aqui por agora, mas volto em breve já com o outro texto da noite, então abraços e até logo mais.

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