Altas Expectativas

12/10/2017 11:02:00 PM |

Essa semana basicamente está sendo um teste para vermos os diversos estilos de comédia no cinema, desde o mais escrachado, passando pelo exagerado sujo, e terminando com o romantizado, que por vezes acaba sendo o mais desprezado dentro do cinema nacional, mas que ao trabalhar com muita sutileza uma mistura quase novelesca com comédia stand up, o resultado de "Altas Expectativas" conseguiu ser singelo e gostoso de acompanhar, e que mesmo falhando principalmente no quesito expressividade, consegue agradar e entregar algo bonito ao menos, mostrando como foi, de maneira adaptada, a relação inicial de Gigante Léo com Carolina Portela. Ou seja, um filme leve que mesmo com muita simplicidade conseguiu transmitir uma beleza romantizada e divertida, mas que poderia muito mais se não tivessem trabalhado tanto nos cortes mistos entre filme e show do Leo, que aí sim teríamos algo muito melhor.

A sinopse nos conta que Décio, um treinador que trabalha no Jockey Club Brasileiro, se apaixona à primeira vista por Lena, uma jovem que recebeu como herança um empreendimento endividado no clube. Tímido, ele não tem coragem de se declarar, mas acaba sendo convencido por amigos a se aproximar pelo humor, fazendo a melancólica moça aprender a sorrir.

O trabalho feito pelos diretores Pedro Antonio (que já mostrou uma mão bem singela com "Um Tio Quase Perfeito") e Alvaro Campos (que fez o curta em que o longa é baseado "Leo e Carol") mostrou que nem sempre é preciso exagerar para divertir, pois alguns romances já soam engraçados pelo estilo, e sabendo trabalhar o momento, com uma ideia fixada, o resultado de algumas sutilezas resultam em um bom filme. Claro que há estilos e formas, e algumas vezes a trama quase raspou de virar um novelão, com muitas esquetes soltas e personagens tendo momentos separados, mas souberam controlar tudo e no final o resultado acabou soando bonito e interessante. Claro que como disse, a edição não ajudou o longa a ficar mais perfeito, pois todos sabemos que Leo é humorista stand up e tem um show bem bacana, mas ficar colocando a todo momento seu show de piadas no meio da trama acabou deixando quebras demais, o que nem sempre é bom para um filme, mas é apenas um defeito no meio de muitas coisas boas que o longa conseguiu mostrar, então para quem não se incomodar com isso, passará bem batido.

Talvez o maior problema da trama tenha ficado a cargo das interpretações, pois como falei Gigante Leo, ou Leonardo Reis, é um humorista e não ator, de maneira que seu Décio ficou faltando para chamar atenção, trabalhando sempre com um olhar triste e determinando sua condição com falhas, mas que até funcionam para o personagem que é ele próprio, ou seja, embora correto a postura para com seu personagem, o resultado acaba soando cansativo de ver. Da mesma forma, a melancolia exagerada de Camila Márdila como Lena é algo que por bem pouco não transformou a trama num drama de nível para lavar as salas de cinema, e esse estilo de personagem, mesmo que funcional para o resultado de um filme é algo que poucas atrizes dominam, e assim sendo poderiam ter melhorado um pouco mais sua empolgação nas cenas que pudessem fazer isso. Agora se tem alguém que caiu como uma luva no personagem foi Felipe Abib que fez de seu Tassius um ícone expressivo, e ainda com um texto perfeito para explicitar o que é fazer rir, o que é comédia, e muito mais sempre bem dinâmico acabou sendo daqueles que merecem muitos aplausos. Milhem Cortaz sempre se encaixa na personalidade que lhe entregarem, mas aqui seu Flávio é daqueles que desejamos arremessar de um prédio sem esforço algum, unindo arrogância com pretensão acabou quase sendo o vilão da trama, e como sempre fez bem isso. Maria Eduarda Carvalho deu um tom bem maluco para sua Lia, e encaixou bem suas cenas com os demais protagonistas para que o resultado fluísse de maneira natural, mas ficou amalucada demais para isso, e por diversas vezes seus exageros mais assustam do que empolgam.

O conceito visual da trama foi bem simples, mas escolhido como pano de fundo, o Jockey Club Brasileiro foi bem usado, com suas instalações funcionando de encaixe para tudo, com o café simples, mas bem a cara da protagonista, uma sala pequena e cheia de detalhes para o outro protagonista, um quarto adaptado para o tamanho de Leo, um bar de stand up simples e criativo, e com isso, a equipe de arte foi singela, mas trabalhando para chamar a atenção nos mínimos detalhes, acertando dessa forma.

Enfim, um filme doce e gostoso (infelizmente não achei a trilha para compartilhar com vocês, mas é uma delícia de ouvir), que poderia ter alcançado algo muito maior se quisessem, trabalhando talvez com outros atores, ousando em alguns detalhes, e tirando talvez o show do Leo no meio do filme, deixando somente para as cenas finais, pois aí sim o resultado seria perfeito. Mas dentre as comédias nacionais do ano, essa é uma que quem gostar de romances leves, deve com certeza conferir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto na terça com o primeiro texto dos filmes da Mostra Internacional, então abraços e até breve.

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