Com Amor, Van Gogh (Loving Vincent)

12/01/2017 01:35:00 AM |

Sempre digo o quão interessante uma história simples pode se tornar se desejarem inovar em algum conceito dentro da produção, seja por um detalhe pequeno numa mudança de vértice no roteiro que quebra o eixo e surpreende o espectador, ou até mesmo quando resolvem inovar completamente no estilo, e fazer uma "animação" completamente pintada a mão com tinta à óleo por mais de 100 artistas, fazendo praticamente 70 mil quadros que viraram um único filme utilizando com uma magnitude perfeita a técnica de rotoscopia (em que primeiro se filmou o longa com atores, depois todas as filmagens foram pintadas pelos artistas à mão - vou frisar muito isso, pois geralmente se faz em computação gráfica e aqui voltaram às origens para fazer algo lindo demais, no melhor estilo do pintor holandês). Ou seja, algo que ficou visualmente incrível, parecendo estar passeando pelas histórias dos quadros do pintor, contando suas diversas cartas escritas para a família, investigando se ele realmente se matou ou se foi assassinado, criando um clima de suspense bem tenso, mas ao mesmo tempo tenro pelas camadas que vão nos entregando, não saindo simples de um primeiro modo, mas trabalhando muito para que a trama envolvesse o espectador. Claro que essa tensão unida com pinturas pode cansar um pouco, mas o resultado vale a pena, mesmo para quem não é tão fã do estilo.

A trama nos situa em 1891, um ano após o suicídio de Vincent Van Gogh, quando Armand Roulin encontra uma carta por ele enviada ao irmão Theo, que jamais chegou ao seu destino. Após conversar com o pai, carteiro que era amigo pessoal de Van Gogh, Armand é incentivado a entregar ele mesmo a correspondência. Desta forma, ele parte para a cidade francesa de Arles na esperança de encontrar algum contato com a família do pintor falecido. Lá, inicia uma investigação junto às pessoas que conheceram Van Gogh, no intuito de decifrar se ele realmente se matou.

Muitos podem dizer que ao trabalhar cartas originais no roteiro, e com uma montagem quase interrogatória, os diretores Dorota Kobiela e Hugh Welchman criaram um ar quase documental em cima da história, mas o vértice investigativo criado com os diversos personagens num mote determinado acabou transformando a história de maneira ficcional intrigante e bem feita, o que é algo raro em um longa mais artístico. Claro que a escolha de trabalhar pintura na tela foi ousada e o resultado ficou incrível, o longa conseguiu um ótimo financiamento coletivo, mas confesso que por ser algo investigativo poderiam ter trabalhado mais o ritmo da trama para que o resultado não fosse cansando tanto, criando mais vértices para pensarmos no que desejavam mostrar, porém tudo é tão bonito de ver que acabamos esquecendo desse detalhe e ficamos determinados a instigar o longa inteiro junto com o protagonista. Outro grande lance foi trabalhar os dois estilos de pintura do artista, com os tons mais coloridos na trama acontecendo, e o preto e branco nos momentos contados, o que resultou em algo até maior do que esperávamos ver.

Não diria que é um longa que vemos destaques interpretativos por parte dos atores, pois expressivamente muito foi perdido na pintura sobre seus rostos, mas no conceito do tom das vozes tivemos grandes momentos de todos, e claro que a junção completa acabou fazendo um filme muito incrível com um resultado perfeito de personagens criativos. Acredito que talvez se a escolha do protagonista fosse diferente, o resultado seria bem melhor, pois Douglas Booth foi tão sem sal com seu Roulin que ficamos na dúvida se ele é realmente um investigador ou alguém curioso demais que está perdido ali sem saber o que deve fazer e como aparecer, e com isso ele também foi o responsável pelos momentos mais monótonos da trama, ou seja, não digo que o personagem tenha ficado ruim, só que o ator não ajudou a trazer algo mais perfeito para a trama. Já a contraponto tivemos uns três a quatro momentos com Saoirse Ronan dando um show com sua Marguerite Gachet, trabalhando vertentes, criando nuances e mostrando o motivo da personagem ser a musa do pintor. Outro que teve bons momentos, mas mais para o final foi Jerome Flynn como Dr. Gachet que embora não tenha empolgado, conseguiu encaixar bons trejeitos para que o personagem soasse bem dúbio, o que funciona muito em filmes de investigação. Todos os demais tiveram leves participações para chamar atenção, mas nada que fluísse e merecesse chamar a atenção, tendo leves destaques para Aidan Turner como o barqueiro com seu ar embriagante, e Eleanor Tomlinson como Adeline e seu ar dócil gostoso de ouvir.

Falar do visual é algo batido, afinal temos vários quadros em movimento na telona, e isso é algo quase como ir a um museu vivo somente com a obra de Van Gogh, e confesso que estava com muito medo ao ler a sinopse, pois pensava que veria histórias chatas sobre os quadros, e fui pego de surpresa com algo incrível, que teve um visual tão bem trabalhado com cores, movimentos e detalhes tão precisos de pintura que o resultado é algo além de um quadro, mas sim quase 70 mil quadros. A fotografia no estilo rotoscopia fica sempre um pouco prejudicada, pois os tons acabam ficando um pouco abaixo do estilo que se espera em um filme mais investigativo, porém aqui como brincaram com o colorido e o preto e branco, o resultado acabou chamando muita atenção.

Enfim, um filme diferenciado que merece muito ser visto, mas que alerto que quem não está acostumado com algo lento talvez canse demais com algumas cenas, porém friso que vale demais conferir para ver o resultado de pinturas se movimentando na tela grande. Portanto fica a dica para quem quiser conferir algo diferente, mas muito bem feito. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais uma das estreias da semana, então abraços e até logo mais.

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