Quando Glauber Rocha disse "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça", certamente ele não pensou que muitos anos depois alguém faria um filme inteiro rodado com apenas três celulares, e se você acha que a qualidade de imagem de "Tangerine" ficou ruim por esse motivo, ledo engano seu, pois temos ótimos ângulos que bem contrastados com toda a cenografia, acabaram fazendo dessa história maluca que poderia ser apenas uma esquete cômica, um grande sucesso premiadíssimo em diversos festivais, e quem assistir removendo todo preconceito, com toda certeza irá curtir demais a saga de Sin-Dee em buscar a amante de seu namorado.
O longa nos mostra que a prostituta transexual Sin-Dee passou 28 dias na cadeia e quando sai ela decide terminar com o namorado. Mas o que ela não esperava era a revelação da amiga, que lhe diz que o rapaz está a traindo e Sin-Dee fica possessa. Ela então parte atrás da amante dele e vai caçando briga por onde passa.
Mesmo que o tema do filme não envolvesse toda a polêmica GLS e também tivesse sido filmado com câmeras tradicionais, a sacada do diretor e roteirista Sean Baker ficou por conta da ótima história que o filme desenvolve, claro que o estilo gritado das protagonistas e a forma que o filme acabou sendo feito deu um contexto mais favorável para a trama e acaba divertindo bastante pelas ótimas cenas causadas pelas protagonistas, mas em breve certamente ainda vamos ouvir falar muito de qualquer novo projeto do diretor, pois agora vai ser cobrado sempre de irreverências e novas atitudes, para tentar superar o que fez aqui. Ou seja, a história simples e bem feita, unida com a personalidade dos protagonistas, e ainda um estilo diferenciado de filmagens, feita com três Iphones 5S, resultaram em uma obra cômica tão bem feita que impressiona e diverte demais.
Outro ponto fortíssimo do longa foi a química perfeita das protagonistas Kitana Kiki Rodriguez como Sin-Dee Rella e Mya Taylor como Alexandra, que juntas praticamente se complementavam enquanto uma era escandalosa ao extremo, a outra vinha de um jeito mais sutil incorporando sua vontade de mostrar seu show. E ao adicionar a prostituta Dinah interpretada por Mickey O'Hagan, o filme ganhou um ritmo e mostrou mais sentido junto das diversas situações que vão sendo desenhadas, ou seja, um trio perfeito e interessante de ver na tela. Talvez a ideia de colocar o personagem Razmik de Karren Karagulian até foi boa para complementar o fechamento da trama, mas certamente o longa funcionaria completamente sem ele.
Sendo quase um road-movie pela cidade, a trama trabalhou bem cada momento de parada da protagonista em busca de sua rival, usando bem os locais clássicos de prostituição e venda de drogas para remeter cada ato como uma cena única, e sem precisar de muitos elementos cênicos para representar cada locação e situação, a equipe artística foi sendo simplista sem usar um detalhamento excessivo e ganhando personificação através da protagonista. Agora sabiamente foi o diretor de fotografia para conseguir iluminações perfeitas para que a imagem não ficasse ruim sendo gravada por celulares, pois qualquer movimento mais brusco e fora do que fosse previsto acabaria destoando e dando tons desagradáveis para a trama, o que não acontece em momento algum.
Enfim, um filme muito divertido e interessantíssimo que mostra ideologias de traição em um meio que não estamos muito acostumados a ver, mas que funcionou perfeitamente dentro do tema, e que funcionaria bem em qualquer outra proposta. Além disso, o ritmo imposto pela ótima trilha sonora escolhida fazem com que o longa seja completamente bem recomendado para todos que gostam de uma comédia mais escrachada com pitadas dramáticas para dar um climão. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com a última crítica do Festival Indie, então abraços e até daqui a pouco.
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