A Série Divergente: Insurgente em 3D

3/19/2015 03:12:00 AM |

São raras as séries que conseguem manter a mesma equipe direção/roteiro após o primeiro filme e o que mais é engraçado é notar como a maturidade de uma trama muda com essa alternância. Se em "Divergente" no ano passado nos entregava uma série totalmente adolescente e voltada para que o público alvo fã dos livros apenas ficasse cheio com a briga e o romance que Neil Burger("Sem Limites", "O Ilusionista") nos entregou, não que isso seja ruim já que foi um excelente filme, agora com Robert Schwentke("RED", "R.I.P.D", "Plano de Voo") temos um filme muito mais introspectivo que brinca com nossos sentidos e percepções, procurando alçar voos na imaginação para que tentássemos encontrar aonde é real e aonde é simulação, quem é bom e quem é mal, e principalmente o significado real dentro da história do filme de Divergente, Insurgente e Convergente(que serão os próximos 2 filmes em 2016 e 2017). Você pode falar: "Nossa, mas isso irá dar um nó na mente e irá deixar o filme chato", mas lhe garanto que não, pois com uma pegada bem voltada para o gênero de ação, o diretor acaba nos presenteando com um filme vivo, cheio de nuances e que agrada bastante superando todas as expectativas criadas pelo primeiro filme e entregando muito mais do que poderia ser, só é uma pena que a conversão para 3D tenha sido apenas para ganhar dinheiro, já que são duas ou três cenas que valem o dinheiro pago a mais.

O filme nos mostra que os riscos para Tris aumentam quando ela decide procurar por aliados e respostas nas ruínas de uma Chicago futurista. Tris e Quatro agora são fugitivos, caçados por Jeanine, a líder da elite Erudição. Eles precisam descobrir a causa pela qual a família de Tris sacrificou suas vidas e por que os líderes da Erudição querem impedi-los. Amedrontada pelas escolhas do passado, Tris, ao lado de Quatro, passa a encarar desafios impossíveis a fim de descobrir toda a verdade sobre o passado e também o futuro de seu mundo.

Assim como já aconteceu com outras adaptações literárias, não posso opinar o quão fiel o longa ficou ao livro por não ter lido ainda, quem sabe num futuro após ver a saga completa, mas o que posso dizer é que como analiso sempre o filme com vida própria independente de mostrar coisas importantes que teriam vindo da autora do livro Verônica Roth, o resultado que a equipe de roteiro que não é fraca já que temos o estreante Brian Duffield junto de  Mark Bomback("Planeta dos Macacos: O Confronto", "Wolverine Imortal") e Akiva Goldsman("Uma Mente Brilhante", "O Código Da Vinci", "Eu Sou a Lenda"), que juntos conseguiram criar uma essência completamente interessante e envolvente para que o filme tivesse ao mesmo tempo a teoria politizada e humanista do primeiro filme, já que podemos enxergar tanto o sistema de facções como classes quanto habilidades do nosso próprio interior, quanto manter a premissa de um filme blockbuster pipoca aonde a ação rola solta e deslancha para curtir sem pensar muito, e essa construção do roteiro não só agrada como acerta em cheio, pois se existe uma coisa que prezo e fico extremamente feliz é que um filme pode ter 20 continuações se quiser, mas trabalhando bem uma apresentação, um miolo e um encerramento (não necessariamente em ordem cronológica) já será meio caminho andado para que a produção seja correta e bem feita. Quanto da direção, sou extremamente fã de diversos trabalhos de Burger, mas ele só não assumiu a continuação por estar terminando o primeiro filme enquanto o segundo já estava sendo executado, mas a substituição por Schwentke foi bem feita principalmente pela pedida nova do roteiro, já que mesmo tendo algumas cenas romantizadas e dramáticas, isso acabou ficando bem em segundo plano, e o novo diretor tem essa pegada mais irreverente de velocidade e dinâmica para que a forma intimista não acabe cansativa, ou seja, com planos extremamente velozes não conseguimos piscar quase que em cena alguma com tudo explodindo e tiros voando para todos os lados, numa grande mistura de realidade com simulação de forma fantástica.

Como o elenco principal praticamente não mudou do primeiro filme para esse, a única coisa que é notável é a melhoria na forma de atuar de todos sem exceção, pois o trabalho do diretor foi muito bem visto ao dar tarefas mais árduas na capacidade interpretativa de cada um. Dessa forma Shailene Woodley que gravou praticamente três filmes completamente diferentes ao mesmo tempo, suou bastante com cenas de ação duras e ao mesmo tempo introspectivas necessitando em demasia também sua expressão, e conseguiu acertar bem o tom que aliado à necessidade de cortar o cabelo para "A Culpa é das Estrelas", aqui arrumaram um jeito bem fácil de eliminar seu cabelão logo no começo do filme, e até isso mostrou acertos no contexto geral da trama. Theo James não é mais necessariamente o galã que vai precisar ficar arrancando sua camisa para as mocinhas suspirar, agora seu personagem é importante para a protagonista de outra forma e isso é ótimo para o desenrolar do filme, e o ator também soube mostrar que evoluiu na forma de atuar, sendo determinado nos olhares e trabalhando ainda mais a personalidade que seu Quatro tem. Kate Winslet agora está presente em quase todo o filme com sua Jeanine e trabalhando bem da forma que sabe fazer sempre caras que parecem não dar a mínima para o parceiro de cena, confesso que deve ser triste atuar ao seu lado, e isso chega a ser uma característica marcante da arrogância da personagem, que de certa forma nos deixa com ódio dela, mas ainda poderia ser melhor já que ela sabe fazer bem personagens marcantes. Se no primeiro filme já tivemos diversas cenas para xingar e ficar com raiva do personagem Peter de Miles Teller, com seu crescimento profissional está virando uma daquelas estrelas hollywoodianas que sabe o que quer, e seu personagem fica ainda mais irritante de certa maneira que algumas cenas suas dá para torcer tranquilamente que matem ele em seguida, ou seja, o garoto realmente tem potencial para nos irritar e isso deve dar resultado mais para frente. Ansel Elgort também volta com seu Caleb, mas o personagem assim como no primeiro filme não tem um carisma para que possamos torcer por ele, e aqui ele continua da mesma forma apenas sendo motivos familiares para a protagonista brigar por sua salvação, mas não sei se é assim também no livro, e como vi que o jovem mandou muito bem no "A Culpa é das Estrelas", poderiam pedir para que fizesse algo mais expressivo, que agradaria mais. Dos demais personagens do primeiro filme, somente Jai Courtney merece algum destaque com seu Eric, pois nas cenas que vai a caça dos foragidos, ele se mostrou com expressividade clara que os vilões necessitam, e acredito que nas sessões mais cheias o público irá vibrar com tudo que lhe acontece, pois fez tudo com muita maldade na concepção artística. Dos novos, Naomi Watts chega com tudo com sua personagem Evelyn que já teve uma participação bem interessante nesse filme e deve ser usada mais ainda nos próximos dois, e a atriz fez semblantes bem ocultos para que mesmo Quatro falando um pouco dela, ainda sua forma misteriosa de atuar, que a atriz sabe fazer muito bem, dê muito o que comentar nos próximos. E embora bem singela a participação de Octavia Spencer, a jovem atriz fez uma Johanna bem colocada e pontual da maneira mais amistosa que sua facção deveria ser, talvez tenha algo para apresentar nos próximos, mas acho difícil. E com um semblante totalmente característico mas bem bacana Daniel Dae Kim consegue chamar atenção nas duas cenas que participa como Jack Kang líder da Franqueza que também com certeza no livro tem participação maior do que no filme, mas foi bem notável e interessante sua interpretação. Já falei demais dos atores e vou parar por aqui dizendo que no geral não vi ninguém despontuando em cena e isso é legal quando a equipe é mantida de um filme para o outro e apenas vão incrementando e crescendo, no próximo tenho certeza que vão estar melhor ainda.

Se no primeiro filme o visual já era algo bem interessante e futurista, agora todo trabalhado com muitos destroços ficou ainda mais bonito de ver e deu um design para a trama que nos projeta em algo que vai muito além de onde tudo ocorre, claro que por se passar a maior parte dentro das locações não foi muito abusado o quesito das cidades em si, tirando é claro a facção Amizade que foi mostrada mais a fundo no longa. Porém para ganharmos algo mais elaborado visualmente entramos na questão das simulações, que aí o realismo computacional criado junto com a destruição explosiva de quadros ficou incrível de ver. Outras cenografias que foram bem usadas, porém bem pouco foram as florestas que talvez daria um tom mais sombrio se a cena de perseguição fosse maior, mas os pássaros voando serviram para agradar ao menos no 3D inicial. Outro fator bem encaixado é a quantidade de elementos cênicos que foram usados praticamente a todo momento, sempre servindo para representar algo, destacando claro o esconderijo dos sem-facção, que no melhor estilo de estarem prontos para uma guerra iminente desde sempre, mostrou um serviço e tanto da equipe artística. O longa contou com bons efeitos e isso é bem bacana de observar num longa de ação, pois poderia atrapalhar muito se não fosse bem feito, claro que devido ao excesso de explosões e correria, com certeza os mais chatos irão ver diversos erros, mas como sempre repito não vou ao cinema para ficar procurando defeitos. Quando do efeito 3D que muitos perguntam se compensa ou não, o que posso falar com completa convicção é que é completamente desnecessário, dando para ficar sem o óculos praticamente o longa inteiro, funcionando apenas em algumas explosões dentro da simulação e na abertura com pontos sendo montados no melhor estilo Matrix, mas isso já era esperado, afinal o longa foi filmado totalmente e somente depois convertido para ganhar mais dinheiro, então nenhuma cena foi pensada em 3D ao ser filmada, e dessa forma se estiver passando 2D em sua cidade pode economizar tranquilamente. A fotografia trabalhou de certa forma com muitas cores marrons e tons escuros também para representar que todos já estavam em colapso preparados totalmente para a guerra, e isso é legal de observar, pois nem nos momentos mais calmos a presença dessas cores desaparece, ficando apenas alguns tons abaixo para acalmar a euforia.

A escolha da trilha sonora foi perfeita e bem pontuada, de modo que com músicas de grandes cantores caindo muito bem com a orquestrada composta por Joseph Trapanese, o resultado deu ainda mais envolvimento para o que o diretor desejava no quesito de ação, e isso é bacana de observar também, pois o filme ganhou vida em diversos momentos com as canções, que até funcionaria o silêncio, mas com a barulheira de fundo deu um realismo maior. Claro que o destaque fica para a canção de fechamento que caiu emocionalmente de forma perfeita para dar a nuance de convergência que é o próximo filme.

Enfim, o longa inteiro foi trabalhado no sentido do significado das três palavras (divergência, insurgência e convergência), e isso é muito legal de ver, pois mostra que desejaram dar sentido ao filme não largando ele solto com tudo que poderia passar e dessa forma podemos com certeza figurar ele como um dos melhores do ano, claro que não é o melhor com certeza, mas vai ficar entre os melhores na cabeça de muitos, e ainda por cima conseguiu criar mais expectativa para os próximos filmes, já que infelizmente o próximo livro será dividido em dois filmes para render mais. Como disse acima por ser um longa de ação muitos também acharão diversos erros e furos de roteiro, mas isso é totalmente normal para o gênero e se olharmos diversos clássicos acharemos milhares de erros, e como existem pessoas que só querem ir ao cinema para ver isso, prepararemos nosso psicológico para ver nos próximos dias toda essa galerinha reclamante de algo, além claro dos fãs que vão falar que o filme é completamente diferente do livro, mas esses eu já nem ouço mais. Portanto, recomendo demais a trama, claro que obrigatoriamente é necessário ver o primeiro para saber o contexto de tudo que está acontecendo, só peso um pouco a recomendação para quem gosta de dramas mais artísticos sem ação nenhuma, e que não curtam o gênero de ação ficcional, pois talvez acabe não gostando muito do que irá ver, mas os demais podem ir para o cinema tranquilamente que é garantia de boa diversão. Fico por aqui agora, pedindo desculpas pelo tamanho que acabou ficando o texto, mas como escrevi na empolgação pós ver o filme, acabei falando até demais, porém sempre sem deixar spoilers. Como temos nessa semana uma boa quantidade de longas, volto logo mais com algum novo post, então abraços e até breve pessoal.

PS: Foi recolhido um coelho da nota devido ao 3D ser inútil e já ser anunciado que a continuação será dividida em 2 filmes, o que será apenas por dinheiro, mas do restante o longa com certeza vale a nota máxima pela empolgação causada e por entregar algo completamente superior até que a expectativa deixada pelo primeiro filme.


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