Leviatã

1/23/2015 01:07:00 AM |

Se existe uma coisa que não acho bacana em alguns filmes é eles obrigarem que você conheça outras histórias para ter um embasamento, reflita ou se comova com o que é mostrado. Claro que é minha opinião, mas sou do estilo que vou ao cinema para emocionar, refletir ou se divertir com o que é mostrado ali naquele intervalo de 80 a 200 minutos dentro da sala escura, e se o filme não conseguir passar isso nesse tempo, ou vai ser para ter continuações, ou no caso de filmes mais artísticos é por querer que o espectador seja quase um filósofo para interpretar o que quis mostrar e saia pesquisando textos e tudo mais para montar uma tese sobre o assunto. Pois bem, com esse início, já tenho quase que certeza absoluta que vou arrumar algumas confusões com amantes desse estilo de filme, mas volto a frisar, que é a minha opinião. E sendo assim, não consigo enxergar motivos óbvios para que "Leviatã" esteja ganhando tantos prêmios e indicações por aí, ou melhor até enxergo uma possibilidade que vemos direto por aí, mas como vi por aí algumas críticas tão viajadas sobre o longa, quem sabe outros também estão vendo o filme assim. A história em si até é interessante, pois coloca em pauta, o quanto o homem faz besteiras em sua vida sem pensar nas consequências, e no fator de que você sempre será culpado até que se prove o contrário, mas até que ponto isso passa a ser interessante a virar um filme de quase 3 horas?

O filme nos mostra que em uma pequena cidade próxima ao Mar de Barents, no norte da Rússia, vive Kolya. Ele é proprietário de uma oficina, ao lado da casa onde vive com sua esposa e seu filho. Vadim Shelevyat, o prefeito da cidade, quer tomar o seu negócio e sua terra, mas primeiro tenta subornar Kolya, mas ele não quer perder tudo o que tem. É então que o prefeito começa a se tornar mais agressivo.

Um fator que vale atenção no filme ao menos é o roteiro, pois ele sim é bem trabalhado para mostrar todo tipo de corrupção, a que tanto nós brasileiros já estamos acostumados e dá pra ver que em outros países a coisa não é tão diferente. E além disso, ao misturar religião, política, traição e bebida dá quase uma bomba nuclear no contexto que talvez com uma montagem mais interessante na ideologia do filme teríamos algo tão bom de ver que passaria voando, ao contrário do tanto que o longa cansa com um estilo quase novelesco com diversos núcleos. O diretor Andrei Zvyagintsev fez algo cheio de conotações com as paisagens do filme e com histórias densas, mas se perdeu ao exagerar nessa forma de mostrar as coisas e não desenvolver a fundo nenhum dos conflitos, o que acabou se tornando chato demais de acompanhar, e isso num filme de 140 minutos é quase um martírio, por sorte não foi na sala VIP que ele veio, senão era dormir na certa.

As atuações estão dentro do contexto do filme, com russos sendo russos, bebendo vodca igual água, ou melhor mais do que água e sendo completamente malucos, ou seja, se algum dia quiserem ter outra impressão vai ser bem difícil com sempre mostrando assim em filmes e tudo mais. Aleksey Serebryakov faz de seu Kolya um personagem estranho, pois ao mesmo tempo que vemos seu "desespero" para manter a família, acaba tendo umas atitudes meio contundentes, claro que a bebida sempre envolvida, e sua atuação deixa mais dúvidas ainda em relação à sua idade e outras características do contexto do personagem principal, então talvez precisasse ser mais impactante em alguns momentos. Roman Madyanov faz um prefeito antagonista tão forte que se fosse numa novela da Globo iria apanhar nas ruas com certeza, mas ao mesmo tempo seu estilo de interpretação acaba sendo engraçado e funciona. Elena Lyadova consegue fazer de sua Lilya, aqueles personagens que ficamos tristes por ele, mas em seguida com o desenrolar torcemos pra que a pessoa não se dê bem, e isso é interessante de ver quando alguém consegue trabalhar de forma bem colocada, mas alguns momentos seus foram forçados demais e também destoam do restante. E para fechar o quarteto principal, Vladimir Vdovichenkov faz de seu Dimitri o galã da trama, que mesmo estando no miolo de todos os problemas da trama, se sai bem na interpretação, e agrada no que faz, talvez se o longa fosse invertido apenas no seu papel, a trama deslancharia e seria mais interessante. Dos demais coadjuvantes, muitos fazem boas ligações, mas como o filme é tão enroscado nos protagonistas, não conseguimos focar em nenhum de fora para destacar.

Visualmente por mostrar paisagens mortas e ser ambientado em uma cidadela bem pobre, o resultado acaba ao mesmo tempo sendo bonito de ver, mas estranho, pois dá todo um ar misterioso na trama que valeria ser mais explorado do que apenas os sentimentos dos personagens, mas daí fica de serventia pro pessoal que usa o cérebro pra fazer suas viagens e destoa um pouco. Mas com diversos elementos cênicos, com muitas coisas sendo usadas, a equipe de arte trabalhou bem para contrastar os pontos chaves da trama. Além disso, quem assistir ao filme vai ver que quem reclama das estradas no Brasil é porquê não foi pra Rússia. No quesito fotográfico, o contraste de cores marrons com o azul deu um charme para o filme, e talvez levante mais as reflexões, porém o exagero cansou bastante no delongar da trama.

Enfim, assisti poucos dos concorrentes do Oscar de Filme Estrangeiro, mas como levar o Globo de Ouro é um grande passo nessa premiação, e como já ganhou outras premiações também, infelizmente é capaz do longa levar a estatueta. Eu particularmente até vi pontos positivos no longa, mas são tão poucos comparados ao cansaço que a trama reproduz, que não tenho nem como torcer para ele, muito menos recomendar que alguém vá assistir, então com certeza tem outras boas opções nos cinemas da cidade para aproveitar, mas quem já tiver visto tudo e puder vá conferir ao menos para dar bilheteria e continuarem mandando longas alternativos pra cá também, vá e reflita viajando sobre tudo que o longa quis mostrar. Bem é isso, apenas foi o começo dessa semana que veio razoavelmente recheada de longas para o interior, claro que faltando os grandes nomes das premiações, mas fazer o que, ao menos teremos quantidade para assistir, então abraços e até breve pessoal.



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