Até Que a Sbornia Nos Separe

1/27/2015 12:40:00 AM |

É interessante ver que no Brasil quando querem mesmo, outros estilos conseguem financiamento e felizmente fazem jus ao dinheiro gasto, pois a animação "Até Que a Sbornia Nos Separe" é um dos exemplos de como uma animação feita para adultos, já que crianças não devem entender muito as ironias, funciona sem necessitar apelar ou usar somente formas bem desenvolvidas para agradar. Aqui o bom enredo trabalhou forte para divertir com traços bem simples e em alguns momentos até estranhos para uma animação, mas o conteúdo é tão bem estruturado que em momento algum necessitamos ver uma modelagem perfeita para ficar feliz com o resultado. Ou seja, a simplicidade da computação tradicional, dentro de um roteiro bem pensado, fez dessa animação nacional o resultado que diversas outras queriam e acabaram errando por abusar de técnicas e não pensar na história.

O filme nos mostra que Sbornia é um pequeno país que sempre viveu isolado do resto do mundo, cercado por um grande muro que não permite o contato com os vizinhos. Um dia, no entanto, um acidente leva à queda do muro, e logo os sbornianos começam a descobrir os costumes modernos. Dois músicos locais, Kraunus e Pletskaya, observam as reações de seus conterrâneos: enquanto alguns adotam rapidamente a cultura estrangeira, outros preferem reafirmar as tradições sbornianas e resistir ao imperialismo.

O longa é baseado na peça musical "Tangos e Tragédias" que já durante 30 anos alegrou muitos teatros com suas canções até Nico Nicolaiewski morrer em 2014, e claro que a dedicatória do filme é para ele. A história embora tenha toda a ficção consegue servir de crítica à diversos modos políticos e sociais das pessoas, e isso torna o filme tão irreverente e gostoso de acompanhar, que em diversos momentos até esquecemos que estamos diante de uma animação quase que 100% animada no método tradicional de desenhos feitos à mão que apenas são convertidos para digital no seu final, e isso é incrível, pois acabou demorando muito tempo para que fosse entregue a versão finalizada que estamos vendo nos cinemas. Os diretores Otto Guerra e Ennio Torresan Jr. foram ao mesmo tempo espertos por trabalhar tudo muito bem, desenvolvendo cada ato e criando uma obra complexa e bem feita, mas arriscaram bastante pois embora a técnica antiga ainda funcione bastante, muitos não curtem mais um visual tão imperfeito, exigindo das animações maior primor técnico, felizmente como disse a história domina sobre os desenhos, mas ainda assim, vemos traços e cores bem colocadas para dar o tom da piada em diversas cenas.

Os personagens são outro charme completo da trama, que são bem desenvolvidos e cada um contando com uma característica em especial acaba agradando muito, pois ao ter as personalidades definidas, o fator dinâmica acaba funcionando sem precisar apelar à alguns momentos clichês como aconteceria em outras histórias. Claro que os protagonistas Kraunus e Pletskaya foram dublados pelos seus verdadeiros donos Hique Gomes e Nico Nicolaivwsky respectivamente e desenhados tal qual seus donos no melhor estilo das grandes animações, e isso é um primor se visto que o trabalho de desenho é algo dificílimo. Mas claro que os demais personagens também funcionam bem, e Fernanda Takai se sai bem com a personagem Cocliquot tendo expressividade e cantando a música que gruda na mente em dois momentos. Arlete Salles praticamente molda Alda, mãe de Cocliquot da sua forma irreverente e até comete o "pecado" de quase não vermos mais a personagem e sim a atriz em alguns momentos. O pai da protagonista também tem momentos muito bons que divertem na medida com a voz de André Abujamra.

Como disse, o primor técnico não é algo tão aperfeiçoado, mas ainda assim a cenografia é algo tão claro e interessante de acompanhar, que em alguns momentos quase passamos a conhecer profundamente as duas cidades de uma maneira incomum para o cinema de animação, pois tudo parece funcionar tão bem ali que acaba agradando com os tons avermelhados um pouco forçados demais, mas que foram colocados com linguagem artística para que a fotografia tivesse seu traço marcante, e com o desenvolvimento somos gratos por não apelarem para tons mais fortes senão seria algo que sairia do tom certamente.

Enfim, felizmente fui surpreendido por uma animação nacional de qualidade internacional, já que as últimas que conferi foram sofríveis e falharam feio. Claro que como disse, a trama foge bem do público alvo das animações, mas com boas canções e desenhos divertidos, talvez os mais crescidinhos que forem acompanhar os pais acabem se divertindo também. Preferi não entrar em detalhes das críticas políticas e sociais que o filme abrange para não estragar as piadas dando spoilers, mas quem gosta desse estilo com certeza irá se divertir mais ainda, ou seja, recomendo o longa para uma boa gama de pessoas, então fica a dica para conferir no cinema, já que muitos longas nacionais com temáticas mais artísticas acabam não sendo lançados em outras mídias. Bem é isso pessoal, fico por aqui encerrando essa semana cinematográfica, mas quinta estou de volta com mais estreias, então abraços e até breve.


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