Grandes Olhos

1/31/2015 03:00:00 PM |

As vezes ficamos pensando no encontro que muitos dizem existir de almas gêmeas na vida e tudo mais, então por que um filme não pode ter sua alma gêmea ao cair na mão do diretor certo? Todo mundo sabe do mundo excêntrico que é a vida e os filmes de Tim Burton, e isso embora seja completamente pirado é maravilhoso, daí ele me vem com um filme sobre uma artista que só pintava quadros completamente diferentes dentro de uma época e ainda tem sua vida virada do avesso ao ser submissa e permitir que o marido as vendesse como sendo de sua autoria. Não tem como ser outro diretor para fazer isso, é sua alma gêmea, e mesmo não sendo sua grande obra prima, como tanto se fala num filme sobre arte, o diretor conseguiu trabalhar o conceito de época tão bem pautado, que ao assistir devido a gramatura da fotografia e dos elementos artísticos, parece que estamos vendo um longa feito em outra época de tão minucioso e interessante, ou seja, não posso dizer que o filme não tenha defeitos, alguns abusivos até, mas a obra em si é tão bem feita que agrada bastante.

A cinebiografia conta a história real do casal Walter e Margaret Keane, que ficou famoso no final dos anos 1950 e início dos 1960 por retratos de mulheres e crianças com olhos grandes. Tudo parece ir bem na vida dos Keane, até Walter começar a ter fama e dinheiro às custas da mulher, que é a verdadeira pintora das obras.

É interessante observar o desenvolvimento da trama dos roteiristas que ao mesmo tempo que colocam a mulher como algo indefeso e submisso durante boa parte do filme, eles conseguem engrandecer ela quase que da mesma forma ao envolver religiões e dar uma diferenciada no final, e isso ficou complexo de observar qual o foco que queriam tomar, mas por ser baseado em uma história real, podemos dizer que a vida da protagonista foi quase que uma daquelas mulheres que ninguém nunca vai entender seus motivos reais de fazer as coisas, apenas aceitando que foi assim e pronto. Tim Burton é daqueles diretores que não nos entrega apenas um filme simples, e mesmo não colocando a sua fantasia cheia de imaginações férteis, o resultado de sua mão tradicional é visto a quase todo momento, e isso que é legal de observar, seja pelos atores que passam a ter olhos grandes em alguns momentos, ou seja pelas escolhas de lugares exóticos para que a filmagem tivesse mais simbologia do que apenas um bar tradicional ou uma festa comum, e assim o teor do filme ficou completamente real, mas com um ar abstrato que é seu estilo, ou seja, ainda é o diretor que gostamos tanto.

O que acontece quando se coloca dois atores especialistas em expressão no mesmo filme? A resposta é bem fácil de ser observada aqui no longa, já que ambos os protagonistas da história conseguiram usar tudo de melhor que já fizeram em outros papéis e reverter para o simplificado aqui, ficando interessantíssimo de observar. Amy Adams fez tantas oscilações dramáticas e até bem humoradas que acabou arrematando o Globo de Ouro de Atriz em Comédia ou Musical (ainda estou tentando linkar a ideia de quem viu comédia nesse filme, mas tudo bem!), e aliado à uma maquiagem bem trabalhada fez com que sua personagem ganhasse vida frente aos nossos olhos, conseguindo imaginar completamente tudo pelo que a protagonista passou, e ainda que faltasse cenas mais fortes e reveladoras dos motivos pela qual ela agiu assim durante um bom tempo, quem for perspicaz conseguirá tirar isso da atuação da jovem. Christoph Waltz é daqueles atores que mesmo quando faz personagens sacanas e sem caráter algum, ainda continuamos gostando dele, e isso se deve pela forma crítica que interpreta esses personagens, dando à eles uma condição humana e com causa "justa" para os atos, claro que isso se dá muito por ele, mas sempre com uma atuação impecável, ele agrada demais. Terrence Stamp aparece pouco na trama como um crítico de arte do jornal Times, mas tem boas cenas e diz a frase que mais odeio nessa vida ao se remeter que pra ser crítico não precisa ter produzido nada, então se o personagem ficou nervoso com isso, posso me colocar mais ainda no time do personagem de Waltz. O colunista que Danny Huston faz é importante por ser o narrador da história e estar contando praticamente todos os fatos para nós espectadores, mas chega a ser meio irritante seu papel em alguns momentos por dizer exatamente o que estamos vendo na tela, então isso poderia ter sido bem amenizado, que o personagem ainda continuaria tendo importância. As demais mulheres da trama são quase fantasmas, pois aparecem na história em alguns momentos e somem como se nada que fizessem tivesse valor, então isso ficou bem estranho tanto com a filha em diversas idades interpretada por Delaney Raye e Madeleine Arthur, e a amiga da pintora que é feita por Krysten Ritter é outra que só entrou na história pra quase de enfeite sendo quase um ponto nulo. Agora outros dois que fizeram papéis bem terciários mas ainda assim agradaram bem nas suas aparições foram Jon Polito como o dono do bar aonde o protagonista inicia as vendas dos quadros e Guido Furlani como Dino Olivetti, proprietário da empresa de maquinas de escrever.

O filme conta com um visual épico interessantíssimo cheio de coisas incríveis para visualizar e representar tanto a época quanto a simbologia dos quadros que mesmo não dando ênfase nem nos motivos que levaram ela a ser submissa nem dele ser tão sagaz, conseguiu criar o conflito e envolver como nos velhos filmes de época que víamos antigamente. E isso é maravilhoso de ver, pois funciona do jeito que estamos acostumados a olhar os demais filmes do diretor, ou seja, tudo tem motivo de estar dentro do quadro cênico, então não veja o filme apenas acompanhando o que está sendo dito, olhe a toda volta, monte o quebra-cabeça e saia abismado com o resultado. Bruno Delbonnel fez algo que poucos diretores de fotografia gostam de fazer, que é estourar a gramatura do filme no seu máximo permitido para que o filme não aparente falso, dando um ar de época além do que a cenografia já fez, e com um tom de paleta amarelo perfeito, escolhido na medida, isso tornou o filme um deslumbre cenográfico que não sei como não ganhou ao menos uma indicação aos prêmios da Academia, mas é a vida, cada um gosta de um estilo.

A canção de Lanna Del Rey funcionou bem por retratar a história, meio que contando tudo que aconteceu, junto de sentimentalismo, mas ao entrar na cena, acabou não combinando muito com o restante da trilha de Danny Elfman, então acabou sendo uma falha estranha, mas ainda assim ganhou a indicação do Globo de Ouro, o que já vale e muito para a cantora.

Enfim, vi por aí muitas críticas negativas do filme, por estarem esperando mais maluquices do diretor, mas acho que isso é algo que precisa ser dosado no estilo que ele escolhe, e dessa forma vendo o filme como algo separado e novo, o resultado é tão agradável e interessante que o longa acaba sendo gostoso de acompanhar e dessa forma acabo recomendando ele com certeza para todos que gostam de biografias dramáticas com doses cômicas de absurdo. Fico por aqui agora, mas essa semana ainda tenho muito o que conferir nos cinemas, então abraços e até breve pessoal.


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