Thérèse D.

3/16/2014 08:08:00 PM |

A França é famosa por fazer filmes complicados de o grande público entender, mas quando resolve ir na contramão e colocar filmes bem tranquilos quanto à reviravoltas costuma decepcionar por amarrar uma linearidade exagerada às tramas, e com isso o filme acaba ficando morno demais. Um exemplo claro é a última obra do diretor Claude Miller, "Thérèse D." que mesmo com um roteiro baseado em uma obra prima francesa, acabou ficando tão monótono que passamos o longa inteiro esperando algo acontecer para sairmos da sala com a certeza de não ter visto nada demais em nossa ideia inicial do filme.

O filme nos mostra que em uma época onde os casamentos eram feitos para unir as terras e aliar as famílias, Thérèse casa-se muito cedo e torna-se a senhora Desqueyroux. Mas essa jovem mulher inquieta, não cede às convenções da sociedade de sua época e para se libertar do destino que lhe foi imposto, ela será capaz de tudo.

A história poderia ter sido apimentada se utilizado todas as nuances de pensamentos que a protagonista tem para uso no filme, mas preferiram utilizar apenas 2 a 3 momentos e focar mais nas leituras das cartas que apenas oprimiram a personagem, fazendo dela praticamente um objeto cênico com movimentos e assim o roteiro que era considerado uma obra prima do escritor premiado François Mauriac foi ficando cansativo e sem nada acontecendo para dar um ânimo ao filme já começamos a torcer para que algo inesperado surja na finalização, mas o diretor deixou o final, embora coerente com a trama, mais aberto ainda para nenhuma conclusão que o espectador poderia querer ver.

A atuação de Audrey Tautou sempre nos convence de seus personagens e ela conseguiu junto da equipe de maquiagem trabalhar bem sua agonia frente a situação que viveu praticamente convivendo em matrimônio forçado, mas tudo que faz é meramente pensamentos e ideologias, então a atriz não demonstra nem 1% da capacidade que tem. Gilles Lellouche faz um marido bem tradicional da época e consegue nos motivar a torcer para que tudo que a protagonista faz funcione o mais rápido possível, poderia ter trabalhado mais o sentido afetivo das cenas finais para que ficássemos talvez mais intrigados com o que é mostrado, mas não conseguimos imaginar a força do seu amor por ela e assim sendo ele acaba da mesma forma que surgiu na história, apenas sendo alguém no filme. Anais Demoustier começa com gás total na trama, aparentando existir até um certo romance entre as amigas, mas vai sumindo tanto de cena que se não fosse sua última tradicional cena quase esquecemos do seu personagem e da importância que poderia ter para a trama se fosse contada de forma diferente, não consegui observar se isso pode ter sido problema da direção de eliminação da personagem ou se o roteiro realmente desandou com ela. Stanley Weber é outro que teria um enorme potencial na trama, mas nem coadjuvante podemos classificar ele, pois adentra a história de uma maneira tão rápida quanto a sua saída de cena. |Dos demais não temos muitas cenas que valha a pena destacar de cada um, mas ver Catherine Arditi fazendo a tradicional sogra que conhecemos nas cenas finais é algo bem cômico de se ver.

O visual de época da trama é bem interessante e remete aos casarões provincianos da França tradicionalista dos anos 20, e a equipe de arte trabalhou com detalhes nos objetos usados, na forma de vestir e posturas comportamentais dos personagens que conseguiram mostrar precisamente tudo, mas como a trama gira de forma adversa, tudo acaba servindo de elemento cênico tão rapidamente que nem dá para chegarmos a enaltecer tudo que é colocado visualmente na tela. A fotografia soube segurar bem a iluminação de velas e o fogo como elemento marcante, mas poderiam ter trabalhado mais com a cor laranja ao invés do marrom claro que daria mais contraste.

Enfim, é um filme que teria potencial para discutir muito o matrimônio arranjado e questões familiares, mas abandonou tudo para seguir uma linha mais intimista, e com isso acabou se perdendo e cansando o espectador. Recomendo apenas para quem quiser ouvir um idioma francês falado mais pausadamente que dá para tentar entender as palavras, diferente dos filmes mais atuais, e somente pra isso, pois como filme é algo que ficou bem mediano de acompanhar com as altas expectativas de acontecer algo e acabar sem acontecer. O longa permanece em cartaz no Cine Belas Artes até o dia 19, então quem quiser ver fica o convite. Encerro aqui essa semana cinematográfica que começou mais cedo e agora será assim sempre às quintas-feiras e então estarei de volta com novos filmes na próxima quinta-feira. Então bom resto de semana para quem não viu todos os filmes ainda, abraços e até breve pessoal.


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