Minutos Atrás

3/21/2014 01:10:00 AM |

É interessante quando vamos ao cinema sem saber o que esperar de um filme, principalmente quando é algo alternativo do cinema nacional. Com "Minutos Atrás" o diretor nos ludibria a todo momento com o tema sobrevivência, mas na realidade nos coloca frente à passagem de um mundo para o outro que já está morto em cores com uma nuance perfeita da fotografia realçada para cinza que ficamos questionando o porquê falta cor, mas está explícito na forma contada pelos personagens que puxam para o lado cômico algo que poderia ser tenebroso e tenso como a morte. Porém nem tudo são flores, já que o filme tem alguns pequenos deslizes e também por ser alternativo demais talvez não consiga chamar o público para vê-lo.

Alonso e Nildo seguem em uma estrada. A cada passo o tempo passa, nada acontece e eles não sabem onde chegarão. Eles estão em sua carroça, guiada pelo cavalo Ruminante. Correm contra o tempo, em seus últimos dias de vida. Alonso possui o dom das palavras e Nildo se encanta com um universo de possibilidades. Mas assim como as palavras e as ideias o seduzem, também o cansam. Durante o caminho, eles então começam a refletir sobre a vida, os caminhos que escolheram, seus arrependimentos e sonhos interrompidos. Percebem que a saudade que sentiam do passado de nada adiantou para guiar o futuro.

A "estreia", devido ser seu segundo filme, mas o primeiro ainda não ter sido lançado, de Caio Sóh no cinema é bem feita pelo fato de conseguir trabalhar seu roteiro próprio, que já foi uma peça de teatro, em sintonia com a disposição que o trio de atores deram para o texto, pois é inegável que numa atualidade onde os atores nacionais estão mais preparados para ser personagens dirigidos criados pelo roteirista, o que vemos aqui é a criação de personagens pelas mãos dos atores onde tudo vai acontecendo de forma tão interativa que se não estivéssemos vendo o filme numa tela de cinema poderíamos dizer que os atores estão indo na mesma vibe que a plateia de um teatro e a cada ato seu personagem vai crescendo para que chegue a um lugar fechado que o diretor felizmente escolheu para não largar seu filme aberto para conclusões. Um fator que poderia agradar mais seria não ter dividido o filme em atos, pois fica cansativo e chato explicitar o que vai acontecer em cada momento, o longa teria uma fluidez diferente e seria mais perfeito ainda.

Já disse que os atores simplesmente deram o máximo de si para dar uma sintonia ímpar para o longa ser quase uma extensão de um palco, claro que com muito mais dimensão, e isso é o que torna o filme único. Não podemos dizer que os diálogos são brilhantes, pois temos algumas piadas bem tradicionais que já ouvimos diversas vezes, mas a forma de interação que eles às colocam na trama que deixa tudo muito bem encaixado. Vladimir Brichta finalmente caiu num papel na medida para seu estilo de humor, não deixando ele nem fora de foco com piadas inteligentíssimas, nem recai para apelações novelescas, o que acaba agradando demais num papel aberto para as mais variadas possibilidades. Otávio Muller é um ator que me deixa extremamente irritado com papéis sempre iguais, mas finalmente o seu estilo coube num personagem que agrada de um jeito irreverente que acabamos nos sensibilizando por ele e até torcendo por algo bom. Paulo Moska é um músico completamente diferente, que ou você adora o estilo musical ou detesta, e posso confessar que nunca fui muito fã do que fazia, porém hoje suas músicas caíram tão bem para o filme que seu personagem acabou fazendo parte totalmente da trama não apenas pelas ótimas expressões que faz como uma trilha genial para que o longa se destacasse.

O visual do longa é algo que ficamos o tempo todo perguntando como foi feito, pois tudo é cinza, completamente morto, somente destacando alguns elementos em tons de pele e um pano vermelho e isso fica muito bem encaixado para orquestrar os elementos cênicos que acabam sendo mais cenário mesmo do que importantes realmente para algo destacado que os artistas façam. Porém a fotografia de Rodrigo Alayete, que também está estreando em longas, é tão maravilhosa que ultrapassa as barreiras e nos deixa obcecados com os olhos fixos em tudo que ocorre na completa duração do filme.

Outro ponto importantíssimo é a trilha composta por Paulo Moska e André Abujamra que ditam o ritmo com algo que nos faz pensar como pode uma música virar parte completa de um filme, e em momento algum conseguimos pensar nele sem toda a orquestralidade que fez do filme algo particularmente próprio e diferenciado.

Enfim, fui assistir ao longa com 50 pedras no bolso para serem tacadas e voltei pra casa com elas pesando uma tonelada a mais, pois um filme diferente do que estamos acostumados conseguiu ter levar o teatro pra dentro da telona com uma naturalidade impressionante de se ver em filmes nacionais que tentam essa façanha, e só por isso já vale mais do que uma recomendação para ver, aliado então a fotografia e trilha sonora mágica, fica aberto o convite para que onde estiver passando que assistam. Claro que como disse e repito mais uma vez, é um longa diferente dos padrões novelescos tradicionais da comédia nacional, então pode ocorrer de muitos não gostarem de nada também, então se você gosta de uma pegada mais introspectiva dentro do humor a chance de gostar é maior. Bem é isso, começamos bem essa semana que será bem cheia e corrida, então abraços e até breve pessoal.


2 comentários:

Varandistas disse...

gostei muito da tua percepção, fernando!
valeu
abracao
caio soh

Fernando Coelho disse...

Nossa que honra ter o diretor vindo comentar em meu blog!!! Valeu Caio, que bom que gostou da percepção que tive do filme e mais uma vez parabéns por criar algo diferenciado do que somos "obrigados" a ver diante do cinema nacional. Abraços!

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