Clube de Compras Dallas

2/22/2014 02:32:00 AM |

Existem filmes que são feitos de forma a colocar os espectadores para pensar, outros apenas para se divertir comendo pipoca na sala escura e existem um tipo que quando surge ficamos pasmos por explicitar coisas que deveriam funcionar de uma forma que quando olhamos que ela não é correta choca e nos faz pensar como seria se estivéssemos no lugar dos protagonistas. Com "Clube de Compras Dallas" somos forçados a ver como os testes iniciais para tentar "salvar" pessoas contaminadas com o vírus HIV foram feitos do jeitinho mais cruel possível com todo o estilo de pessoas, e mostrando que o lado humano pode superar qualquer preconceito maior na hora da luta pela vida e sobrevivência.

O filme que é baseado na história real do eletricista texano Ron Woodroof nos mostra que após ser diagnosticado com o vírus da AIDS, na década de 1980, entra em uma batalha contra a indústria farmacêutica e os próprios médicos, passando a contrabandear drogas ilegais do México para concluir seu tratamento.

O trabalho feito no longa é algo que muitos podem falar que por ser uma história real é mais fácil para um diretor recriar tudo, mas muito pelo contrário, pois sofre a pressão de não esquecer detalhes que muitos irão julgar inadmissíveis e outros até vão relevar, e aqui Jean-Marc Vallée provavelmente entrou de alma na vida dos portadores do vírus para saber como passavam, toda a discriminação e os efeitos colaterais que o real Woodroof ou algum familiar pode ter detalhado para os roteiristas. Com essa análise profunda de elementos, o que nos é remetido o tempo todo no filme é como alguém que luta todos os dias com a morte pode mudar seus conceitos, sem perder suas raízes claro, afinal malandro vai ser malandro até dentro do caixão. As transformações significativas de humor que o diretor conseguiu extrair dos atores é digno de segurar o filme totalmente e a cada ato eles conseguem nos prender mais ainda nos seus feitios, fazendo com que os dois atos mais fortes nos emocionem mais pelo envolvimento que acabamos tendo com cada personagem do que pelo ato em si.

Se tem uma coisa que me deixa abismado nos filmes é a capacidade que os atores se dão para criar o corpo para os personagens, alguns engordam, outros tomam hormônios para ficarem mais fortes, e alguns emagrecem monstruosamente para se caracterizar, e aqui os protagonistas perderam 20 e 18 kilos cada um ficando realmente da forma que as pessoas que contraem o vírus acabavam ficando e mais do que isso cada um faz seu personagem com a perfeição máxima que estão lhe rendendo prêmios. Matthew McConaughey melhora consideravelmente a cada personagem que interpreta, e se tem alguém que pode roubar o prêmio de DiCaprio esse ano é com certeza essa sua atuação impactante e bem colocada que fez para um personagem difícil e muito técnico, onde poucos conseguiriam encaixar com singelos atos tudo que o ator expõe com sua expressividade interessante. Jared Leto era o patinho mal encaixado de Hollywood, pois sempre fazendo papéis ruins optou por decolar sua banda e voltar somente agora com algo que pudesse mostrar realmente tudo que é capaz, e fez Rayon como se não fosse mais voltar a fazer cinema, dando vida para um travesti sem caricaturas, muito menos pejorativos comuns de aparecer em personagens do estilo, e se já ganhou vários prêmios por aí, sua consagração tem de vir com o homenzinho dourado para fechar bem. Jennifer Garner consegue segurar um papel sem muito alarde e trabalhar seus diálogos sempre a favor dos dois protagonistas para que o longa nos prendesse sempre a eles, e essa função de coadjuvante poderia até ter perdido o foco caso ela puxasse algo a mais para seu lado e criasse alguma relação romantizada errada para a trama. O longa é repleto de vários coadjuvantes que se encaixaram bem para a trama, cada um da sua maneira, mas os momentos mais chocantes estão nas falas de Denis O'Hare pois são as atitudes mais compradas que poderíamos esperar de uma pessoa e ele conseguiu agir de forma tão natural que mesmo fazendo tudo que faz ainda agrada no quesito atuação.

Visualmente poderiam ter abusado um pouco mais de coisas da época, pois mesmo tendo acontecido apenas 30 anos atrás, havia muitos detalhes ricos que cairia bem para a trama, não que tenham deixado de lado elementos cênicos que são bem usados até, mas caberia usar muito mais para que não ficasse apenas nas mãos dos atores toda a responsabilidade do filme. As vestimentas foram bem pesquisadas ao menos para retratar tanto o cowboy texano quanto as pessoas da época, no caso tudo que Rayon usa. A fotografia usou bastante do tom amarelado para segurar a onda de época, mas sempre utilizando muito branco também, afinal estamos com um tema muito ligado a hospital e ficaria feio um hospital amarelo. Agora nesse quesito técnico visual uma bela cena que pode ser ligada com muita simbologia é o momento da última ida de Ron ao médico mexicano quando entra na sala com a luz piscando, tendo um ar muito bonito de se ver.

Enfim, é um filme muito bem trabalhado principalmente no quesito dramático de atuações, com muita história para ser contada e que no final agrada bem pela montagem realizada. Vale muito a pena ser conferido para ver o show que os atores dão em cena e para conhecer uma época bem sombria que começou lá e ainda mata muitos até hoje. Quem tiver algum amigo/parente que morreu devido ao vírus talvez se conecte mais com a história por ter visto o que eles passaram, então pode ser um pouco mais forte o filme, mas mesmo assim ainda recomendo o longa. Estarei na torcida para os dois atores e se vier qualquer outro prêmio também para o longa será de bom tamanho, pois o filme é bem bacana. Fico por aqui hoje, mas nessa semana ainda teremos muitos posts por aqui, então abraços e até breve pessoal.


1 comentários:

Tato Mansano disse...

Este está no TOP 2 da temporada, perdendo apenas para Gravidade. Os protagonistas dão um shooooooow. E o que vc falou sobre o Jared faz todo sentido, fugiu totalmente da caricatura. Um excelente roteiro, uma excelente direção, atuações impecáveis! Mereceu os Oscars que recebeu...

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