O Anel de Eva

6/03/2024 01:02:00 AM |

Uma das coisas que reclamo um pouco demais nos dramas nacionais é a necessidade do autor querer se verter para um estilo novelesco, que muitas vezes me perguntam o que é isso, e a resposta mais fácil é a de desenvolver histórias que saiam dos personagens principais, precisar colocar situações que até tenham seu valor no roteiro, mas que não agreguem muito ou até atrapalhem, e por aí vai sendo esses alguns dos principais exemplos. E comecei o texto do longa "O Anel De Eva" dessa forma pelo simples motivo de que temos uma trama interessantíssima de temática, algo que posso ter visto de relance em algum outro filme, mas nada tão profundo de desenvolvimento no país, que entrega atos bem colocados e marcantes, mas acaba fugindo para alguns elos como da sobrinha, do romance da protagonista com o outro rapaz no passado, e quando precisaria talvez trabalhar mais a síntese do nazismo e dos soldados que se asilaram pelo interior do nosso país acabaram fazendo tudo bem rápido, ou seja, esse é um defeito do drama novelesco, que aqui foi simples e acabou não cansando, mas em muitos casos, passam até por cima da história principal. Dito isso, a trama tem uma pegada bem marcante, com atuações bem colocadas, e um mistério bem colocado na vida da protagonista, afinal sem saber sua origem começa a descobrir um passado nada bom na região, e passa a ligar os pontos para conseguir esclarecer tudo, e também quem sabe apagar isso, ou seja, tudo o que um bom filme do gênero pode entregar, que se não tivesse recaído tanto para algumas quebras seria incrível de ver, mas que ainda assim indico com certeza para todos conferirem à partir do dia 13/06 nos cinemas, afinal quem tem problemas com o modo novelesco sou eu!

A sinopse nos conta que após a morte de seu pai adotivo, Eva Vogler é surpreendia ao receber um relicário acompanhado de um bilhete: “abra-o somente se achar necessário”. Ao revelar o conteúdo da pequena caixa, Eva depara-se com objetos incomuns que remetem às suas origens: um anel com um brasão nazista com a inscrição “Eva, 1945” e fotos que podem ser de sua mãe biológica – uma mulher negra cercada por crianças brancas no alpendre de uma fazenda. Eva está diante do quebra-cabeças de sua identidade. Todas as certezas de Eva são postas em xeque, quando a sua investigação a conduz para uma propriedade arruinada, a Fazenda do Alpendre, onde a figura do velho alemão Martin Hirsch, trará respostas e perigo para a sua jornada.

Diria que a estreia do diretor Duflair Barradas foi um pouco insegura demais, de tal forma que ele pegou um roteiro com muitas aberturas e acabou se perdendo um pouco nelas, pois claro a história da garota e sua conexão com a tia deveria ser pontuada, a ligação dela com a professora de alemão também, mas não estender isso para um relacionamento, colocar ligações homossexuais e explosões familiares que deram muitas quebras para a trama, deixando por vezes até a protagonista em segundo plano, e isso é uma regra máxima do cinema que não pode ser quebrada. Porém, ainda com esse defeito, ele deu boas nuances para toda a trama, conseguiu contextualizar bem o tema, e até deu um bom fechamento para o conflito entre a protagonista e seu passado, mas se tivesse focado mais nisso, e menos nos arcos dramáticos secundários, seu filme iria certamente para um outro patamar que impressionaria bastante e funcionaria muito mais, mas como disse, é sua estreia, então ainda dá para melhorar nos próximos.

Quanto das atuações, Suzana Pires é uma atriz bem cheia de traquejos que se dá bem em vários estilos, e aqui sua Eva tem uma pegada bem séria, com a cara fechada em quase todas as cenas, de tal forma que não deixou se abrir em momento algum, e mesmo alguns atos aonde passou um pouco de emoção o semblante seco ficou bem marcado, o que acaba agradando e sendo interessante de ver. Um dos personagens que valeria ter sido melhor trabalhado foi o de Odilon Wagner, pois o ator é bom e seu Martin acaba sendo deixado quase que em segundo plano na maior parte do filme, o que é ruim, afinal o papel dele é muito mais importante que praticamente todos os demais que aparecem em cena, ou seja, ele fez o que deu nos seu atos, sendo truculento e imponente, mas quase não entra na tela, o que acaba sendo uma grande falha (não dele, e sim da direção!). Quanto aos demais, a jovem Laíze Cãmara trabalhou bem os atos de sua Aurora, não sendo emocional demais, mas também não deixando ficar oculta, enquanto Sandro Lucose ficou um pouco açucarado demais com seu Pedro, parecendo ser daqueles que querem um romance a qualquer custo na trama, o que não era a ideia do longa.

Visualmente a trama que foi filmada em Cáceres-MT teve um ar rural bem incorporado, mostrando muito da caça de porcos-do-mato que invadem as fazendas por lá, trabalhando bem um ar intimista da protagonista enlutada, com sua mãe adotiva, amigos e outras pessoas da cidade, vemos um pouco de busca nos registros de um hospital, alguns almoços em restaurantes, e claro a fazenda do alemão com muitas fotos e coisas mais rústicas de uma produção pura, ou seja, a equipe de arte soube criar bem a cenografia para ser representativa, e a equipe de fotografia acertou bastante nas cenas mais escuras para dar tensão e com um sol incrível de contra-plano na conversa com a sobrinha.

Enfim, é um bom filme com uma história interessante de ser conferida pelo diferencial no contexto, mas que falhou um pouco na execução, o que é comum em primeiras direções, mas ainda assim vale a recomendação de conferida para se pensar mais no que pode ter rolado no interior do nosso país quando o nazismo caiu, e quem sabe um pouco do reflexo do que temos visto nos últimos anos, então fica a dica. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da Elo Studios que deu uma super atenção para conferir a cabine, e volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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