O Amor Dá Voltas

12/23/2022 12:19:00 AM |

Direto quando alguém vem puxar assunto sobre filmes e gêneros a pergunta que mais ouço é se não tenho medo de ver vários filmes de terror e depois não conseguir dormir, e minha resposta é sempre que não, que meu medo é ver filmes românticos, pois se o diretor/roteirista derrapar em uma vírgula vira um novelão chato de doer, e se não tiver química entre os protagonistas o resultado soa extremamente artificial, o que nos demais gêneros é muito fácil de ajustar e enganar o público, enquanto nos romances não rola. Dito isso, fui conferir o novo lançamento nacional nos cinemas com muito receio do que encontraria na telona, pois "O Amor dá Voltas" tinha todas as possibilidades imaginárias de virar uma novelona, e felizmente não aconteceu isso, pois foi trabalhado bem toda a alegoria das cartas de um modo bem subjetivo sem precisar ficar focando tanto nas histórias escritas, deixando o desenvolvimento dos atores num road-movie bacana da cidade até uma praia bem longe, e o principal do jovem ser bem lento, pois qualquer homem normal mesmo apaixonado pela irmã na metade do caminho já teria se ligado nas intenções da garota. Ou seja, é um filme que tem um estilo bem feito, tem boas sacadas dinâmicas e que funciona bem, que só não é melhor por faltar um pouco mais de amor no ar entre os personagens, pois todos foram frios demais, mas acredito que era a ideia do roteiro.

O longa conta a história das confusões, encontros e desencontros amorosos de André, um jovem médico que passa mais de um ano fora do Brasil trabalhando na África como voluntário médico para as pessoas mais necessitadas. Apesar da distância, ele decide continuar mantendo contato com sua namorada de longa data através de cartas. Ele só não imaginava que quem estava recebendo e respondendo suas correspondências era Dani, a sua cunhada, por quem se passava por ela. Por conta disso, André se envolve em um triângulo amoroso, entre sua namorada atual e a "namorada" que ele trocava as cartas durante sua estadia em outro continente e precisará se entender com as duas, proclamar seu verdadeiro amor por Dani ou sua namorada, ou nenhuma das duas.

Lá no começo de 2012 eu já tinha feito mil elogios para o estilo do diretor e roteirista Marcos Bernstein com "Meu Pé de Laranja Lima", e profetizava que ele iria decolar demais como diretor, porém não sei os motivos, mas depois disso escreveu mais alguns poucos e bons filmes e não dirigiu mais nenhum longa, o que é muito estranho visto sua qualidade, e agora posso dizer novamente que ele acertou em cheio para entregar uma trama que não fosse cansativa, que não tivesse traquejos de novela (mesmo com atores de novelas!), e trabalhando de uma forma bem simples e direta conseguiu entregar apresentações e dinâmicas com uma pegada rápida e sem precisar ficar elaborando muito. Ou seja, fez o básico muito bem feito e acertou no estilo, só sendo realmente uma pena faltar um pouco mais de fogo mesmo entre os personagens, parecendo um amor frio entre todos, o que poderia ter sido mais intenso e direto, mas ainda assim é daqueles que são gostosos de ver e não cansam.

Como já disse acho que faltou calor nas cenas românticas entre os protagonistas, mas não acho que a culpa tenha sido dos atores, pois todos tiveram um desenvolvimento cênico marcante, e com isso acho que faltou pegada no roteiro mesmo para que a química fosse maior, mas dito isso gostei muito de ver Igor Angelkorte com um ar bem ingênuo, trabalhando olhares e sentimentos bem marcados, de tal forma que seu André acabou tendo um estilo diferenciado dos homens tradicionais, e assim seu personagem teve uma boa cadência, mesmo não sendo um galã "pegador" como é costumeiro em longas do estilo. Cleo Pires dosou sua Dani para não soar explosiva, e isso acabou sendo bem bacana e inteligente, pois vemos uma personagem apaixonada, mas sem soar pegajosa, de tal maneira que chama atenção e cria as dinâmicas para com o protagonista, sem precisar ficar com ares bobos demais. Já Juliana Didone acredito que tenha ficado muito em cima do muro com sua Beta, tendo anseios explosivos em algumas cenas, em outras sendo sutil demais, e em outras com ares de dúvida, então faltou que o diretor lhe conduzisse melhor para um estilo só, mas não atrapalhou suas cenas, chamando a atenção como precisava e agradando de certa maneira.

Visualmente a trama tem uma boa pegada, tem alguns símbolos bem colocados como o apartamento abandonado do protagonista aonde ele por ser metódico refaz igualzinho a quando se mudou para a África, tivemos um começo bem rápido e interessante mostrando o acampamento dos médicos no país e toda a dinâmica das cartas e envolvimentos à distância, mostrou todo o lance de desapego do protagonista por tecnologia, fazendo sua limpeza digital e por isso o motivo de não usar métodos mais atuais de comunicação, teve todo o processo de road-movie com os personagens passando por restaurantes de estrada, com músicas bregas e bem colocadas, toda a dinâmica de uma pegação mais ríspida e divertida, o lance do motel da cidadezinha ser lotado, uma blitz simples e claro a casa da praia com nuances bem fortes de tempestade para dar o devido simbolismo do conflito entre os personagens, ou seja, a equipe de arte trabalhou bastante e chamou a responsabilidade para si, sem errar de forma alguma.

Enfim, é um filme bem feito, com uma proposta direta e objetiva, que envolve o público, e que passa bem perto de ser algo perfeito do gênero, faltando um pouco mais de paixão mesmo, que aí seria memorável, mas que funciona bem para quem curte romances mais levinhos, e quem gosta de um passatempo envolvente, pois já disse que não cansa e não tem estilo novelesco, então é só ir e aproveitar. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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