Até os Ossos (Bones and All)

12/03/2022 07:30:00 PM |

Já disse algumas vezes que o gênero terror é o que mais tem abertura para ideias insanas de diversos subgêneros, e agora seis que tivemos um romance entre canibais num road-movie da garota em busca da mãe em "Até os Ossos", de forma que vemos algo até que interessante, cheio de desenvolturas e situações, aonde até sentimos os protagonistas como pessoas "normais" dentro do mundo deles, com a garota conhecendo um pouco mais agora que chegou na maioridade e sua fome passou a ser maior, vemos suas ânsias e interações, e claro o romance sendo criado entre eles, de forma que até dá para se envolver bem com tudo, e o resultado embora estranho até agrade bastante, mesmo sendo um filme bem lento, com nuances mais artísticas, aonde tudo leva a pensar como somos normais perto de tantas pessoas diferentes.

O longa conta a história de primeiro amor entre Maren, uma jovem que aprende a sobreviver à margem da sociedade, e Lee, um andarilho intenso e marginalizado, quando eles se encontram e se unem para uma odisseia de mil milhas que os leva pelas estradas secundárias. passagens escondidas e alçapões da América de Ronald Reagan. Mas, apesar de seus melhores esforços, todos os caminhos levam de volta a seus passados aterrorizantes e a uma posição final que determinará se seu amor pode sobreviver à sua alteridade.

Os filmes do diretor Luca Guadagnino sempre são sempre estranhos, isso é um fato que quem nunca viu nada dele e for achando que verá apenas um romancinho bonito pelo pôster e não entender muito do trailer irá sair chocado da sessão, afinal a trama que é baseada no livro de Camille DeAngelis envolve canibalismo com muitas mortes pela longa jornada de autoconhecimento que a jovem enfrenta nesse road-movie completamente diferenciado. Claro que é um filme que brinca bastante com o brilhantismo de estilo artístico que o diretor já demonstrou em todos os seus filmes anteriores, tem toda uma pegada diferenciada cheia de nuances que o estilo permeia, mas é lento, cansa com o desenrolar da trama, e mesmo tendo um ar forte não impacta como deveria, ficando no meio do caminho tanto do romance quanto do terror violento, sendo a junção de estilos mais estranha que puderam pensar em fazer. E isso quer dizer que é um filme ruim? Muito pelo contrário, é um filme bem ímpar que chama atenção por onde passa, e que se você não ligar para algo lento vai curtir bem os traquejos colocados na trama.

Sobre as atuações, Taylor Russell soube encontrar o meio perfeito entre uma pessoa cheia de dúvidas e alguém com fome para fazer sua Maren, pois sua personagem até tem momentos meio que bobos e com ares estranhos de ver, mas funciona demais dentro da proposta da trama, ao ponto que não sei se no livro é assim, mas acredito que deveriam ter encontrado a mãe bem antes para que os atos finais fossem maiores e não tão rápidos, que ali sim ela foi um pouco melhor, mas não temos como mudar algo já feito, então digo que faltou atitude para mudar o miolo para algo que chamasse mais atenção. Da mesma forma, Timothée Chalamet teve alguns atos meio que mornos para seu Lee, mas foi bem impactante nos atos mais violentos, mostrando que não é apenas um jovem galã, e sabe ser visceral com estilo, então só faltou trabalhar mais isso que o filme iria mais além, mas foi bem no que fez pelo menos. Agora quem deu show em pouquíssimas cenas e merecia muito mais foi Mark Rylance com seu Sully, pois o ator trabalhou olhares, tons de voz, e até mesmo simbolismo em suas nuances, desenvolvendo cenas fortes e densas, e criando ares tão marcantes que acabamos presos neles querendo mais dele, ou seja, roubou as cenas que aparece para si, e por isso meio que deixaram ele bem secundário para não apagar os protagonistas. Ainda tivemos outros personagens mais secundários, como Michael Stuhlbarg com seu Jake explicando o nome do filme, mas teve apenas uma cena para chamar de sua, então nem foi algo tão impactante, então o destaque recai para André Holland como o pai da protagonista, que também apareceu pouco, mas que deixou sua voz ecoando até os atos finais com a história da garota.

Visualmente a trama é bem interessante, entregando um road-movie por vários estados e cidades americanas, com os protagonistas se deliciando de pessoas que passam pelo seu caminho com muito sangue nos corpos, muitas moscas, figurinos ensopados e tudo mais que se possa pensar de ver com pessoas devoradoras de carne humana, temos carros simples, mas simbólicos e todo um bom envolvimento de luzes para dar um clima mais romantizado para um filme violento, e assim o resultado cênico acaba chamando bastante atenção, sendo representativo e interessante.

Enfim, volto a frisar que é um longa artístico, que já passou por vários festivais e causou burburinho em todos, então não espere ir conferir ele como algo comercial (como eu fiz), pois a chance de não entrar tanto no clima é bem alta, e principalmente não vá esperando um romance tradicional, senão vai odiar cada minuto da trama, então a dica é ir sabendo do que se trata, entrar na ideia por completo, e o resultado final vai acabar sendo bem bacana de recomendar. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até lá.


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