Socorro, Virei Uma Garota!

8/23/2019 01:23:00 AM |

Alguns filmes chegam aos cinemas com propostas diferentes, e muitas vezes o público acaba não se encontrando com a ideia, pois muitos olhares recaem para um estranhamento e ficamos naquela dúvida: será uma comédia ou um filme com uma pegada mais moral? E isso é o que acabamos vendo em "Socorro, Virei Uma Garota!" que estreou hoje nos cinemas, e pelo trailer parecia algo bem mais cômico, que faria o público gargalhar com uma proposta excessiva e talvez até forçada, mas felizmente se verteu para um outro lado, uma comédia mais pautada, com lições bem colocadas sobre as diferenças, trabalhando bem o lado da amizade, e principalmente usando boas sacadas casuais para que o filme fluísse sem precisar apelar, de modo que lembramos de vários bons filmes do estilo, mas em momento algum conseguimos achar algo exatamente igual, o que é ótimo, pois entrega então um filme jovem, com um elenco muito bem colocado, que não vai agradar somente o público teen, mas sim quem gosta de uma boa história que vai fazer você se divertir e ficar feliz, mesmo que não saia rolando da sala do cinema. Ou seja, um longa que passa longe da perfeição, mas que pelas boas pegadas e dinâmicas bem encontradas, resulta num filme agradável e gostoso para todos curtirem no cinema.

O longa conta a história de Júlio, um garoto tímido, praticamente invisível aos olhos de seus colegas de colégio, que um dia, ao ver uma estrela cadente, faz um pedido: deseja ser a pessoa mais popular da escola. Logo ele se transforma em uma garota, Júlia, que é extremamente popular. Sem saber como lidar com o corpo feminino que acabou de ganhar, ele precisa ainda lidar com a proximidade de Melina, a garota por quem é perdidamente apaixonado.

É interessante ver o estilo que o diretor Leandro Neri encontrou para trabalhar sua trama, pois ele soube dosar um pouco de vários estilos que o roteiro de Paulo Cursino foi desenhado, criando vértices bem rápidos, mas que principalmente não passam despercebidos, de modo que vemos sua habilidade em trabalhar com os jovens (quem não o conhece, ele dirigiu diversos episódios do antigo seriado Sandy e Junior, além de algumas novelas) acontecer e ir encaixando cada momento com boas sacadas, criando piadas ácidas, mas sem apelos, e sabendo aonde a trama poderia atingir, pois já disse que o trailer passou o filme como sendo uma comédia daquelas bem escrachadas que seria até impactante pelo desenrolar proposto, mas na composição final acabamos vendo um filme realmente (fiquei com muito medo de ver uma novela teen!!) aonde os personagens são bons, a história convence e o desenvolvimento funciona, ou seja, um filme que não desaponta, e ainda passa boas lições de entender as diferenças, dar valor a algumas coisas que não vemos normalmente, e tudo mais que uma boa trama teen deve ter para agradar não só ao público teen, mas também aos pais e adultos que forem conferir.

Com um elenco bem jovem, e praticamente desconhecido da maioria, o diretor soube usar boas qualidades de cada um para desenvolver os papeis, pois não teve a sorte de poder contar com carisma ou fãs deles nas sessões (já notei bem isso hoje que na primeira sessão da noite tinha apenas eu e mais uma jovem na sala, ao contrário do que costuma com a maioria das comédias nacionais!), e dessa forma o resultado acaba sendo bacana de ver e conhecer um pouco mais dos personagens, e até valeria uma leve alongada para conhecermos um pouco mais do Júlio, já que seu papel é bem rápido, e nos atos de Victor Lamoglia vemos que o ator daria super bem com mais cenas, pois o ator tem dinâmica e conseguiu trabalhar tanto os vértices mais bobos do começo, quanto as coisas mais imponentes do final. Thati Lopes soube segurar muito o clima e o tom do filme com sua Júlia, entregando ao mesmo tempo boas sacadas cômicas para a personagem, encontrando atos desengonçados para a personalidade (alguns até demais), mas principalmente sabendo dosar as expressões nas cenas mais melódicas, o que raramente vemos em artistas cômicos, e esse acerto certamente mostra que a jovem pode jogar bem em ambas as posições, e aqui já mostrou seu potencial. Leo Bahia foi bem encaixado como Cabeça, e trabalhou bem as jogadas de amizade, as desenvolturas para com os problemas de ambos os protagonistas, e acabou agradando bastante mesmo com um personagem que quase ficou apagado na trama. Manu Gavassi ficou meio de lado com a personalidade de sua Melina, não chamando muito a atenção nos momentos chaves, e isso não é algo legal de ver, pois poderia ter sido daquelas personagens que causam mais, e aqui foi apenas elo de paixonite do protagonista. Quanto aos demais, temos de pontuar os bons destaques de Nelson Freitas como o pai da protagonista, e alguns rápidos atos de Kayky Brito como o irmão que foram bem sacados nos dois mundos, e Lua Blanco como a irmã de Cabeça, e colocar como destaque negativo os exageros para cima de Lippy Adler como Douglas.

No conceito artístico da trama, não tivemos muita ousadia por parte da equipe de arte, mas nada que atrapalhasse a trama, tendo apenas um colégio com suas aulas, alguns passeios por shopping, um acampamento bem breve numa praia e alguns momentos nas casas dos protagonistas (essas com um de filme americano já que foi filmado em um condomínio de casas bem bonitas sem portão), ou seja, o básico bem feito para compôr o cenário mesmo, de modo que o longa casaria bem até mesmo numa peça teatral, pois o bom da trama é o texto em si e seu desenvolvimento, e assim sendo nem se preocuparam tanto com a produção em si, destaque apenas para a equipe de maquiagem que fez Nelson Freitas ficar bem engraçado nas partes de Júlia. E quanto dos efeitos do meteoro, poderiam ter trabalhado um pouco mais!

Enfim, é um longa gostoso de assistir, mas que certamente muitos irão reclamar da falta de cenas mais cômicas, pois as que realmente fazem rir já estavam presentes no trailer, e o restante acabou sendo pitadas bem espalhadas aos poucos, deixando que o lado mais emotivo/romântico/dramático predominasse na trama. Ou seja, recomendo a conferida pela essência gostosa da trama, pelos bons tons de discussão que pode levantar sobre gênero, sexualidade, amigos, família, mas poderiam ter feito rir um pouco mais. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos das estreias, então abraços e até logo mais.

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