Cyrano (Cyrano de Bergerac)

6/06/2019 02:15:00 AM |

Não costumo postar textos de filmes antigos muito antigos aqui no site, mas como hoje o projecionista se confundiu com os nomes dos filmes do Festival Varilux de Cinema Francês, acabei vendo o clássico do Festival, "Cyrano de Bergerac", que lançado em 1990 na França, e em 1991 no Brasil, como era bem novo certamente não me lembrava de ter visto o longa inteiro, ou sequer uma cena exibida talvez alguma vez na TV, e digo que embora seja cansativo por ser falado quase todo rimado pelos protagonistas, a trama soa bonita, é bem interessante o estilo da época, e principalmente que a remasterização da cópia para os cinemas está perfeita, com cores bem nítidas nem parecendo ter granulações e falhas comuns de se ver em obras antigas, que eram filmadas e exibidas em película, ou seja, a projeção em alta definição acabou agradando visualmente. A trama em si é bacana pela ideia de amor pelo interior versus o amor pelo visual das pessoas, algo que já foi bastante debatido em diversos longas, e aqui a sacada é bem colocada e moldada em diversos momentos, mas como a história trabalha uma época cheia de guerras, e entrega boas discussões entre os protagonistas, acabamos vendo algo um pouco mais rodeado, que alguns até podem gostar, mas que cansa muito e poderia ter sido melhor trabalhado indo direto ao ponto.

O longa nos mostra que o poeta sentimental, filósofo emotivo e dualista hábil, Cyrano é apaixonado pela bela Roxanne, mas não paquera ela por vergonha do seu grande nariz. Ao invés disso, ele escreve cartas de amor para o lento, mas charmoso Christian para que ele conquiste a mão da donzela. Ela acaba se apaixonando perdidamente pelo autor, mas não sabe que foram escritas pelo Cyrano.

Diria que o diretor Jean-Paul Rappeneau seguiu bem os estilos da época, pois mesmo não lembrando de ter visto o filme nos anos 90, lembro de outros filmes, novelas e até desenhos que procuravam rimar tudo na trama, parecendo até algo ensaiadinho, tanto que tínhamos na escola os famosos jograis e paródias aonde pegávamos alguma música conhecida bem rimada para criar algo com o que estávamos estudando (nossa voltei no tempo bastante!!), e trabalhando bem para que o filme passasse sua ideia da vergonha do protagonista pelo seu nariz, mas nunca deixando que fizessem piada com ele, o conteúdo romantizado pelas cartas, pelos belos poemas românticos que são utilizados, e até mesmo pela desenvoltura criada com grande estilo, acaba mostrando que o diretor não só colocou virtudes clássicas para sua obra, como se fosse feito hoje, o longa teria algo do mesmo estilo só com algumas dinâmicas mais pontuadas, pois para envolver poeticamente só dessa forma. Outro fato bem interessante é que costumo sempre achar muitos erros em longas mais antigos, e aqui felizmente a trama embora tenha alguns atos engraçados, o resultado geral é bem perfeito de detalhes.

Sobre as atuações, vemos um Gérard Depardieu muito bem sacado, já na sua época áurea encaixando um Cyrano cheio de trejeitos, expressividades e bons momentos, de modo que acabamos nos divertindo bastante com suas sacadas, e ficando envolvidos com seus poemas, o que é bem interessante de ver. Vincent Perez estava bem no começo da carreira quando gravou o longa, e é completamente notável seus trejeitos sem muita direção, meio apavorado com os atos de seu Christian, e encontrando apoio no protagonista, quase todas suas cenas parecem bem iguais, sem muita desenvoltura, mas que não chega a atrapalhar. O mesmo vemos com Anne Brochet, que entrega uma Roxanne emocionada com os poemas, cheia de brilhinhos nos olhares, e toda romântica nas atitudes, trabalhando sempre com um estilo leve, e até bobinho de ver, mas acaba soando verdadeira em muitas das situações, o que acaba agradando. Jacques Weber entrega um personagem imponente, mas com umas desventuras meio que jogadas na tela, de modo que seu Comandante é ousado em estilos, mas exagerado de trejeitos, o que acaba pecando um pouco no estilo, mas nada que atrapalhe.

Visualmente o longa é cheio de incríveis locações amplas, detalhes minuciosos e muito estilo nos figurinos, o que acabou lhe garantindo um Oscar em 91, de modo que cada ato na trama é de um luxo, cheio de ambientações bem colocadas tanto nas cenas dentro das casas, teatros até chegarmos numa guerra lotada de adereços e simbologias, o que acaba agradando demais. A fotografia tem muitos tons escuros, mas sempre com um desfecho certeiro para que a trama não tivesse uma densidade dramática tão impactante, ou seja, um filme com uma pegada cômica bem leve, mas que não exagera em ambientes coloridos, deixando a trama clássica como deveria.

Enfim, é um filme até bacana, que mesmo sendo antigo possui uma pegada característica, e não fica preso no estilo, principalmente pelo conceito de época, que tanto vemos sendo representado em outros filmes atuais, ou seja, facilmente vemos o longa com boas atuações, boas cenografias, e um texto até bonito de ser ouvido, mas que pelo exagero de rimas e diálogos, acaba cansando mais do que o normal no formato, ou seja, poderia ser menor, ou trabalhar mais as cenas visuais deixando um pouco as cartas de lado, que todos já saberiam o que desejavam mostrar, e ainda assim envolveria mais. O longa ganhou diversos prêmios na época, foi indicado a mais uma tonelada, então passa bem longe de ser algo ruim, apenas sendo cansativo, mas quem desejar rever ele, estará em cartaz no Festival Varilux de Cinema Francês, que quem quiser saber melhor os horários só clicar ao lado na programação da cidade ou no site deles com outras cidades. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve, afinal nessa semana teremos muitos outros posts.

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