Todo O Dinheiro Do Mundo (All The Money In The World)

2/03/2018 03:01:00 AM |

Cada vez que vejo um filme absurdo baseado em fatos reais, eu perco mais a esperança de que o mundo pode ter salvação, pois é nítido que quanto mais dinheiro uma pessoa tem, mais ela desejará e não ligará para os demais de sua família/amigos. Se você duvida confira com os próprios olhos a história de um dos primeiros bilionários do mundo e o sequestro de seu neto em "Todo O Dinheiro Do Mundo", um filme que sim teve algumas polêmicas por ter de trocar o protagonista envolvido nos escândalos de assédios de Hollywood, mas que mesmo se não tivesse todo esse burburinho em cima, seria um filmaço para conferir, pois a história é muito maluca, mas confesso que a substituição foi primorosa, pois todas as cenas que Christopher Plummer aparece é de arrasar com apresentação de nível máximo, ou seja, um filme completo que vai fazer você sair chocado com muitos momentos e ainda irá se divertir com diversas situações, mas principalmente irá fazer você pensar se realmente vale ser tão rico como o protagonista! Diria que a maior falha da trama é sua duração, pois mesmo não sendo cansativo, seus 132 minutos poderiam ser resolvidos em bem menos, mas não criaria a tensão completa que Ridley Scott gosta de fazer em seus filmes.

O longa nos situa na Itália, em 1973. John Paul Getty III é o neto favorito do magnata do petróleo J. Paul Getty, um dos primeiros bilionários da história da humanidade. O sequestro do rapaz coloca a sua mãe, Gail Harris, em uma corrida desesperada para convencer o ex-sogro a pagar o resgate milionário do filho. Frio, manipulador e mesquinho, Getty irá encarregar o ex-espião Fletcher Chase, seu homem de confiança, de descobrir quem e o que está por trás do crime, e solucionar o problema sem o desperdício de nenhum centavo de sua fortuna.

Como disse no começo, o maior problema da trama foi o exagero midiático em cima do caso da trama (que não estava vivo na época para dizer, mas pelo que é mostrado no longa, o caso foi bizarro e bem divulgado na mídia), e claro também do assédio de Kevin Spacey, que era o protagonista inicial da trama, e foi substituído sabiamente pelo diretor para que não apenas seu filme não fosse boicotado, mas sim virasse um caso de muita curiosidade pelo que acabou virando a montagem com cenas regravadas às pressas. E claro que o diretor Ridley Scott não faria nada sem muito show, e o resultado dessa mudança fez com que o filme ganhasse diversas indicações à prêmios, alavancasse a bilheteria, e mais ainda, o resultado como disse foi um grande acerto, pois Spacey era "jovem" demais para o papel, de modo que não daria a mesma vivência que Plummer acabou conseguindo incorporar e acertar no estilo de cena que o personagem pedia, ou seja, Scott não apenas acertou na mudança, como fez um filme primoroso, que de seus dramas, sem ser os épicos ou fantasiosos, acabou ficando como um dos melhores, e se talvez não tivesse deixado tantas sobras para a edição, com os diversos pedidos de resgate, as diversas negociações, idas e vindas para Londres, acabaria resultando em um longa mais enxuto, conciso e que seria perfeito, mas felizmente mesmo alongado acaba não cansando de forma alguma, e divertindo na medida, ou seja, um filme para ser lembrado.

O elenco de peso conseguiu trabalhar de maneiras bem interessantes, pois ao mesmo tempo que já elogiei muito o que Christopher Plummer fez com seu Getty, mostrando que avareza foi seu primeiro nome e que com boas negociações se deixa um bom legado (não vou falar muito sobre isso, senão estraga a surpresa do final), mas principalmente o ator mostrou que ao ser encaixado às pressas, ele foi determinante para que o longa não só decolasse como também mostrou que com quase 90 anos ainda é um ator de nível altíssimo, ou seja, perfeito para qualquer papel bom que desejarem lhe colocar. Michelle Williams mais uma vez foi precisa em suas expressões, criando nuances desesperadas para sua Gail, acertando em trejeitos, mas sabendo também dosar cada momento com serenidade para entrar no jogo de negociações que era a vida de seu sogro, fazendo um papel bem colocado e que poderia até ser mais forte caso desejassem. Agora quem falhou e muito no papel foi Mark Wahlberg, pois sabemos que ele é muito mais expressivo e dinâmico do que o que acabou entregando com seu Fletcher Chase, aparentando por diversas vezes até estar desanimado com o papel, ficando em segundo plano a todo momento, e entregando poucas cenas que chamasse a atenção, de modo que qualquer outro ator mais barato faria o mesmo papel e agradaria bem mais, tirando uma única cena de grande afinco expressivo junto de Plummer, o restante é inútil em sua filmografia. Dentre os demais, temos de dar destaque somente para o jovem Charlie Plummer (que não é parente de Christopher!) que foi bem como o jovem sequestrado, fazendo cara de pânico e entregando cenas bem coesas para cada momento, sem ser exagerado nem atrapalhando o resultado dos demais, e junto com ele vem claro Romain Duris com seu Cinquanta que foi bem encaixado na proposta, demonstrou ao mesmo tempo o desespero e atitude de um sequestrador, mas também acabou encaixado como um "amigo" do sequestrado, trabalhando a performance com bons ares e valendo ser observado.

A equipe de arte entregou algo também bem elaborado, e exagerou até demais, pois de certo modo é interessante saber de onde veio o dinheiro do velho, mas não sei se seria necessário as cenas de abertura com ele em busca de petróleo e criando o imenso navio, pois só serviram para mostrar que Ridley gosta de esbanjar em suas produções e gastar dinheiro, um simples texto de abertura agradaria e funcionaria bem, mas nas demais cenas tanto na mansão quanto no cativeiro, tivemos locações incríveis, com muitos objetos cênicos para serem usados e cada um tendo funções primordiais para o funcionamento da trama, de modo que vamos incorporando cada ato, cada foto, cada atitude que os personagens acabam usando com os objetos até fecharmos completamente o longa com a sabedoria de como tudo foi usado, ou seja, um trabalho incrível de arte. A fotografia brincou com tons de época, usando muito marrom em diversas cenas, colocando a classe com tons cinzas nas cenas mais formais, e abusou de contrastes escuros, principalmente para não ficar falso a substituição do protagonista nas cenas que não conseguiram refilmar, de modo que até dá para saber algumas, mas a maioria vamos ter certeza de que tudo foi refilmado, e isso é um ponto positivo do acerto da equipe de fotografia por dosar bem as tonalidades.

Enfim, é um filme muito bom, que poderia ser ainda melhor se feito leves correções, mas com o tanto de problema que acabou sofrendo e quase nem sendo lançado, o resultado acabou sendo surpreendente e vale demais a conferida para tirarmos muitas conclusões e ainda nos divertirmos, ou seja, recomendo com toda certeza ele. E fico por aqui hoje, mas logo mais irei conferir a última estreia dessa semana, que é o longa com mais indicações à prêmios nesse ano, então já vou preparado para algo grandioso. Então abraços e até logo mais pessoal.

0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...