A Forma Da Água (The Shape Of Water)

2/04/2018 02:29:00 AM |

Incrível, essa é a palavra que define "A Forma Da Água", e não teria como não ser cheio de elogios para o trabalho de Del Toro, que ao criar um conflito lúdico entre a relação de um homem-peixe ou algo do tipo com uma faxineira muda, ambientando tudo isso no meio da Guerra Fria, e ainda adicionando pitadas singelas em meio à contrapontos críticos e preconceituosos acabou fazendo com que o longa empolgasse, emocionasse e ainda deixasse muita coisa em nossa cabeça para pensar, ou seja, um filmão que pode ser que ganhe muitos prêmios, mas mais do que isso certamente já podemos dizer que é o melhor filme que o diretor já nos entregou, e olha que ele já fez muita coisa boa! Alguns vão gostar menos da trama, mas nem por isso não irão dizer que o filme não lhe agradou, pois com toda atitude entregue, o longa vai marcar algo no público e com dinâmica bem pautada, e unindo arte de uma maneira bem diferenciada, o resultado vai além das expectativas ao criar algo visual e sentimental que poucas vezes vimos no cinema.

A sinopse nos conta que o longa se passa na década de 60. Em meio aos grandes conflitos políticos e transformações sociais dos Estados Unidos da Guerra Fria, a muda Elisa, zeladora em um laboratório experimental secreto do governo, se afeiçoa a uma criatura fantástica mantida presa e maltratada no local. Para executar um arriscado e apaixonado resgate ela recorre ao melhor amigo Giles e à colega de turno Zelda.

O estilo do diretor e roteirista Guillermo Del Toro é daqueles que ou você ama ou odeia, pois ele costuma trabalhar a fantasia de suas histórias em níveis extremos, entregando nuances bem diferenciadas para que cada momento flua em nossa mente e se desenvolva para uma reflexão, e aqui a grande diferença de outros grandes longas seus foi ousar mais do que o comum, pois ao juntar diversos estilos complexos, como filmes de espionagem, guerra, suspense, magia, romance e até comédia, em um único filme fez com que a visceralidade da trama encantasse e tivesse uma magia pura. Claro que para o filme ser perfeito ainda faltava que a química entre todos os protagonistas convencesse, e se existe um diretor que sabe colocar na ponta da agulha bons personagens com bons atores é Del Toro, de modo que cada um parecia ter sido escolhido na medida certa para o papel, e a cada ato eles permeavam mais instinto para que a situação do homem-peixe ficasse complicada pelo "vilão" que desejava estudar o bicho, a paixão da protagonista recaia mais e mais pelo ser, a amizade entre os dois deslocados da sociedade, e o afinco desesperado do cientista russo em poder voltar para seu país, juntou um grupo de elementos tão bem colocados para que a trama se desenvolvesse, que mesmo o longa tendo alguns leves deslizes exagerados, como necessitar mostrar mais que uma vez a protagonista se masturbando, alguns momentos na loja de tortas, entre outros, esses floreios acabaram não desgastando a beleza da trama, e com isso o resultado fica tão lindo e gostoso que vamos nos lembrar por muito tempo desse longa pela qualidade técnica e pela criatividade certamente bem dirigida de Del Toro.

Muitos estão falando bem das diversas expressões que os protagonistas fizeram, mas sem dúvida alguma temos de dar os parabéns para o companheiro de longa data de Del Toro, Doug Jones, que debaixo daquela roupa e maquiagem incríveis conseguiu trazer leveza para um personagem que facilmente poderia causar terror em muitos, e assim sendo, concordo com muitos que precisam urgente criar algum tipo de premiação para atores debaixo de fantasias e/ou computações para valorizar esses que fazem bem o cinema mais bonito e não mostram suas verdadeiras caras. Sally Hawkins que quase não vemos direito nos dois filmes do urso "Paddington", e lá fala a beça, aqui apenas no gestual deu um show de expressividade que não conseguimos tirar os olhos dela, de modo que a atriz se mostrou disposta a fazer de tudo e chamar muita atenção com sua pequenina Elisa, agradando em cheio com cada minúcia feita, e na sua cena de voz e sapateado arrasou também. Octavia Spencer é daquelas atrizes que já aprendemos a gostar, e hoje qualquer bom papel que pegue ela arrasa e chama atenção, de tal maneira que aqui sua Zelda nem é tão marcante e nem notaríamos como coadjuvante, mas dá tanta performance que acabou até indicada aos prêmios, e merecidamente. Agora achei engraçado a não indicação de Michael Shannon como coadjuvante, pois seu Strickland é de uma determinação como vilão com muita força e personalidade que chegamos realmente a ficar bravos com o que ele faz com o bicho, e com todos ao seu redor, ou seja, dentro da total personalidade de um vilão que tem de ser feita, e assim sendo deu um show na tela. Em seu lugar acabaram indicando Richard Jenkins com seu Giles doce e amigável, com total dinâmica bem incorporada e que agrada sim em todos os momentos seus, mas suas cenas junto do bicho são as melhores. Antes de ontem já falei muito bem de Michael Stuhlbarg em "Me Chame Pelo Seu Nome", e aqui fazendo um cientista russo infiltrado numa operação americana acabou dando show novamente de expressividade, deixando seu personagem tão misterioso, sempre aparecendo escondido e cheio de bons trejeitos algo que poderia ter até um filme a parte, mas veio a somar para a trama.

Um filme do Del Toro que não saímos babando e arrepiados pelo grandiosíssimo visual trabalhado não foi feito pelo diretor, e aqui cada cena foi melhor pensada que a outra, desde a brilhante abertura com tudo flutuando embaixo da água, passando pelo grandioso laboratório que mesmo as moças da limpeza limpando a todo momento parece encardido e velho, com muitos objetos cênicos para todo lado, na sequência temos a casa da protagonista e seu vizinho lotada de referências de época e mais ainda com o detalhe de ser em cima de um cinema de rua incrível de detalhes, e até mesmo os demais momentos foram eloquentes como a escolha de um carro para mostrar seu grande cargo, as nuances de guerra aparecendo a todo momento com soldados a paisana, ou seja, detalhes lúdicos, detalhes realistas, isso sem falar na excelente roupa de homem-peixe cheia de minuciosos detalhes como as luzes para expressar sentimentos e tudo mais, ou seja, um filme de arte realmente feito com diretores de arte de altíssimo escalão que não falharam em nenhum momento, incluindo até cenas em preto e branco com a magia de filmes e programas de TV, para abrilhantar ainda mais tudo. A fotografia com tons escuros deu um ar sombrio para a trama, mas sempre tendo alguns tons de sobreposição para ligar com o romance dos protagonistas acabou fazendo do filme algo mágico de interação, e claro que as cenas embaixo da água foram feitas com uma precisão incrível de nuances para que tudo fosse bem visto e funcionasse bem, ou seja, um show visual.

A trilha sonora de Alexandre Desplat sempre é fabulosa, e nos faz viajar, mas aqui ao contrário de nos fazer viajar em pensamento, acabou nos colocando dentro da trama, incorporando cada ato, dando o ritmo coerente para não termos nem um filme corrido e nem algo cansativo, ou seja, feito em minúcias para não parecer nenhum outro filme seu.

Enfim, um filmaço de fazer arrepiar, se emocionar e até querer aplaudir ao final, de maneira que suas 13 indicações ao Oscar foram completamente merecidas, seus prêmios que vem levando são completamente válidos e vamos torcer para vir muito mais, pois até agora foi o melhor sem dúvida alguma. E se você ainda está perguntando se recomendo ele, não perca tempo e vá para o cinema, pois é uma obra tão visual que quem ver em casa numa tela pequena, com imagem que não vai chamar atenção não sabe o que estará perdendo, pois mais do que recomendo, se pudesse exigiria que todos vissem. Bem é isso pessoal, assim termino essa semana de grandes filmes premiados e indicados, que agradaram demais, e agora é torcer para que todos os demais apareçam por aqui, então abraços e até a próxima quinta.

PS: Com os leves defeitos que citei até daria para retirar um ponto da trama, mas tudo é tão mágico que não posso ir contra minha paixão pelo longa.

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