Entrando Numa Roubada

9/06/2015 11:58:00 PM |

Tacamos tanta pedra no cinema nacional, que quando um filme interessante aparece, a procura acaba nem sendo tão grande, com o pessoal imaginando ser mais uma das bombas que frequentemente recebemos em nossas salas de cinema. Mas felizmente, "Entrando Numa Roubada" só possui o nome não muito agradável, pois se tem um estilo que é pouco explorado no Brasil é o tal de ação, e aqui a equipe pôs um road-movie de uma maneira bem interessante para acontecer e junto de enquadramentos dignos de premiação, conseguiu envolver e divertir numa produção diferenciada. Claro que o longa também possui muitos defeitos, que por ser a estreia do diretor, num próximo filme certamente deverá corrigir, mas já é um grande passo para sairmos dos tradicionais longas cômicos novelescos, que aí sim só nos metem em roubada nas sessões dos cinemas.

O longa nos mostra que o ator e roteirista Vitor ganha um prêmio de R$ 100 mil num concurso de roteiros e decide usar o dinheiro para filmar o “road movie” cheio de ação Aceleração Máxima. Para isso ele convida amigos fracassados: a ex-apresentadora infantil Laura, o ator Eric e o diretor Walter. Mas esse trabalho ganha novos rumos quando um dos atores quer usar o filme como pretexto para fazer um assalto e outro que quer se vingar do produtor, que lhe deu calote num projeto anterior.

Após uma carreira bem sucedida de compositor de trilhas para cinema, André Moraes resolveu atacar de diretor e roteirista nesse longa com a premissa de fazer algo diferenciado do que costuma aparecer em nosso mercado. E com essa ideia em mente, ele fez algo, que até já vimos em outros longas americanos, rodar um filme dentro de outro filme, e melhor ainda, colocar um road-movie de ação dentro de uma perspectiva bem trabalhada. Claro que a ideia original foi excelente, mas a história possui alguns furos absurdos na aceitação dos protagonistas do sub-filme interno da trama, que mesmo uma pessoa completamente desesperada, iria desconfiar de tudo o que acaba acontecendo, mas se desligarmos nossa fidelidade para os fatos, a curtição com tudo o que foi proposto é algo incrível e muito divertido de acompanhar. Agora, para quem está começando no ramo de direção, uma coisa é certa que temos de tirar o chapéu para o diretor, os enquadramentos propostos e realizados foram tão bem colocados na trama, que cada sequência tem de ser vista e sentida, e as realizadas na cena com JoeJoe ficou de um luxo que o texto quase que desaparece frente à beleza de tudo o que está ocorrendo ao redor, mostrando que ao menos o estudo do storyboard foi algo muito bem feito na pré-produção do longa.

Embora conte com algumas atuações exageradas, o resultado de cada personagem fica até que bem interessante de acompanhar, mas o diretor poderia ter segurado um pouco na pegada non-sense de algumas cenas que agradaria mais. Além disso, embora não seja o protagonista do filme, Marcos Veras trouxe um humor ácido para o seu pastor Alex, que certamente muitos acabarão incomodados com o que verão na tela, mas como é escrito na tela logo no início do filme é uma obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência, e ficou muito bacana todas as cenas que envolveram ele, bem como o fechamento do filme de uma forma bem inteligente. Lúcio Mauro Filho como o diretor Walter que tendo alucinações com os remédios, ficou muito divertido de ver nas cenas que imagina coisas, e sinceramente seria muito melhor deixar ele somente no sonho paralelo que o filme seria incrível, claro que o garotinho Jarbas interpretado por João Guilherme Ávila ficou com umas expressões bem forçadas, mas em algumas cenas encaixou perfeitamente junto de Lúcio, formando uma dupla bem conectada. Deborah Secco até possui algumas cenas sensuais para com sua personagem Laura, mas ficou bem em segundo plano na trama, e isso não é algo que mereceria ser destacado dela, afinal é uma excelente atriz que poderiam ter aproveitado mais dela. Júlio Andrade está deveras assustador com seu Eric, e se o filme fosse algo mais psicótico certamente o protagonismo dele cairia como uma luva para a trama, mas acabou se saindo muito bem no contexto geral e agradou no que fez. Assim como Deborah, Bruno Torres aparentou estar meio perdido em cena com seu Vitor, se achando o galã da trama e fazendo caras e bocas demais para suas cenas, claro que essa era uma das propostas da trama para o seu personagem, mas acabou exagerando demais na dose. Ana Carolina Machado até tentou parecer a mocinha inteligente da trama com sua Letícia, mas ficou meia deslocada em diversas cenas, e isso não cabe em um filme de ação. O longa contou também com diversas participações especiais, mas a melhor sem dúvida alguma ficou para Aramis Trindade com seu Armando/Joejoe, nem tanto pelas expressões que fez, mas sim mais pela cena em si, que foi um espetáculo.

O traço visual da trama também ficou muito bacana de ver, e inicialmente o longa aparenta quase um quadrinho na apresentação, uma pena que exagerada na narração over, mas que ficou muito bonito de ver, certamente ficou. E além disso, a equipe artística teve um trabalho bem interessante, afinal road-movies costumam não ter tantos elementos cênicos sendo usados e representados em tela, mas aqui tudo funcionou para que o longa se desenvolvesse, como as armas e equipamentos paraguaios, as próprias máscaras de assalto, os objetos cênicos do motel aterrorizante, cada posto de gasolina com seu estilo próprio, e isso é algo que me deixa muito feliz de ver num longa nacional, pois mostra a preocupação que andam tendo com mais coisas e não somente com o texto. A direção de fotografia usou de diversos tons para que a trama fosse trabalhada e dinâmica, mas usou muito da luz amarelada para deixar o filme com uma pegada meio western e isso caiu bem também, além claro de nos enquadramentos bem pontuais do diretor usar recursos escondidos que deram um show a mais no visual completo das cenas.

Como um bom compositor de origem, o diretor não poderia deixar essa parte de seu filme falhar, e junto do baterista americano Omar Akim deram um ritmo envolvente para o longa e fez com que o filme de 78 minutos aparentasse ter até uma duração menor ainda, não que isso comprometesse o resultado final e quiséssemos algo maior, mas já que o longa estava agradável daria para andar um pouco mais.

Enfim, um filme bem feito, que por bem pouco não ficou melhor ainda e seria daqueles filmes para lembrarmos sempre que nos perguntassem um excelente filme nacional, mas repito, como o gênero de ação não é algo tão trabalhado aqui, já é meio caminho andado para indicarmos ele quando nos pedirem um bom longa nacional de ação, e sendo assim até recomendo ele com certeza para quem procura algo do estilo, mas certamente ainda vamos ver muita reclamação de alguns mais exigentes, e também mais pra frente espero ver o diretor novamente acertando em cheio com outro filme. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto nesse feriado com mais alguns longas que irei conferir, então abraços e até breve.


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