Ouro, Suor e Lágrimas

8/10/2015 11:58:00 PM |

Certa vez me perguntaram o motivo de não ter tantas críticas de documentários aqui no site, e afirmei para a pessoa, que era principalmente por longas documentais recaírem quase que em sua integridade em festivais próprios ou comercialmente somente nas grandes capitais, mas este ano até que tem vindo uma quantidade razoável para o interior, e felizmente estou conseguindo conferir todos os que surgem por aqui. Outro grande motivo é o de muitos longas, principalmente os nacionais, desse gênero trabalharem o estilo documental muito mais pontuado para o jornalismo do que para a arte cinematográfica em si, e isso de certo modo, espanta um pouco o público dos cinemas. Por exemplo, esse novo longa "Ouro, Suor e Lágrimas" até mostra bem que a vida dos atletas de voleibol do país não possuem as melhores vidas que muitos imaginam, e como se esforçam para conseguir grandes feitos, mas além de ter pequenos defeitos de ângulos escolhidos e captação ruim de som, o filme ainda trabalhou em demasia de maneira jornalística para relatar e ilustrar cada um dos momentos que se passaram durante o tempo de captação, deixando os depoimentos apenas como suporte emocional e complementar das imagens, de modo que quem realmente não for muito fã do esporte pode se cansar ou nem ir conferir o filme.

O documentário nos mostra que entre 2000 e 2010, as seleções masculina e feminina de vôlei brasileiro trilharam um caminho árduo para conquistarem suas medalhas de ouro. Grandes nomes do esporte, como Giba, Murilo, Fabi e Fofão falam das dificuldades, enfrentando pedreiras como Rússia, Itália e Cuba. Sob o comando de Bernardinho e José Roberto Guimarães, esses jogadores contam como conseguiram chegar ao lugar mais alto do pódio.

É interessante ver que o formato que o longa foi finalizado, facilmente seria exibido em partes nos programas de esporte das emissoras de TV, mas como a produção é independente, isso já fica um pouco mais difícil, afinal dependeria de várias negociações entre produtora/distribuidora e afins. Não sei se foi com esse objetivo que a diretora Helena Sroulevich trabalhou durante os 6 anos que demorou para captar todas as imagens e montar seu filme, mas uma coisa é certa, ela poderia facilmente ter trabalhado mais o emotivo das entrevistas, e usado de menos imagens dos jogos ainda, pois em alguns momentos, as imagens parecem apenas jogadas dentro do filme para mostrar o sofrimento dos jogos, mas isso acaba não servindo muito para o contexto seguinte, afinal os depoimentos acabam repetindo o feito ou complementando de maneira vaga. Além disso, poderiam ter escolhido algumas tomadas melhores de vários depoimentos, pois ficou bem amador certos enquadramentos que não valorizam fundo, nem o corpo completo do entrevistado, parecendo uma cabeça solta falante com nada ao redor, e isso é feio demais de ver. Outro grande erro técnico do filme, que nem a mixagem consegui salvar, foi que alguns depoimentos usou-se de microfones simples para locais abertos, e com isso vento e interferências dominaram o que as pessoas falavam, e nem com toda a música de fundo, que é extremamente repetitiva, conseguimos assistir sem incomodar com o que acontece, ou seja, fica uma dica tanto para a diretora quanto para quem um dia for fazer documentário, microfone é o bem mais importante nesse estilo de filme, afinal em ficção você pode chamar a pessoa para dublar suas falas, mas em documentário isso é quase que impossível.

Sobre os entrevistados, tenho de falar apenas o básico, todos felizmente depuseram do modo mais descontraído possível, alguns até de certo modo parecendo que a câmera nem estava ali, enquanto outros procuraram encontrar palavras bonitas de motivação para se promover frente a outros, e isso é notável mesmo nos jogos de vôlei, então não seria diferente para um documentário que procurou explorar ao máximo cada um. Como disse poderia o filme ficar somente com as lembranças e treinamentos, que teríamos algo bem mais cativante do que mostrar as conquistas e jogos de ambas as seleções, repetindo manchetes de jornal como se o povo fosse completamente analfabeto ou o filme só tivesse sendo visto por crianças, então esse foi um dos grandes problemas da trama também, mas repito, quando o filme recaia para os mais humildes dos times, esses procuravam falar e agradar bastante nos depoimentos. Claro que também gostaríamos de saber mais sobre as intrigas e coisas que rolaram, que apenas são citadas, mas não desenvolvidas, para não desarmonizar tanto o longa, mas que isso daria muito mais história para o filme ter um pouco mais de dinâmica, certamente daria.

Enfim, o resultado do longa acaba sendo até que interessante para conhecermos um pouco mais da estrutura das seleções de vôlei do país, pois, ao menos eu, não sabia do complexo monstruoso que eles possuem para treinamento, academia, acomodação e afins, e isso mostra que existe sim investimento além do futebol no país (claro que bem menos, mas existe) e quem sabe o dia que todos os esportes individuais forem bem tratados como os das equipes, o país certamente terá as grandes quantidades de medalhas que outros países levam em Olimpíadas e Mundiais. Portanto não posso dizer que o documentário é uma maravilha, mas também está bem longe de ser algo ruim. Desse modo, acabo recomendando ele mais para quem gosta do esporte, do que para quem deseja conhecer um pouco mais da história do esporte. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã já com uma das estreias da próxima semana, então abraços e até breve.


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