O Som ao Redor

6/24/2013 12:00:00 AM |

Eu tenho como preferência filmes que seguem a tríade tradicional do cinema com começo, meio e fim, não importando a ordem que apareça, por isso alguns filmes que gostam de chocar largando um final aberto para discussões geralmente não costumam me agradar. Seguindo por essa linha, depois de quase seis meses que foi lançado comercialmente, eis que surge nos cinemas do interior "O Som ao Redor" que consegue até segurar bem a trama de suspense, causando um estranhamento do público em geral pela linguagem usada e principalmente pelas atuações estranhas, mas quando estamos esperando uma finalização condizente com tudo que nos foi apresentado, simplesmente o diretor resolve encerrar a trama de forma bem aberta, sem encerrar qualquer uma das situações que criou.

O filme nos mostra que a presença de uma milícia em uma rua de classe média na zona sul do Recife muda a vida dos moradores do local. Ao mesmo tempo em que alguns comemoram a tranquilidade trazida pela segurança privada, outros passam por momentos de extrema tensão. Ao mesmo tempo, casada e mãe de duas crianças, Bia tenta encontrar um modo de lidar com o barulhento cachorro de seu vizinho.

A ideia "politica" que o filme tenta passar do grupo de seguranças nem tanto me afetou por estar acostumado com isso, não sei o motivo de tanto falatório por aí, afinal desconheço cidades que não possuem esses guardinhas de rua que sempre aparecem quando acontece alguma coisa estranha na rua ou no bairro. Outro fato social envolvendo os empregados com patrões também tenta ser mostrado como fato constrangedor, mas é colocado de forma tão comum que vemos todos os dias nas casas que não espanta também. O fato é o filme se tivesse se apegado mais no ficcional e não tentado ser algo da vida comum talvez agradasse bem mais o espectador que foi ao cinema ver. Não digo que é uma história ruim, mas tudo acontece de forma tão devagar que o filme de 131 minutos aparenta ter muito mais, mesmo não cansando pela linguagem usada, mas vai rodando tudo de maneira que não vai acabar nunca e quando já estamos com tudo pronto para um gran-finalle, o diretor Kleber Mendonça Filho, que é ex-crítico e por isso acredito o tão grande lobby que fizeram de seu filme, simplesmente encerra o longa sem explicar nada do que ocorreu nas três histórias principais, largando o espectador abandonado com uma namorada que evapora após aparecer para a família mesmo depois de uma cena extremamente romântica, uma bomba entre os seguranças e o grande chefão do bairro, e uma explosão de bombas reais contra o cachorro. Ok, que podemos tirar enormes conclusões de cada fato, mas cadê a opinião do diretor? Pode parecer uma forma cômoda de assistir filmes, porém prefiro sempre ver a opinião formada do realizador à largarem a deriva um filme.

As atuações oscilam demais, desde medíocre até as sensacionais formas. Tudo bem que como disse o diretor quis passar algo como o mais natural possível, mas a maioria que estava ali presente são atores conhecidos até por alguma participação. Irma Brown pode até ser sua primeira aparição num filme, mas se depender do empenho que teve, apenas seu corpo nu serviu pra algo no filme, pois mais parecia estar lendo o texto nos momentos que falava do que estar atuando. Sebastião Formiga trabalha bem, dialoga bem, mas em algumas cenas aparenta ser simples demais para um personagem que poderia decolar, à exemplo da cena do apartamento que faz cara de de paisagem. Maeve Jinkings é uma das melhores no filme, apesar da cena desnecessária da máquina de lavar roupa, consegue passar bem o drama que é ouvir o barulho de cachorros chatos na vizinhança. E claro Irandhir Santos que não erra nunca, mesmo tendo um papel "simples" acaba sempre fazendo boas caras e interpretações encaixadas para todas as cenas. W.J.Solha também agrada como o patriarca que manda no bairro, mas ficou aberto demais seu papel, até a última cena, poderia ter sido mais bem usado. Os demais atores nem compensa falar muito, pois acabaria falando mais mal do que bem do filme.

O visual do filme é interessante, bem trabalhado e mostra de forma interessante uma rua no Recife que parece ter vida própria, mas que vive praticamente todas as emoções e conflitos que estamos habituados a conviver em nosso dia a dia. O interessante é que como o diretor soube trabalhar magnanimamente com o som, tudo parece ter vida própria, até mesmo uma máquina de lavar como disse acima. A cena tão exibida em pôsteres pela internet do protagonista sob a cachoeira de sangue, não consegui infelizmente linkar a nenhum sentimento a não ser pela bela fotografia nessa cena, pois tirando isso não vi nada demais. Já que entrei nesse mérito, a fotografia do filme é impressionante, trabalhando bem tanto no escuro quanto na claridade, demonstrando que de técnica a equipe fez um ótimo trabalho.

Enfim, é um filme interessante que poderia ser bem melhor se tivessem escolhido que linha seguir e principalmente finalizasse com a opinião do diretor, não abandonando a trama para que o espectador decida o que quer que tenha acontecido em cada fato. Fico por aqui hoje, mas essa semana ainda teremos mais um atrasado por aqui e uma pré-estreia. Abraços e até terça pessoal.


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