Netflix - Toc Toc

6/26/2020 12:51:00 AM |


Hoje vou falar de um filme que não é um lançamento da Netflix, e que estava já há muito tempo na minha lista, mas por parecer bobo demais acabei pulando ele indo para outros exemplares, mas se arrependimento matasse, eu já estava no chão faz tempo, pois a comédia espanhola "Toc Toc" é simplesmente fenomenal (como diria um dos personagens da trama), sendo daquelas que você ri o tempo inteiro com as loucuras e TOCs de cada um dos personagens, de modo que chega a ser brilhante a fórmula usada sem precisar apelar (mas apelando na medida certa), ao ponto que tudo funciona, e por ser baseado em uma peça de teatro, o resultado preza pelas boas interpretações, e aqui não temos falhas, nem absurdos estéticos que acabem atrapalhando algo, mas sim uma montagem simples, funcional e direta ao ponto. Ou seja, vale muito a conferida para aqueles momentos que você está precisando de algo que vá animar seu dia, pois é muito bom mesmo exagerando em alguns atos.

O longa nos conta que na sala de espera de um médico especialista conhecido internacionalmente em tratamentos para TOC (Trastorno Obsesivo Compulsivo) encontra algumas pessoas que, por mau funcionamento de um novo programa de computador, foram agendadas para o mesmo dia e horário. No grupo estão os seguintes: Emilio, um motorista de táxi especialista em cálculo matemático astronômico, que também é afetado pela Síndrome de Diógenes (desordem do tesouro); Blanca, uma trabalhadora de laboratório que sofre de mysophobia, um pânico extremo em todos os vírus e bactérias; Ana María, uma religiosa fervorosa com desordem de verificação; Otto, um jovem obcecado por simetria, incapaz de pisar nas rachaduras nas calçadas; Lili, uma jovem simpática e treinadora de academia que é afetada ao mesmo tempo por palilalia (repetição não intencional de citações, palavras e sílabas ditas por si mesmo) e ecolalia (repetição não intencional de citações, palavras e sílabas ditas por outra pessoa); e finalmente Federico, um aspirante a advogado maduro afetado pela Síndrome de Tourette, forçando-o sem querer a dizer todo tipo de palavrões e a fazer gestos obscenos. Após um primeiro contato tenso entre eles, que aumenta quando Tiffany, recepcionista do Dr. Palomero, informa que o avião do médico atrasaria em Londres, Federico sugere que os outros compartilhem seus diferentes TOCs na esperança de encontrar uma cura, iniciando uma série de eventos cada vez mais loucos.

Certamente o trabalho do diretor Vicente Villanueva foi fazer com que os atores não morressem de rir nas gravações para que o resultado fluísse, pois ver os demais fazendo suas loucuras e conseguir segurar o riso é algo dificílimo, e aqui ele que adaptou uma peça, que foi recordista de bilheteria na Espanha, conseguiu captar essências bem colocadas, deu dinâmicas coesas na montagem, e principalmente fez a trama soar divertida do começo ao fim, coisa que é rara de ver em algumas comédias espalhadas por aí, pois até temos apelações, temos exageros, mas tudo acaba fazendo parte da loucura completa da trama, e assim sendo ele apenas conseguiu captar o melhor de cada personagem, entregando tudo para que os atores se soltassem ao máximo, e fluíssem junto com a história toda. Confesso que cheguei a imaginar duas frentes diferentes para o final, inclusive uma sendo a que ocorre, mas é daqueles filmes que isso é o de menos, pois todo o restante funciona sem precisar ter um final coerente.

Agora sem dúvida alguma o grande acerto da trama ficou por conta das ótimas atuações, afinal por ser um filme teatral o elenco precisou dominar cada momento e se entregar a fundo para cada personagem soar engraçado e certeiro com suas dinâmicas, e felizmente isso aconteceu com todos. Chega a ser desesperador ver Paco León fazendo as milhares de contas com seu Emílio, ao ponto que ficamos morrendo de vontade de pensar como uma outra protagonista de pegar a calculadora, parar o filme e conferir se está tudo certo, mas não precisa, pois acabamos acreditando e ficando desesperados com sua forma de viver, tanto que na sessão de cura é duríssimo pensar como alguém ficaria pressionado, e o ator foi genial em tudo o que fez com suas expressões. Oscar Martínez é daqueles atores espanhóis que consegue trabalhar qualquer papel, e puxar a responsabilidade do filme para si, e aqui seu Federico é daqueles que você pula com a quantidade de palavrões gritados a cada berro, e o ator soube conduzir tiques, trejeitos e muito envolvimento do começo ao fim, ou seja, perfeito. Alexandra Jiménez trabalhou sua Blanca com muito cuidado, colocando algo que muita gente tem de exageros com limpeza, por medos de vírus, bactéria e tudo mais, e a atriz soube fazer isso com maestria, pois em alguns casos poderia passar como algo falso ou exagerado, mas não, sentimos seu desespero, e a cada volta ao banheiro as coisas só pioram numa paranoia incrível de ver como ela fez (e sabemos agora com a pandemia que muitos estão assim), ou seja, perfeita também. Rossy de Palma é uma das atrizes espanholas que mais vimos nos cinemas, afinal é uma das queridinhas de Almodóvar, e aqui sua Ana Maria é insana com o desespero de ficar voltando para checar tudo, e minuciosa em detalhes soube conduzir tudo com primor e muita desenvoltura, dando um show também. Adrián Lastra foi o que mais exagerou com seus pulos e contorcionismos, mas foi preciso nos movimentos para passar o desespero de seu Otto com simetrias e fuga de pisar em linhas, ou seja, foi adequado para o papel, mas soou levemente falso. Nuria Herrero poderia ter botado mais energia com sua personagem Lili, pois é mostrado como uma professora de ginástica maluca, mas na sala fica calma demais com suas repetições, e chega a ser cansativo, mas foi uma opção para mostrar uma síndrome, e talvez fosse melhor de outra forma. E para finalizar tivemos a secretária vivida por Inma Cuevas que entregou ser tão maluca quanto os que estavam lá, e acertou bem no tom, foi dinâmica e coerente com seus atos, e acabou não atrapalhando o desenvolvimento, o que é raro em coadjuvantes quando temos muitos protagonistas, ou seja, acertou bem também.

O conceito visual da trama foi simples, afinal voltamos na ideia de que a trama toda é em cima de uma peça, então não era nem necessário exagerar com tudo, mas foram dinâmicos com um começo bem apresentado de cada um dos personagens com suas loucuras nos seus próprios ambientes de trabalho ou em casa, e na sequência já vamos para a clínica ampla, cheia de salas simples, porém bem montadas no melhor estilo de consultórios, com várias salas de espera, objetos comuns desses lugares como revistas, ornamentos pequenos, plantas e tudo mais que vemos casualmente, e que até serviram para algumas dinâmicas, ou seja, a equipe de arte não precisou se preocupar muito, e sendo coerente acabaram agradando bastante também.

Enfim, é um tremendo filme que vale demais a conferida, que muitos vão se enxergar um pouco em alguns TOCs dos personagens (claro que com devidas quantidades menores - espero eu!), e que diverte muito do começo ao fim, ou seja, se você quer um longa que vai realmente rir muito essa é a melhor opção do streaming atualmente, e que mesmo tendo alguns errinhos bobos, vale demais a conferida. Então é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.

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