A Garota No Trem (The Girl On The Train)

10/29/2016 01:53:00 AM |

Se existe gênero mais interessante de se prender no cinema melhor que um bom suspense policial acho que ainda não foi criado, pois sempre nos levanta diversas pulgas na orelha e ficamos acusando a todos para sermos (geralmente) surpreendidos no final. Confesso que ao ver o trailer de "A Garota No Trem" achei a ideia confusa, e principalmente não consegui entender nada do que se tratava, sem ser é claro que havia acontecido um assassinato, porém nada é subjetivado nos poucos minutos do trailer, e mais do que isso, o filme ali foi vendido mais para quem leu o livro (que não foram poucas pessoas, afinal é um dos top da lista do The New York Times) do que para quem gosta de um suspense realmente. Mas lhe digo uma coisa agora após ver o filme, ele vai agradar com toda certeza quem gosta de uma trama bem feita, completamente não-linear (para não deixar claro logo de cara quem matou a garota) e principalmente, no melhor estilo para que errássemos todas nossas acusações com uma reviravolta incrível. Ou seja, daqueles filmes que inicialmente achamos mornos demais com as diversas apresentações capituladas (inclusive esse é o ponto pelo qual não darei uma nota maior para o longa), mas que quando engrena não conseguimos sequer piscar para pegar as mínimas pistas e irmos descobrindo com os detalhes todo o desenrolar da história.

O longa nos mostra que Rachel está desolada por seu divórcio recente, e passa seu tempo indo para o trabalho fantasiando sobre um casal aparentemente perfeito que vive em uma casa onde seu trem passa todos os dias, até que em uma manhã ela vê algo chocante acontecer lá e se torna parte de um mistério que se desdobra.

Como o livro chocou muita gente é fato que o filme também deveria seguir a mesma linha, porém esqueceram de dizer para a roteirista e para o diretor que eles podem sim ser criativos e ousarem nas propostas para o trabalho final, pois o longa com formatos de capítulos chega a ser quase o livro página a página, e olha que nem precisei ler ele para sentir isso. Claro que muitos fãs vão falar, mas é bom ser fiel ao livro original, tudo bem, mas ousar nos pontos mais lentos como apresentações de personagens, e não necessitar capitular para que a trama soe fluída é algo que sempre irá agradar bem mais no cinema. Não estou dizendo em momento algum que o resultado final tenha sido ruim, e/ou não tenha me chocado com a revelação final, muito pelo contrário, tudo é interessantíssimo de ver, e nos últimos suspenses policiais sequer me lembro outro que tenha me prendido tanto a atenção como esse fez (talvez pela alta quantidade de suspeitos se piscasse perderia alguma pista). Portanto não digo que o diretor Tate Taylor tenha feito um trabalho ruim em cima do roteiro que Erin Cressida Wilson adaptou do livro de Paula Hawkins, mas sim que ele omitiu mostrar a boa mão que um diretor eficiente de suspenses conseguiria fazer de uma boa história, um marco dentro do cinema. Ou seja, foi simples aonde poderia caprichar e caprichou aonde poderia ser singelo.

Agora se o diretor foi simples na direção, não podemos dizer o mesmo do ótimo elenco, pois todos sem exceção conseguiram criar perspectivas faciais, disfarçar semblantes e trabalhar o corpo de modo que o filme ficasse incrível no conteúdo interpretativo, ou seja, facilmente todos conseguem mostrar que não foram contratados à toa. Emily Blunt colocou sua Rachel como alguém realmente problemático, que não consegue economizar na quantidade de bebida e que pelo excesso acaba tendo apagões de memória, não bastasse essa ótima ideologia que lhe foi dada, a atriz soube mostrar uma dinâmica tão boa para sua personagem que não conseguimos enxergar nada que ela não estivesse nos mostrando, e com toda certeza se formos rever o longa, veremos os detalhes apresentados na cena explicativa, com toda precisão sem que nada seja necessário nos contar, o que mostra os bons ângulos de filmagem do diretor (ao menos nisso ele não pecou), e sendo assim, facilmente a jovem poderia ser lembrada em alguma premiação. Haley Bennett foi ousada com sua Megan, e demonstrou uma desinibição incrível para com as câmeras, de modo que não precisou ser singela nos momentos mais sexys e também demonstrou a personalidade forte para com o estilo que desejavam colocar em cena, talvez pudesse ser mais sutil, porém não chegou a incomodar nos momentos de precisão. Rebecca Ferguson colocou uma Anna mais assustada do que realmente a personagem deveria ser, mas como isso funcionou bem para o desenrolar da trama, afinal acabamos desconfiando bastante dela, o resultado de seus semblantes acabam sendo funcionais. As cenas de Justin Theroux com seu Tom poderiam ser mais alongadas, pois sempre funcionam com dinâmica curtas, que parecem mostrar mais falhas do que bons momentos, e por talvez ter sido uma segunda opção para o papel, acabou indo bem de leve na personalidade e com isso acabou não empolgando o tanto que deveria, mas nada que chegue a ser decepcionante, principalmente nos momentos-chaves. Outro que também foi bem, mas que poderia ser incrível com cenas mais impactantes e claro com diálogos também mais ousados, foi o Scott interpretado por Luke Evans, que está completamente diferente com um corte de cabelo que não funcionou no seu estilo, mas na sua cena mais forte mostrou a que veio e foi certeiro. Édgar Ramirez foi o terapeuta mais fora de rumo que poderiam arrumar para uma trama, pois marido algum deixaria a mulher ir num consultório com um galã venezuelano para revelar seus momentos mais íntimos, e sendo assim seu Kamal ficou digamos um personagem que se explorado melhor funcionaria até como outro filme. Os demais personagens funcionam mais como elos, e não chegam a chamar tanta atenção, porém podemos dizer que a detetive interpretada por Allison Janey foi bem interessante nos momentos mais impactantes, e talvez precisassem dar mais simpatia na cena de Lisa Kudrow com sua Martha que vai realmente dar o toque de virada na trama.

Sobre o visual do longa, escolheram muito bem cada locação, principalmente para que o trem fosse quase um elemento cênico, passando sempre pelas casas, vendo e sendo visto, uma floresta bem digamos levemente sinistra, com um túnel também digamos não tão agradável de se passear, casas bem colocadas e alguns elementos cênicos bem colocados mais como decoração e ornamento de cena, pois quase nenhum objeto acaba funcionando para detalhar as situações, e isso mostra bem a perspectiva de mistério criada somente pelas lembranças e apagões da protagonista, juntamente com as histórias de cada um dos demais personagens. Ou seja, a equipe de arte teve a maior preocupação em apenas escolher bem os locais que se encaixassem dentro da ideologia do livro, e claro do roteiro, mas nada que tivesse de ser trabalhado para representar algum momento, afinal volto a frisar que a ideia é mais abstrata dentro da situação do que floreada pelo ambiente. Um grandioso ponto positivo do longa ficou a cargo da direção de fotografia, que ao escolher bons ângulos e trabalhar uma iluminação quase que noir com muitas luzes em contraponto, e sempre ousando em sombras para criar perspectivas, acabou conseguindo demonstrar segurança em cada momento e ousar nas cenas certas para que o filme não ficasse cansativo.

Enfim, um filme bem interessante de ver, que certamente nas mãos de algum diretor mais forte de suspense policial teria feito um longa incrível daqueles de o queixo realmente ficar no chão pelo menos 1 hora após acabar os créditos, mas mesmo da forma que nos foi entregue, o resultado chega a ser bem causador para quem não leu o livro. Ou seja, uma das grandes recomendações é que você não se perca quem é quem, pois todo mundo tem ao menos uma pontinha de ligação com o outro, e que fique bem atento a cada momento, pois as reviravoltas ocorrem num piscar de olhos e podem deixar você completamente perdido na trama, mesmo tudo sendo bem explicadinho nas cenas finais. E sendo assim, é claro que recomendo o longa para todos, principalmente para quem gosta de histórias com mistérios dramáticos policiais, e nem preciso falar que todos os leitores do livro certamente não irão se decepcionar. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com a última estreia que apareceu no interior, então abraços e até mais galera.

2 comentários:

Yupaqui disse...

É uma boa trama policial, com suspense e reviravoltas inesperadas.
Mas, cá entre nós, este filme não passa de uma sessão pipoca. O roteiro apresenta muitas falhas e inverossimilhanças. Por exemplo: os personagem são um tanto ingenuos e pouco inteligentes. A babá diz ter vontade de ir a floresta com seu amante e lá, distante da humanidade, provoca o homem de tudo quanto é jeito até conseguir o que realmente queria. Deve tratar-se de uma babá suicida.
A garota do trem, a primeira vista uma personagem totalmente desiquilibrada e alcoolotra, fantasia com uma casa e um casal que lá vive, que vê da janela do trem. Por incrivel coincidencia, trata-se da mulher que é baba da criança de seu ex-marido.
A atual mulher do ex-marido é incrivelmente abobada. Na cena de atracamento entre a garota do trem e seu ex-marido, ela fica apenas observando de cima da escada. Não move um dedinho nem para chamar a polícia, nem para gritar pelos vizinhos, nem para dar uma panelada no agressor.
A garota do trem, uma mulher desempregada, alcoolotra, problemática, vive às custas de uma amigona. Só no final, depois de um ano, a amiga realmente perde a paciência e a convida para retirar-se. Acho que todos gostaríamos de ter uma amiga assim..
Enfim, como disse, não querendo algo mais que perfeito, o roteiro realmente traz muitas surpresas e reviravolvas. Nada é o que parece no primeiro momento.


Fernando Coelho disse...

Rsss.... bem isso mesmo Yupaqui... é livro né... povo gosta dessas flutuações em livros, apenas adaptaram pro filme assim!

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