Big Jato

7/30/2016 12:22:00 AM |

Se nos seus longas anteriores, a forma poetizada de discutir situações polêmicas funcionou bem, em "Big Jato" não podemos dizer que o diretor Cláudio Assis foi bem sucedido. Digo isso pois a polêmica aqui é tão leve que a poesia acaba se aflorando e deixando todo o restante de lado, e o estilo permeado nem flui como deveria, deixando o longa ambíguo e sem muito nexo, ou seja, acaba girando como um pião sem sair do lugar nem para ver que a sujeira poderia ser muito mais bem trabalhada. Claro que basicamente a ideologia do texto de Xico Sá é algo mais infantil, e não poderia ser tão aplicada às polêmicas que o diretor tanto gosta, mas vamos confessar que o filme não necessitava ser tão metafórico e jogado não é mesmo? E sendo assim, infelizmente é um longa que não vai comover, idealizar ou trabalhar qualquer ideia, passando 93 minutos apenas numa sala escura tentando ao máximo entender alguns momentos ruins de captação sonora.

O longa nos mostra que o menino Francisco passa os dias a acompanhar o pai no trabalho, ou melhor, nas estradas. O homem é motorista do imponente Big Jato, um caminhão-pipa utilizado para limpar as fossas da cidade sem saneamento básico. Mas o garoto está mais interessado nas ideias do tio, um artista libertário e anarquista. À medida que descobre o primeiro amor, Chico percebe a vocação para se tornar poeta.

A forma simbólica como o diretor transborda a passagem de fases do garoto e todos os seus pensamentos permeados entre os três modelos que tem ao seu dispor (o pai, o tio, e o amigo poeta) é algo interessante de ser vista, mas pra isso o diretor necessitou apelar por entremeios desgostosos e isso não é algo que funcione para o público, de tal maneira que o longa que possui um viés cultural poderia trabalhar de inúmeras maneiras todo o restante da história ao invés de focar tanto em algo que não necessariamente sai do lugar, como é a passagem de um jovem para o mundo adulto com todas suas dúvidas e anseios. Claro que esse mote certamente é mais bem trabalhado no livro de Xico Sá, e o texto foi adaptado para a vertente completa do filme, mas conhecendo o estilo de obra de Assis, o filme certamente teria outra veia se trabalhado sob outros moldes. Não digo que é um filme ruim, afinal todo o trabalho conceitual é interessante de ser estudado, mas a reflexão completa só se dá se a pessoa for ao cinema pronta para refletir sobre o tema, senão a chance de sair da sala sem ter entendido nada do que se passou é bem alta. Além disso, é um filme com muitos ruídos (barulho monstruoso do caminhão, vento, pessoas que falam com sotaque, músicas ao fundo) e isso atrapalha demais a compreensão total dos diálogos, então não sou favorável à isso, mas assim como aconteceu em Cine Holliúdy uma sugestão para quem assistir o longa em casa é que ative legendas, pois talvez melhore um pouco o filme sabendo tudo o que foi dito.

A grande sacada para com a ideia do filme, ficou por conta do ator Rafael Nicácio, pois sua inexperiência em longas deu toda a simbologia expressiva que o personagem necessitava, de alguém sem conhecimentos dos traquejos de câmera, de saber para onde olhar realmente, ou como agir em determinadas cenas, e dessa forma seu Francisco acaba se conhecendo em frente às câmeras, e isso dá um tom certeiro para os momentos do ator no longa. Claro que estar ao lado de Matheus Nachtergaele fazendo dois papeis completamente diferentes ajudou e muito o garoto para o que acabou fazendo, pois tanto Francisco como um homem simples com seu caminhão de limpeza como Nelson radialista anarquista são personagens que destoam do senso comum e sempre convergem as atenções cênicas para suas ideias, e o diretor aproveitou muito esses personagens para dar o olhar para o jovem interpretar quais rumos usar de cada ato do grande ator que é Nachtergaele, e com isso o ator trabalhou mais a inspiração cênica com suas atitudes do que interpretações vivas para dar contexto à trama, mas como disse, se o foco fosse neles, teríamos um filmaço, pois o ator é genial em tudo o que faz. Dentre os demais atores diria que é algo difícil de apontar bons momentos interpretativos, pois de certa forma estão apenas apoiando em cenas jogadas, e isso não é algo tão agradável de se ver, mas se tenho de dar um destaque é claro que deixo para Marcelia Cartaxo como a mãe do garoto, principalmente nas suas duas cenas de explosão, pois ali a atriz mostrou que não estava disposta a ser apenas elenco de apoio, mostrando que sabe atuar e bem.

O fator visual do longa também é algo que chama bastante atenção, pois mesmo com tudo muito simples, é notável o trabalho cênico que a direção de arte teve para montar cada ato como um ritual de passagem, seja no puteiro, na delegacia, na casa, no trilho de trem e até mesmo no caminhão, pois cada dinâmica representou muito para a simbologia que desejavam mostrar. Claro que isso é um acerto para com o roteiro do filme, e funcionou bastante, mas volto a ser chato nessa questão que o filme agradaria demais se trabalhado outras vertentes, e olhando de uma maneira mais subjetiva pela cenografia toda, o anseio do diretor por politizar o filme estava presente em quase todos os momentos, então pode ser que no corte final ele tenha desenhado até algo diferente, mas optou por mostrar um outro lado seu, que não foi tão bem acertado. No conceito fotográfico, a coloração árida do sertão é incrível de ser vista seja em qualquer tipo de longa, e friso que longas nacionais deveriam apelar mais por esse estilo de tom, que marca e agrada muito por não ficar preso ao tradicional americanizado que muitos longas optam por fazer.

Enfim, é um filme que até possui um potencial interessante e poderia agradar mais, porém está bem longe da forma que foi concebido de agradar quem for assistir esperando um longa mais introspectivo e com uma mensagem mais forte, ou algo mais singelo e cheio de diversão, ficando em cima do muro do que desejava alcançar. Ou seja, recomendo ele somente para quem estiver disposto a refletir sobre tudo o que disse acima, pois a chance de analisando cada momento do longa separadamente para concluir algo mais preciso é talvez a melhor maneira de não sair reclamando de tudo o que verá, e sendo assim não vá ver se não for dessa maneira. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com outros longas que estrearam na cidade, então abraços e até breve.

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