Boca

11/16/2012 01:03:00 AM |

É engraçado como filmes bons brasileiros acabam nem quase sendo distribuídos e somem de cartaz quase sem que ninguém os veja. Um exemplar disso é "Boca" que foi lançado em Setembro com pouquíssimas cópias, apareceu aqui na sexta-feira e já está indo pra sessões somente a tarde, para logo desaparecer também. O filme tem uma narrativa interessante para uma ótima história, com uma fotografia de primeira linha e só peca em alguns pontos de montagem, mas que podem ser relevados considerando tudo que o enredo quer passar. Porém como todo bom filme brasileiro, não tem uma boa distribuidora e sofre para conseguir ficar em qualquer cinema. Uma pena!

Adaptado da autobiografia de Hiroito de Moraes Joanides, o filme retrata a atmosfera noturna da Boca do Lixo, região de prostituição no centro de São Paulo nos anos 50 e 60. Oriundo de uma família de classe media alta, Hiroito frequentava a Boca apenas como boêmio em busca de aventuras sexuais, até que uma tragédia pessoal provoca uma mudança em sua vida. Seu pai é violentamente assassinado e Hiroito é acusado pelo crime. Dois meses depois deste acontecimento, Hiroito compra dois revólveres e se muda para a Boca, tornando-se rapidamente um dos bandidos mais procurados pela polícia.

A história em si já é algo interessante para ser transmitida em formato de filme, e nesse gênero praticamente mafioso, no Brasil quase não temos exemplares de longas, daí o diretor e roteirista Flávio Frederico soube transmitir de forma bem contínua e intrigante para a tela um longa com ritmo bem cadenciado, que apenas poderia ter sido melhor montado na edição para que não precisasse tanto de fades black para mudar de um ano para o outro. Porém tirando isso, o que vemos é uma boa mostra de como o personagem era, mostrando pontos bons e ruins mesmo sendo baseado em uma autobiografia.

As atuações estão bem corretas, não diria serem excelentes, mas mostram personagens bem sujos e convincentes no geral quanto da concepção de época. Daniel Oliveira faz bem o protagonista, e a equipe de maquiagem remodelou completamente sua feição para que ficasse bem parecido com Hiroito, seus diálogos estão bem imponentes e colocados, mas em alguns momentos sua forma de expressão relembrou seu outro personagem no cinema, Cazuza. Hermila Guedes em alguns momentos mostra uma boa personificação para seu personagem, mas em alguns momentos parece desorientada quanto ao que fazer. Milhem Cortaz raramente erra na frente das câmeras, e seu personagem é bem carismático nas cenas que aparece, fazendo bons diálogos quando está junto do protagonista. Paulo Cesar Peréio é um daqueles personagens que aparecem num longa de certa forma a ser um coadjuvante, mas que por fazer feições tão próprias acaba chamando a atenção para si, fazendo um delegado daqueles bem corruptos e canastrões, o que vemos é um personagem com potencial para que fosse até melhor do que já é. Os demais personagens fazem bem também em cena, aparecendo com poucas doses, sempre sem atrapalhar o andamento do filme e isso é bom,  só não consegui entender muito bem o personagem do garotinho para o longa, pois seu personagem entrou e saiu da história sem influenciar praticamente em nada.

A equipe de arte reconstruiu uma São Paulo decadente dos anos 50/60 que é de se impressionar pelo visual que conseguem, com muita certeza deve ter sido um trabalho árduo, mas que compensou plenamente pelo resultado final que está impecável. Temos elementos cênicos para qualquer lado que se olhe, dando um sabor extra para o longa que raramente vemos em filmes brasileiros. A fotografia de Adrian Teijido já está se tornando um marco no cinema brasileiro, sempre usando de um tom amarelado característico seu, usa e abusa de luzes e sombras e dá um charme mesmo nos momentos mais simples do longa.

A trilha sonora com músicas da época e usando o mix de ruídos característicos do tocado por discos de vinil, o filme dita um ritmo gostoso de assistir sem cansar em momento algum. As músicas escolhidas são também de um primor que poucas vezes escutamos.

Enfim, é um longa bem caprichado, tendo apenas poucos erros que não chegam a serem fatais, que merecia ter tido um pouco mais de destaque no circuito comercial brasileiro, já que foi produzido em 2010, conseguiram lançar somente agora em setembro de 2012 e com pouquíssimas cópias, fazendo com que quase ninguém o assista, o que é uma pena, pois assim como muitos outros bons filmes que são feitos no Brasil, acabam sendo jogados apenas em mostras, onde o público que pode valorizar o cinema brasileiro praticamente mesmo não vai. Fico por aqui encerrando essa semana, pois praticamente tudo foi removido dos cinemas para a estréia de "Amanhecer", e como disse irei assistir todos da saga nesse fim de semana para conferir o novo, já que não vi nenhum até hoje, assim que ver o último postarei aqui a opinião completa da saga, então abraços e até lá pessoal.


2 comentários:

Anônimo disse...

mTO BOA critica, realista, lúcida e bem fiel ao filme.. mais uma obra prima brasileira.. só estou tendo dificuldades para localizar a trilha sonora do filme

Fernando Coelho disse...

Olá Valmor, que bom que gostou da crítica, realmente precisamos de ter mais filmes do gênero dentro do cinema nacional, mas infelizmente não é o que dá dinheiro aqui, uma pena realmente. Quanto a trilha se em filmes estrangeiros já não é algo fácil de encontrar, quanto mais de filmes nacionais, tem de alugar o filme, e ir vendo os créditos pausando para ver os nomes realmente. Abraços!

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