Yesterday

9/01/2019 02:42:00 AM |

O que seria do mundo se não existissem as canções dos Beatles? Olha, chega a dar desespero só de pensar na falta da qualidade musical que seria, pois não só foram uma marca, como inspiraram tantos outros com suas canções, e a ideia do longa "Yesterday" é tão bem trabalhada, envolvente e gostosa tanto pelas canções quanto pelo estilo escolhido pelo diretor para desenvolver a trama com pegadas cômicas e também românticas, que acabamos nos envolvendo tanto que praticamente esquecemos dos diversos defeitos que o filme possui, principalmente na dúvida de que rumos seguiriam para fechar a trama. Ou seja, temos um filme delicioso de curtir, cheio de ótimas canções, uma ideia completamente incrível, bons atores, mas faltou aquela pegada que o diretor tem, mas que não quis utilizar, pois eram tantas as possibilidades do filme terminar incrível e não foram utilizadas, indo para o vértice mais comum, o que não é ruim, mas também não faz com que saiamos vibrando da sala (mas ao menos todos saíram cantando "Hey, Jude!").

O longa nos mostra que após sofrer um acidente, o fracassado cantor e compositor Jack (Himesh Patel) cai em uma realidade distinta, na qual ele é o único que lembra da existência dos Beatles. Utilizando a música de seus ídolos, o jovem se torna um sucesso e o compositor mais famoso do mundo, mas a fama tem seu preço.

O estilo do diretor Danny Boyle é daqueles que sempre tem boas pegadas, que não liga de usar efeitos de montagem de outras épocas, e que vai procurar sempre deixar um filme que até funcionaria de maneira calma em algo cheio de dinâmicas e funcionalidades para que o público embarque na mesma proposta que a sua, e aqui vemos muito esse estilo funcionar, pois vemos o diretor procurando a todo momento jogar na nossa cara de onde veio as inspirações musicais dos Beatles, e colocar para o jovem que apenas conhece e é apaixonado pelas canções (e lembra um pouco das letras) de onde poderia vir a inspiração musical para cada momento, e nessa sagacidade ele acaba brincando com a trama de Jack Barth e Richard Curtis de maneira a irmos cantando, relevando um ou outro detalhe, e claro se encantando com as vivências escolhidas para cada ato, o que acaba funcionando muito bem, e resulta em um filme que certamente teria muitos outros finais melhores (o meu preferido é ainda a ideia de um multiverso já que tanto se anda falando sobre isso, mas creio que não seja a pegada preferida do roteirista), mas que acabou sendo gostoso demais de conferir pela forma de Boyle e principalmente por ele saber dirigir bem atores, fazendo um jovem estreante ficar tão estrelado que em breve o veremos com mais dois grandes diretores nas telonas.

E já que comecei a falar das atuações, o estreante nas telonas Himesh Patel parece ter encontrado o brilho que poucos atores conseguem numa leva só, pois aqui foi muito bem encarnado com seu Jack, criando diversas cenas engraçadas sem precisar forçar o riso, o que é ótimo, e ainda soube dosar a emoção quando o filme também necessitou, acertando em cheio com muito estilo e bons movimentos, além claro de cantar mais ou menos bem nos momentos mais bem colocados, sem forçar demais, e com isso não bastando estar num filme de Danny Boyle, irá aparecer também no filme de Tom Harper no final do ano, e ainda no novo de Christopher Nolan no ano que vem, ou seja, já virou o queridinho de grandes diretores, e veremos como sairá por lá. Lily James pareceu levemente sonsa demais com sua Ellie, de forma que por vezes até ficamos bravo com a falta de atitude da moça para com seu amor, mas ao ver que ela deseja o melhor para ele, que pode não inclui-la, o resultado de seus atos acabam ficando mais convincentes e interessantes de ver, mas ainda assim poderiam ter dado mais fluxo para a jovem atacar que agradaria mais, e a atriz é muito boa para ficar meio que de escanteio. Joel Fry caiu como uma luva para ser o alívio cômico da trama com seu Rocky, fazendo um papel desajeitado, cheio de virtudes malucas, mas sua cena de apresentação no terraço foi linda demais de ver, e juntando tudo o que fez foi perfeito. Kate McKinnon também soube envolver bem como a empresária Debra, trabalhando de uma forma imponente, cheia de estilos, e principalmente em busca do dinheiro com muita astúcia e encaixando tudo com boas sacadas, o que acabou agradando bastante. Quanto aos demais, o filme possui boas pegadas com diversos figurantes de luxo que entregam cenas bem bacanas junto dos protagonistas e agradam bastante, mas sem dúvida o destaque entre todos é o cantor Ed Sheeran interpretando ele mesmo com muita desenvoltura e cheio de boas nuances, sendo realmente um bom ator além de bom cantor. E tenho de dar os parabéns para a equipe de caracterização por fazer com que Robert Carlyle algo espantoso, que é melhor nem falar para não dar spoiler.

Visualmente o longa brinca bastante com o contraste entre a pacata cidade de Norfolk aonde os protagonistas vivem, e a vida de rockstar em Los Angeles, além claro de passagens por diversos pontos turísticos das canções dos Beatles em Liverpool, trabalhando bem os shows com inserções diferenciadas de letreiros com os nomes das canções por entre os personagens, usando de efeitos simples, porém bem bacanas e interessantes de formato tridimensional. Além disso a equipe trabalhou bem os figurinos clássicos juntamente de muitas cenas impactantes em shows, o que deu uma dinâmica bem recheada. A fotografia jogou muitas cores, mas sempre puxando para um tom mais escuro, brincando com chuvas e densidades mais neutras para que o filme tivesse ao mesmo tempo que é cômico, algo mais tenso e dramático.

Claro que por ser um longa musical, o filme contém diversas canções excelentes dos Beatles, que com uma boa interpretação (meio que gritada) de Himesh Patel resultou em algo até divertido de escutar, que vou colocar o link aqui, mas quem preferir, ouça as canções originais nessa outra playlist aqui.

Enfim, é um filme bem gostoso de conferir, que vai divertir bastante tanto os fãs da banda (que ainda desejamos muito ver um filme sobre a formação da banda!) quanto os que gostam de longas musicais bem trabalhados, aonde a desenvoltura funciona e o resultado acaba agradando pelo estilo desenvolvido. Ou seja, um filme recomendável para todos, que vai emocionar e envolver com tudo na medida, e que mesmo tendo leves falhas durante quase toda a exibição, consegue limpar nossa mente delas com as boas canções. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, afinal ainda faltam algumas estreias para conferir nessa semana, então abraços e até logo mais.

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