Tully

6/26/2018 01:34:00 AM |

Existem alguns filmes que conseguem trabalhar temas duros de uma forma tão sutil, leve e gostosa de acompanhar que ficamos pensando se realmente o diretor desejava isso em sua história ou se acabou fluindo tão perfeitamente durante o desenvolvimento que o resultado foi além demais, e com "Tully" temos um tema tão atual como a depressão pós-parto, que unida ao conflito de famílias com muitas crianças jovens aonde os pais já estão mais surtados que tudo, o resultado poderia ser um longa completamente dramático, duro e forte, mas que o diretor soube ser sutil e colocar cada ponto de uma maneira tão bem dinâmica e bonita, que ao final quando o choque realmente ocorre por descobrirmos a grande sacada do filme, o fechamento consegue impressionar mais ainda, e olha que facilmente poderíamos pensar mil ideologias para a trama, mas acho que poucos chegarão ao detalhamento correto tão rápido, ou seja, um filme incrível.

O longa nos apresenta Marlo, mulher de meia-idade, classe média, mãe de 3 filhos, um deles recém-nascido, e outro que necessita conceder toda atenção por ter necessidades especiais, chega ao limite físico e psicológico. Enquanto o marido, Drew mostra-se um inútil, ela recebe a ajuda do irmão, Craig, que contrata uma babá, Tully, para ajudá-la. Surpreendente, elas formam um vínculo singular de amizade, compreensão e partilhamento.

O trabalho da roteirista Diablo Cody e do diretor Jason Reitman juntos já é algo que conhecemos e nos apaixonamos há tempos, pois trabalham sempre com uma sinceridade afetiva grande, e acabam construindo as situações de formas bem simples e gostosas de ver, e mesmo que a temática seja forte de ser trabalhada, eles acabam conseguindo entregar algo que acaba passando bem fluído e nos pega despercebidos quando vemos aonde queriam chegar. Claro que alguns vão ver tudo de uma forma mais rápida, irão entender aonde desejavam mostrar, mas a maioria só consegue a conexão completa do filme nas últimas cenas, e o melhor que acaba sendo uma surpresa forte, porém completamente efetiva, fazendo muito efeito, ou seja, um acerto feito na medida para impressionar e que fez todo sentido. Claro que temos cenas exageradas, cenas que talvez pudessem ser mais limpas, mas tudo é funcional, e sendo assim, vale por demais cada ato tanto para mostrar o problema defendido em tese pelos autores, quanto por servir de homenagem para as mães, essas mulheres fortes que conseguem defender o mundo virado de ponta cabeça após o nascimento dos filhos e ainda continuar fazendo tudo o que já fazia.

Sobre as atuações, só precisamos digitar um nome: Charlize Theron, e não dizer mais nada, pois somente seu nome já faz valer qualquer ingresso e muda qualquer filme que lhe é escalada, e aqui para viver sua Marlo, fez uma pequena dieta de se entupir de fast-food e outros carboidratos para engordar 23 quilos para a personagem, e ficou muito diferente da atriz que sempre arrasou com um corpão sedutor, não que aqui tenha ficado ruim, e aliado à isso, ela ousou em olhares perfeitos, dinâmicas bem moldadas e criou tantas boas situações que se formos enumerar, passaremos a mesma duração do longa digitando aqui, então apenas temos uma palavra para ela como sempre: perfeita. Makenzie Davis conseguiu ser tão misteriosa e enigmática nos trejeitos quanto sua Tully, e trabalhou tão bem, que vamos nos conectando à sua personagem, inicialmente com um longo estranhamento, depois vamos nos afeiçoando ao carinho que dá para Marlo, para no final já nem acreditarmos mais no que está fazendo, e a atriz acabou perfeita demais também. Ron Livingston foi literalmente um inútil como a sinopse nos diz de seu Drew, mas como personagem claro, pois faz tudo tão bem, com olhares concisos e tudo mais, que não conseguimos acreditar que exista alguém dessa forma, mas o pior é que existem aos montes, e o ator fez tudo muito bem. Mark Duplass entregou seu Craig como aquele irmão bem sucedido que é um tremendo pé no saco, e com uma boa dinâmica clássica acaba entregando bem sua personalidade, mas talvez um pouco mais de cenas suas fariam o público entender um pouco mais seu relacionamento com a família, pois acabou um pouco jogado demais. Dentre os demais, temos de pontuar apenas que as crianças foram incríveis em seus atos, sendo realmente crianças, e não mini-adultos interpretando, agradando cada um na sua maneira sutil.

No conceito visual, a trama optou por basicamente uma casa simples bem de subúrbio, aonde na cena que vão para o centro de Nova York vemos o quão longe é a casa da família, mas com tantos bons elementos para mostrar o problema familiar, a dramaticidade da maternidade bagunçada (e indesejada), a bagunça de tudo, o relacionamento conturbado, e cada detalhe conta, bem como se repararmos bem cada forma das duas protagonistas também serve bem como elementos cênicos, ou seja, muito bom mesmo cada pensamento da equipe de arte, e quanto da casa do irmão, claro muito luxo para realçar como ele é bem de vida e status. A fotografia trabalhou com pontos neutros, sempre com tons mais pasteis para juntar o ar dramático do filme, mas também deixar ele gostoso de acompanhar, sem pesar a mão em quase momento algum, tendo leves pontos mais fortes aonde a tensão até se eleva, mas de modo geral, sempre procuraram conduzir o longa com muita sutileza no ar.

Enfim, imaginava ser um bom filme pela quantidade de vezes que vi o trailer, mas não que seria algo muito bonito de ver e que me agradaria tanto. Claro que é um filme que ou você vai amar ou vai acabar achando tudo bobo demais, mas dificilmente não irá se encantar com a proposta final e dará claro valores para quando entender o que realmente acontece com muitas mulheres quando dão a luz. Ou seja, um filme bonito, bem feito, e com uma mensagem (embora ficcional) incrível de acompanhar, que só não é mais perfeito por alguns elementos soltos que poderiam ter sido podados (como a relação com o irmão, entre outros), e só por isso não darei nota máxima para o longa, mas ainda assim recomendo muito ele para todos, e quem for de Ribeirão Preto, ou outras cidades que participam do Cinema de Arte, poderão e devem conferir ele. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até breve.

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