TOC - Transtornada, Obsessiva, Compulsiva

2/06/2017 01:24:00 AM |

Antes de falar do longa de hoje precisamos definir uma coisa: não é porque um filme classificado como comédia (por sabe lá quem) e que contém uma atriz (que é humorista de profissão) que um filme vai ser divertido. Digo isso pois vi muita (digo muita mesmo, quase umas 2 fileiras de pessoas) gente saindo da sessão de "TOC - Transtornada, Obsessiva, Compulsiva" quando o longa mostrou a que veio trabalhando mais o lado experimental e abusivo do que piadas comuns que estaríamos vendo no tradicional cinema cômico nacional. O filme, aliás, brinca muito com isso, experimentando imagens aleatórias, muita abstração, e até mesmo a atriz se testa em diversos momentos com suas loucuras, colocando um galã tradicional de novelas como um pervertido namorado que só pensa em sexo de todas as formas, um vendedor tradicional que resolve prestar serviços fora do serviço, um fã obcecado que não aceita mudanças de sua amada atriz, um escritor fantasma que apenas quer mostrar que a felicidade é ligar o botão foda-se, e até mesmo uma novela envolvendo um futuro pós-apocalíptico, ou seja, tudo o que você pensar de diferente de uma comédia tradicional, você verá nesse longa, e isso por si só acaba soando tosco, mas entretém quem tiver paciência e gostar de coisas novas, mas senão ligue o foda-se e seja feliz também, afinal, essa é a premissa do longa.

O longa nos mostra que Kika K é uma atriz que está em novelas, campanhas publicitárias e é idolatrada por milhões de fãs. Mas por trás das aparências, está em crise com sua vida pessoal e profissional, enquanto precisa lidar com as limitações de seu Transtorno Obsessivo Compulsivo. Kika se depara com Felipão, um fã obsessivo, um namorado galã sem noção e os compromissos profissionais marcados pela exigente empresária.

Sempre é bom inovação, isso digo sem pestanejar, afinal nossas comédias andavam novelescas demais, mas em primeiro momento você deve começar colocando algo que segure mais o público, e não ir arregaçando de uma vez só, como Paulinho Caruso e Teodoro Poppovic acabaram fazendo em sua estreia na direção combinada de um longa. Digo isso pois é fato que quiseram mostrar um ar diferenciado com um trabalho bem autoral e que cheio de coisas diferentes fazem o público até estranhar ver tudo numa tacada só, mas o resultado (para quem está acostumado com longas experimentais) até sai satisfatório, porém quem for esperando ver uma comédia pronta para rir do começo ao fim, com ideias tradicionais (que até acontecem, principalmente nas cenas do TOC da protagonista) vai sair bem decepcionado com o que é mostrado. Ou seja, poderiam colocar todas as ideias na trama tranquilamente, só teriam de ser mais leves no exagero, que acabaria resultando melhor para todos.

Sobre as atuações, sendo roteirista e produtora, além de atriz principal, é claro que Tatá Werneck pode fazer tudo o que desejava no longa com sua Kika, desde uma guerreira que ranca testículos dos vilões, fazer protagonista de uma novela estilo "Betty - A Feia", beijar galãs e não galãs, chorar um choro mais ridículo impossível, e ainda sair-se bem com uma interpretação digamos controversa, que em um filme mais exigente não passaria nem em teste, mas de certa forma não diria que são erros dela, Vera Holtz fez sua Carol de uma maneira bem rígida que quem já passeou pelo meio das artes sabe bem como alguns empresários agem, fazendo tudo por trás do ator e sem coração para tudo que valha dinheiro, e ela bem como também uma atriz agenciada sabe como é, e não perdoou fazendo bons olhares, trejeitos e tudo mais. Bruno Gagliasso deu um tom bem exagerado para seu mulherengo e ninfomaníaco Caio, de tal forma que o ator até fez bem o papel, soube dosar as piadas para não forçar tudo de uma vez, mas chega a ser vergonhoso o tanto de situações constrangedoras que fizeram o ator fazer em cena. Luis Lobianco é daqueles atores que fazem papeis clássicos para o estilo dele, pastelão, mas bem colocado, mas seu Felipão trabalhou incumbido de um único mote, a paixão exagerada fã-artista, que bem sabemos como pode ocorrer perigos nisso como vimos no último ano com Ana Hickmann, e claro que o ator fez muito bem esse papel, mas por ser um humorista, ficamos esperando dele cenas engraçadas, e o não acontecer disso acaba frustrando um pouco o papel dele. Daniel Furlan é um ator interessante, que trabalha bem um estilo de comédia mais seca, e por um leve momento até achei que era Rafinha Bastos que estava interpretando Vladimir, mas claro que o ator foi bem melhor, porém falta ainda dinâmica no seu estilo para chamar atenção, tanto que nas cenas da livraria acabou soando mais falso do que trabalhando o desdém mesmo. E para fechar, felizmente Ingrid Guimarães apenas fez leves participações na trama, pois a trama não faz o estilo de humor da atriz, e interpretando a si mesma no filme, acabaria jogada demais, o que não convém.

Agora se tem algo que temos de elogiar e muito, e se tivesse ficado somente ali teríamos outro filme incrível, foi a cenografia do sonho/novela apocalíptica "Amorgedon" que juntamente de figurinos incríveis e um trabalho cênico perfeito, acabou resultando em algo diferenciado e cheio de nuances bem colocadas. Mas como o orçamento e a história necessitaria ser completamente diferente, fomos para outros lugares menos primorosos, como o ridículo programa de Ana Juliana, completamente desnecessário, a livraria bem colocada pelo fato de darem sempre preferência à sub-celebridades para lançar algo que somente fãs iriam gostar, e o restante vai passar por ali com desdém, as boas casas de Felipão e Vladimir, mostrando uma realidade comum de pessoas alternativas (para não falar estranhas), o karaokê tradicional que só dá gente estranha, e claro o restaurante chinês completamente sujo e destruído que até vai servir algo delicioso, mas que se soubermos como foi feito nem passaríamos perto. Ou seja, um trabalho da equipe de arte muito bem colocado que mostraram serviço dentro do que o roteiro pedia, mas que poderiam ter sido menos formais em alguns momentos. Quanto da fotografia, nas cenas da novela/sonho usou-se muito o tom cinza, comum de filmes pós-apocalípticos, e que de certa forma agradou bastante, mas usaram nas demais um exagero de tons também mais escuros, o que é incomum em comédias, pois deixa o filme monótono e triste, entretanto o que poderia ter ajudado um pouco mais na comicidade seria ao menos os figurinos dos protagonistas em tons mais alegres e locações mais vivas, que aí sim a comédia predominaria.

Enfim, é um filme bem feito, mas que não deve cair tanto nas graças do público, pois o abstrato não é algo comum ainda no contexto do cinema brasileiro, e muitos vão estranhar mais do que gostar do que verão na tela, mas em suma, a mensagem da trama do que devemos fazer para ter uma vida feliz foi dada na canção final, ou seja, ligue o botão do "foda-se" e seja feliz, ou usando a mensagem final do pós-crédito, aonde é falado o que é felicidade com cinco letras, vá fazer isso ao invés de ver o filme. Portanto recomendo a trama mais para quem deseja ver algo diferente do comum, e de forma alguma recomendo para quem deseja apenas ver uma comédia tradicional, ou seja, um filme para poucos. Bem é isso, encerro aqui minha semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até lá.

PS: Como o filme fica bem indefinido do rumo que deseja seguir, de comédia, de abstrato ou até mesmo de drama, a nota também vai ficar indefinida no meio do caminho.

0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...