Abril e o Mundo Extraordinário (Avril et le monde truqué)

6/12/2016 09:45:00 PM |

Se pararmos para pensar um pouco, veremos que a humanidade anda se destruindo mais do que construindo algo bom para o futuro, e usando um pouco desse pensamento, qual seria a melhor alternativa para isso? Sequestrar os melhores cientistas e usá-los para criar um projeto secreto de melhoria. Com essa ideologia, "Abril é o Mundo Extraordinário" conseguiu ser muito mais do que uma simples animação, mas um longa completo e bem feito para se fazer uma excelente reflexão, mostrando que nem em animações os franceses conseguem fazer algo simples, sem que tenha uma ótima estrutura filosófica agregada. Mas longe de termos algo complexo e difícil de entender, a trama acaba gostosa e muito divertida de acompanhar.

O longa nos situa em 1941. O mundo está radicalmente diferente daquele descrito e conhecido pela História. Napoleão V reina na França, onde, assim como no resto do mundo, há 70 anos os cientistas estão desaparecendo misteriosamente. O universo francês é mergulhado numa era pré-industrial, centrada no uso do carvão, onde não há rádio, televisão, eletricidade, aviação, motor à combustão. É nesse mundo estranho que a jovem, Abril, parte em busca de seus pais, cientistas desaparecidos, em companhia de Darwin, seu gato falante, e de Julius, jovem vigarista das ruas. Esse trio deverá enfrentar os perigos e os mistérios desse mundo extraordinário. Quem sequestrou os cientistas no passado? Que finalidade sinistra há por trás desse desaparecimento?

Com traços simples, mas muito bem desenhada, a animação nos mostra uma época na história que os diretores montaram e prepararam para criar uma perspectiva diferenciada, mas com muita garra e interação dos personagens principais, de modo que vamos acompanhando tudo, rindo das ótimas situações e vendo o quanto poderíamos ter um mundo melhor se todos estivessem dispostos a fazer isso, mas infelizmente nem nós, nem outros seres pensantes estão dispostos a isso, pois cada um sempre busca o que acha melhor para si mesmo. E assim sendo o filme soa envolvente e bem reflexivo dentro da proposta dos diretores, que mantiveram o estilo e classe do começo ao fim, trabalhando bem a história e criando nuances de perspectivas para que o público acabe viajando junto deles.

É importante destacar também que colocaram bons personagens animados, para que o filme fluísse e agradasse bastante, deste modo tanto o gato Darwin como Júlio fizeram a parte cômica da trama funcionar, enquanto a protagonista dublada por Marion Cotilard ficou a cargo de ser a parte pensante e mais trabalhada, elucidando os problemas e dando uma síntese bem envolvente para a produção. É claro que como toda boa animação, também tivemos bons vilões, e aqui no caso tivemos o cômico policial Pizoni e o lagarto Rodrigo para dar o tom mais forte da trama, e deixar o público bravo com o que fazem.

O visual tanto da França na época que se passa o filme, bem como uma visão completamente futurista que acabaram colocando, como um teleférico ligando as capitais dos países, entre outras coisas incríveis de ver na telona, mostraram que a criatividade foi aflorada pela equipe artística enquanto a selva embaixo da terra ficou muito cheia de ciência para impressionar a todos. E usando duma animação 2D bem feita, e trabalhando sempre com o uso de perspectivas de sombras, que dão uma certa tridimensionalidade, o filme acaba cativando e envolvendo mais do que o esperado.

Enfim, uma ótima animação que recomendo mais para adultos refletirem do que para crianças, mas como possui também situações cômicas é capaz que alguns pequenos também se divirtam e distraiam com o que é mostrado aqui. Não é a toa que o filme ganhou muito prestigio e prêmios internacionais, pois a obra é complexa e muito bem feita. Fico por aqui agora, mas volto mais tarde com o outro filme do Festival Varilux de hoje, então abraços e até breve.

PS: Acho que faltou um pouco de canções para comover mais e dar nota máxima para a produção, mas é um filmaço que vale a pena ser visto.

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