Entre Nós, O Amor (Une Vie Rêvée) (A Free Woman)

4/29/2025 08:45:00 PM |

Costumo dizer que o cinema francês é daqueles que você nunca sabe o que vai encontrar ao final de um filme, pois ao mesmo tempo que se depreda o personagem principal, por vezes acabamos tão familiarizado com ele que passamos a defende-lo, e a trama de "Entre Nós, o Amor" permeia bem essa sintonia, ao ponto que toda a dramaticidade de predatória da situação acaba sendo triste de ver, afinal algumas pessoas não conseguem ter realmente uma boa vida, e deixar tudo ir pra baixo só pode piorar as coisas, de modo que os protagonistas parecem até desistirem de si mesmos, e isso pega na alma, mas felizmente o longa tem uma reviravolta boa ao final, mas isso só mostra a versatilidade de não desistir quando tudo está a pior, e o filme funciona bem com isso.

O longa nos mostra Nicole parece ter uma vida de sonho, mas a realidade é bem diferente. Aos 52 anos, ela vive em um conjunto habitacional nos subúrbios com seu filho de 19 anos, Serge, que já não a suporta. Endividada e desempregada, perde o talão de cheques e o cartão de crédito, enquanto suas rugas aprofundam-se sem que ela possa reagir. Porém, com a chegada do Natal, talvez o destino finalmente sorria para essa mãe que luta para voltar a acreditar na esperança.

Diria que o diretor e roteirista Morgan Simon quis mostrar bem a sensação de desespero e desistência quando tudo ruma para o pior, mas ele também teve uma boa mão para que a densidade funcional da trama não explodisse para o pior, de modo que o resultado na tela tem uma boa entrega cênica, ao mesmo tempo que também se segura nos atos mais sólidos de um mundo prestes a desabar. Ou seja, vemos um estilo de direção mais aberto e fluido na tela, aonde todas as possibilidades aconteceriam, e sendo uma trama francesa, poderíamos esperar tanto por algo bom quanto para algo extremamente doloroso e forte, e sabiamente o diretor não quis causar, dando um desfecho bonito que até podemos pensar que foi apenas um sonho, mas é melhor imaginar que não!

Quanto das atuações, diria que Valeria Bruni Tedeschi trabalhou sua Nicole com muita imposição, sabendo se entregar nos atos mais duros e densos, desenvolvendo toda a situação forte e bem colocada dentro de trejeitos marcantes, mas também tendo segurança na emoção que precisava passar, não ficando falsa em seus atos, nem sendo uma pessoa inumana na tela, e assim o resultado acaba funcionando melhor do que o esperado. O jovem Félix Lefebvre deu para seu Serge dinâmicas bem colocadas junto da protagonista, não pesando trejeitos, mas também não falhando na entrega mais forte, de modo que são duro ver um filho assim com uma mãe, mas o papel pedia, e ele faz bem. Quanto aos demais vale claro o destaque para Lubna Azabal com sua Norah, afinal sua entrega para com a protagonista é perfeita, sincera e direta, ao ponto que a atriz acerta e se desenvolve bem com o que faz.

Visualmente a trama tem uma entrega tão marcante que o apartamento da protagonista é até comparado com a Amazônia, ou seja, cheio de plantas (a maioria falsa), animais e até um quadro de tigre gigantesco, mas comida e coisas boas para um bom Natal e Réveillon que é bom nada, também vemos alguns atos na tabacaria de Norah, e atos em shoppings luxuosos com todos as compras enquanto os protagonistas apenas olham, e claro o lado de fora do conjunto habitacional aonde vemos que o clima ali é pesado.

Enfim, é um filme simples visualmente, quase uma peça bem representada na tela, mas que funciona muito bem pela essência emocional entregue, aonde tudo flui bem e se desenvolve, sendo um bom acerto entre a proposta e o que foi entregue, valendo a recomendação para se pensar na vida que levamos. Então fica a dica, e eu fico por aqui agora, já que vou encarar mais um longa do Festival, então abraços e até daqui a pouco com mais um texto.


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