A Luz (Das Licht) (The Light)

4/26/2025 03:01:00 AM |

Quem me conhece sabe que gosto demais de conferir filmes sem saber absolutamente nada, muitas vezes nem lendo sinopses ou vendo trailers, e se tem algo que gosto muito de fazer é bater o olho em um pôster e ser comprado pela embalagem, ao ponto que muitas vezes alguns filmes já me ganham ali, e ultimamente como já acostumei que em festivais mais alternativos tem de escolher para não cair em algumas furadas, desde o primeiro dia que saiu os longas que participariam do Festival de Cinema Europeu da Imovision falei que "A Luz" tinha uma pegada que talvez me agradaria muito, porém não imaginava que o filme teria uma base espírita, muito menos que fosse algo completamente fora do usual, misturando desde Bohemian Rhapsody em animação com viagem fora do corpo, ou seja, uma loucura completa na tela, que muitos vão achar que o diretor tomou um bom chá de cogumelos para entregar tudo isso, enquanto outros irão sentir bem toda a essência maluca que o filme consegue entregar nos seus longuíssimos 165 minutos, que diferentemente de cansar numa última sessão de sexta, me deixou acelerado e ansioso para saber como tudo poderia acabar, o que é bom, enquanto para outros, a fuga com menos da metade foi uma opção.

O longa nos mostra que a família Engels está se desintegrando em silêncio — pais esgotados, filhos desconectados, uma rotina sem afeto. Até que Farrah, uma empregada recém-chegada da Síria, entra em cena. Misteriosa e magnética, ela se torna o centro silencioso da casa. Um a um, todos se aproximam dela... sem saber que ela os escolheu. E que sua chegada não foi coincidência.

O diretor e roteirista Tom Tykwer ficou muito famoso em 98 com seu longa "Corra Lola, Corra", mas foi com seu filme mais maluco de 2012, "A Viagem", junto com as irmãs Wachowsky e depois com a série "Sense8" que ele trabalhou mais essas nuances de conexões entre passado, presente, futuro, pessoas e acompanhantes de planos, e aqui diria que ele jogou muito do que já vimos nos seus outros momentos, porém de uma forma ainda mais direta para o lado espiritual, pois fica bem claro que o lance da empregada/terapeuta é algo para com sua família presa em algum ambiente não muito real, e as conexões que tenta fazer para com a família que vai trabalhar vem mostrar que o diretor desejava sentir realmente a essência de vida daquelas pessoas complexas, mas que pudessem se entregar para o outro lado. Ou seja, é um filme que vemos o diretor tentando a todo momento nos pegar com as sínteses da vida, levando até para um lado meio que musical em alguns atos, mas que você precisa se conectar com algo ali, senão a chance de dispersão é muito alta, e isso é um risco que ele correu.

Quanto das atuações, diria que o elenco completo se jogou do começo ao fim, tendo Nicolette Krebitz com sua Milena Engels mais surtada como uma workaholic que praticamente não dá mais abertura para o marido e para os filhos, sendo intensa e cheia de dinâmicas, mas que a atriz soube passar sensibilidade em muitos trejeitos, e isso chamou atenção. Embora o musical de Lars Eidinger com seu Tim Engels seja falando da preocupação com o corpo, ele se deixou ficar nu em diversos momentos, e trabalhou bem as dinâmicas de alguém que tem uma mentalidade, mas que se mascara para ter o emprego que tem, e isso é algo que vemos muito no mundo contemporâneo. Tala al Deen trabalhou sua Farrah com muitas nuances e dinâmicas, sabendo se posicionar mais como uma terapeuta do que como uma empregada, e a atriz deu as sacadas mais comuns desse estilo de personalidade, chamando muito a responsabilidade do filme para si. Os mais jovens Julius Gause com seu Jon Engels e Elke Biesendorfer com sua Frieda Engels trabalharam a modernidade tóxica que temos hoje em muitos adolescentes, vivendo de jogos e rebeldias, mas perdidos para a vida realmente, não sabendo aonde se encaixar na sociedade e no momento. Agora o jovem Elyas Eldridge trouxe uma imposição cênica para seu Dio interpretando a clássica canção do Queen como se fosse sua, jogando em desenho animado convertido, com cenas conectadas e dinâmicas que vou ficar de olho no que pode surgir futuramente dele. 

Visualmente posso dizer que quase saí da sessão ensopado de tanta chuva na trama, que chega a ser irritante com o protagonista usando capa e andando de bicicleta a todo momento, mas tivemos dois apartamentos bem cheios de detalhes, mostrando a casa da família como uma verdadeira bagunça, aonde ninguém nem se acha, e nem vê o corpo da outra empregada no chão, e o quarto do garoto nem que ele quisesse acharia algo de tanta coisa jogada, já o da empregada mostra uma família diferente, cheia de pessoas que sempre comem juntas, se conectam, conversam, e depois até ficamos sabendo mais quem são. Tivemos cenas num estilo de prisão, que depois nos atos finais vemos o que era realmente aquilo, com uma cena do passado bem marcante, tivemos alguns protestos e boates da garota, alguns jogos de realidade virtual do rapaz, um escritório moderno do marido, e as muitas viagens da protagonista. E claro o aparelho que emite luzes e faz o povo viajar, e alguns atos dentro de uma piscina e de um barco, ou seja, uma produção bem grandiosa.

Tivemos alguns atos musicais bem interessantes, mas sem dúvida o que mais teve nuances foi a música do Queen, "Bohemian Rhapsody", que nunca tinha botado muita atenção na letra completa, e que fez muito sentido com o desenvolvimento na tela em forma de animação, chamando muita atenção e imposição cênica.

Enfim, é um filme que recomendo pela essência, e pela simbologia presente para refletirmos sobre nós e nossas conexões com familiares e pessoas ao nosso redor, mas que também é um filme que muitos não irão se conectar com o que é mostrado na tela, então tem de estar preparado para aceitar e se envolver, então fica a dica para quando for realmente lançado comercialmente seja assistido, ou para as cidades que ainda forem exibir ele no Festival irem aos cinemas. E é isso meus amigos, amanhã volto com mais textos, e fico por aqui hoje, então abraços e até breve.


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