Uma Noite em Haifa (Laila in Haifa)

5/01/2023 02:21:00 AM |

Todo Festival tem aquele filme que você sabe que é premiadíssimo, que o diretor tem obras icônicas em seu currículo, mas que não vai lhe agradar, e logo que vi que a trama de Amos Gitaï desse ano era com vários personagens soltos que se entrelaçavam num único ambiente já tinha a certeza de que seria uma novelona aonde nada levaria a lugar algum, e meu feeling não anda falhando tanto, pois "Uma Noite em Haifa" é daquelas obras aonde o diretor quis mostrar um clube da cidade que tem de tudo o que você possa imaginar, homens, mulheres, gays, travestis, mulheres apanhando, homens apanhando, roubo, arte, shows, casais se conhecendo por aplicativo, bebidas puras e misturadas, ricaços e guerrilheiros, pessoas falando árabe, hebraico, inglês, numa verdadeira salada mista que não se encaixa em nada e tenta passar a mensagem plural num país que sabemos que não é tão plural assim, de forma que o filme joga tudo na tela e fala para o público se conecte, mas não dá as vias de fato para isso, não sendo ruim, pois temos alguns diálogos bem encaixados sobre o tema, mas também passando bem longe de ser algo bom, além de ter tantas falhas técnicas que chega a arrepiar, com cenas com um tipo de música de repente no mesmo ambiente não tem mais nada, outro ato lotado de pessoas, a câmera vira e está quase tudo vazio, ou seja, uma abstração gigante de ideias que talvez numa série aonde cada personagem principal se desenvolvesse funcionaria, mas num filme de 99 minutos nem no maior sonho possível de qualquer diretor daria certo.

O longa se passa em uma noite fatídica em um clube na cidade portuária de Haifa e explora as histórias entrelaçadas de cinco mulheres. O filme visa apresentar um instantâneo da vida contemporânea em um dos últimos espaços remanescentes onde israelenses e palestinos se reúnem para se envolver em relacionamentos face a face.

Sabemos que o diretor Amos Gitaï é muito bom no que faz, tem estilo próprio e sabe conduzir bem suas produções, e isso é bem visto aqui, afinal são tantos personagens e cenas que tudo precisou ser muito bem pensado para não dar conflitos (mas que ainda assim tiveram como já citei alguns erros acima), então ao meu ver já que o protagonismo aparentava recair sobre a personagem Laila, ele deveria ter focado tudo ali, ter dado uma ou outra pincelada bem rápida nos demais elementos, e aí sim poderia mostrar uma vida plural no país, aonde a personagem se conectasse com esses vários elementos, mas não apenas ir jogando várias histórias, algumas sem eira nem beira, e assim podemos dizer que gastou dinheiro apenas dos produtores para algo que até teve uma boa recepção em alguns festivais, mas apenas por ter seu nome (aliás diria que hoje foi a sessão com mais pessoas dos dias que fui no Festival Filmelier também por esse motivo), pois não conseguiu mostrar seu potencial nem brilhou como costuma fazer.

Falar sobre as atuações chega a ser até bem difícil, pois não diria que ninguém ali conseguiu transmitir algo a mais em cena no meio do conflituoso ambiente, de modo que Maria Zreik até teve alguns atos marcantes com sua Laila, mas sem ir muito a fundo na personagem, trazendo uma mulher de um homem riquíssimo que se envolve com um fotógrafo e tenta vender seu produto para americanos, sendo básica nas expressões corporais, mas tendo até um pouco de atitude, sem ser algo que impressionasse. Tsahi Halevi trabalhou seu Gil como uma pessoa de muitas conexões, trabalhando alguns trejeitos fortes, mas fazendo uma piada horrível, ele poderia facilmente trabalhar no próximo "Karate Kid" depois desse filme de hoje, pois tirou e pôs seu casaco tantas vezes que chega a incomodar, além de ter começado levando uma pancadaria sem tamanho de dois assaltantes de carro, numa briga de estacionamento ridícula, e depois já estava nos amassos com a protagonista, fora andar pelos diversos ambientes da trama sem parar do começo ao fim, ou seja, trabalhou muito. Makram Khoury trouxe para o seu Kamal, aquele personagem rico que acha que pode tudo e tem tudo, mas que trabalhou algumas pontuações polêmicas dentro do longa e sofreu com a militante guerrilheira perguntando o preço do seu carro umas vinte vezes, sendo algo até incômodo, que funcionou ao menos. Quanto aos demais, é melhor não me alongar, pois cada um teve uma ou duas participações, algumas falas a mais, porém nada que impactasse realmente.

O filme se passa inteiramente em um clube noturno com muitos figurantes, variando a concentração em ambientes, tendo dois bares, algumas mesas, um palco com piano, uma galeria de arte com algumas fotos marcantes do protagonista em exposição, alguns atos no estacionamento, uma cozinha bem trabalhada com um único chef, muita bebida e luzes, personagens subindo escada, descendo escada, tirando casaco, botando casaco, mudando de figurino no meio do caminho, ou seja, uma tremenda bagunça visual que até funciona na proposta plural, mas não chega muito longe, mostrando que talvez o filme tenha sido rodado em mais do que um dia no mesmo ambiente, e com isso temos algumas dessas falhas que falei durante todo o texto, que infelizmente não dá para relevar.

Enfim, se eu falasse que odiei como alguns outros filmes estaria sendo injusto, pois a trama embora confusa até me prendeu para que eu tentasse entender aonde o diretor gostaria de chegar, mas também de forma alguma eu posso falar que amei o que vi, sendo daqueles que ficam bem no meio do caminho que talvez com poucos ajustes funcionaria que é uma beleza, então como dica dou para ver apenas como a vida noturna numa cidade tensa por conflitos é normal e agitada como qualquer outra cidade do mundo, e se for para Haifa e quiser algo plural, esse é o lugar. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, faltando apenas um dos filmes do Festival para conferir (dentro dos que vieram para a cidade, e claro tirando a comédia nacional que já deve estrear bem em breve comercialmente - e achei muito estranho estar num festival de longas premiados), então deixo meus abraços e amanhã venho com uma estreia do streaming para agradar os amigos que querem ver algo em casa.


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