Certos filmes nacionais já nos permeiam com situações tão bem encaixadas que não tem como não gostar, e a alegoria vida versus morte, misturando com ideias do sertão acabam sempre resultando ótimas histórias que agradam antes mesmo do longa estrear. Confesso que sabia bem pouco sobre "Malasartes e o Duelo Com a Morte", de modo que vi o trailer apenas uma vez nos cinemas, e já havia me afeiçoado com o que tinha visto ali, mas não esperava ver algo que misturasse a situação tão bem conhecida de "O Auto da Compadecida" com todo o lance do sertanejo esperto que tenta ludibriar negociando com a morte e o misticismo da mitologia das moiras que já vimos em alguns desenhos e até mesmo em alguns filmes que envolvessem as tecedoras de destinos, ou seja, com uma história bem elaborada, a trama se desenvolveu bem nas mãos dos atores e acabou agradando bastante tanto visualmente quanto no desenrolar completo. Porém, alguns exageros repetitivos acabaram cansando em diversos momentos, tirando até a atenção do público, e juntamente com o excesso de efeitos especiais, o filme acaba até saindo um pouco dos eixos, de modo que até poderia agradar bem mais.
O longa nos mostra que Pedro Malasartes é um malandro que, por mais que seja apaixonado por Áurea, não resiste a um rabo de saia. Devendo muito dinheiro a Próspero, irmão de sua amada, Malasartes precisa escapar dele ao mesmo tempo em que prega peças, sempre usando a inteligência, de forma a conseguir alguns trocados. Só que seu padrinho, a Morte em pessoa, tem outros planos para ele.
O diretor e roteirista Paulo Morelli já vinha tentando tirar o longa do papel há muito tempo, e com uma bagagem invejável é claro que não decepcionaria ao entregar uma trama mais fantasiosa do que seus últimos filmes mais centrados em realidades e problemas psicológicos, de modo que aqui ele pôde explorar melhor cada situação com uma boa dinâmica, e principalmente entregar um filme com vértices bem encaixados numa proposta do tradicional malandro, e com isso vemos uma trama bem facetada e cheia de nuances interessantes para se analisar. Claro que com esse excesso, a trama funcionaria bem melhor como uma série, e esse sim era o desejo antigo do diretor para que pudesse trabalhar melhor cada um dos personagens, o que acabou não acontecendo, e sendo assim, o resultado final até é agradável, mas poderia ser bem melhor.
Sobre os personagens e seus atores, falo dessa forma pois independente de quem fizesse cada papel, o resultado que mais importaria seria as feições de cada elemento e não seus trejeitos que cada ator poderia fazer, e sendo assim Jesuíta que sempre dá show, não decepcionou em momento algum, fluindo do começo ao fim com muita perspicácia para que seu Malasartes agradasse demais. Ísis Valverde é uma atriz bacana, mas seus personagens acabam marcados demais, de modo que por ter os mesmos trejeitos que anda fazendo na novela das 9, ficamos esperando sua Áurea soltar um tradicional "égua". Júlio Andrade é outro que jamais decepciona com os papéis que pega, e aqui mesmo sua Morte tendo de ficar quase 99% cheia de efeitos, o ator incorporou bons momentos e acabou divertindo bastante com cenas simples bem colocadas melhores que as mais complexas. Leandro Hassum antes de emagrecer (ou seja, o filme já está gravado há um bom tempo) tinha muito mais graça e divertiu-se bastante fazendo trejeitos bobos, mas bem colocados para seu Esculápio. Milhem Cortaz sempre se coloca como um personagem forte nos longas que atua, mas aqui seu Próspero poderia não ter sido tão forte, que ainda agradaria e passaria a mesma mensagem. Augusto Madeira até fez bem seu Zé Candinho, mas o papel acabou ficando bobo demais para que o ator chamasse a atenção sem apelar, e com isso o resultado acabou ficando estranho. Outra que soou estranha foi Vera Volts com sua Cortadeira, de modo que num misto de hippie com bruxa desesperada por poder, acabou ficando bem forçada para agradar.
Certamente algo que impressionará muito o público será a qualidade da produção, pois com muitos cenários computadorizados, acabamos vendo um filme quase que 100% digital, que acaba chamando até mais atenção nos efeitos do que na história propriamente dita, e com isso o resultado da equipe artística necessitou ser perfeito e acaba mostrando realmente a dinâmica impecável que tanto desejavam em cada um dos cenários, fosse no sertão ou na Terra da Morte. Porém para que bons efeitos fluissem melhor, era preciso um pouco melhor de cuidado com a iluminação, pois tivemos cenas mistas demais aonde tudo oscilava e acabava soando falso demais, o que certamente não era estipulado, e sendo assim, poderiam ter economizado nas cenas de voo.
Enfim, é um filme diferenciado que até chama bastante atenção e merece ser visto para mostrar que o Brasil tem evoluído muito nos estilos de filmes, mas ainda para poder exagerar em efeitos especiais necessita melhorar um pouco mais. Portanto vá ao cinema, confira e tire suas conclusões, pois certamente vai lhe causar um estranhamento de parecer já ter visto algo do tipo, e sim, talvez você tenha visto o personagem principal nas aventuras de Mazzaropi, mas aqui o resultado foge um pouco do tradicional e vai ficar no meio do caminho. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda falta mais uma estreia para conferir, então abraços e até breve.
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