13 Minutos (Elser) (13 Minutes)

12/15/2016 12:47:00 AM |

Sempre que falo que o cinema alemão é 8 ou 80, muitos acabam retrucando, mas é raro ficarmos em cima do muro com os longas feitos por lá, e mais raro ainda encontrar longas ruins que mostrem a época do nazismo, pois conseguem determinar bem o contexto da época e ainda trabalhar com frieza tudo de ruim que aconteceu, além de sempre dar aquela leve cutucada no calcanhar para mostrar os pontos que a população era contra e os fanáticos que não ligavam para qualquer coisa que lhes eram ditas (mesmo que fosse a verdade), pois apenas ouviam o que desejavam ouvir. E sendo assim, "13 Minutos" realça tudo isso com muita tortura, muitas cenas impactantes, muita determinação da equipe, mas principalmente pela ótima interpretação que o protagonista acaba entregando em cena, fazendo do longa quase um daqueles filmes de ator, mas sem falhar no contexto histórico a trama acaba vivenciando muito mais sem perder a dinâmica em momento algum.

O longa nos mostra que foram apenas 13 minutos que impediram o carpinteiro Georg Elser de mudar o curso da história. No dia 8 de novembro de 1939, ele instalou uma bomba atrás do púlpito de Adolf Hitler em um pub em Munique. O Führer, no entanto, deixou o local antes do previsto e sobreviveu à tentativa de assassinato. Elser é preso e, durante seu confinamento, recorda os acontecimentos e os motivos que o levaram a planejar o atentado.

O trabalho do diretor Oliver Hirschbiegel é interessante por sempre misturar bem o seu ponto de vista com o ponto de vista original da história, pois já trabalhou com diversos temas baseados em histórias reais, inclusive já falando de Hitler em outro longa ("A Queda: As Últimas Horas de Hitler") e com isso ele acaba desenvolvendo sua trama de uma forma bem envolvente, pois todos sabemos que somente contar a história por si só acaba vertendo rumos geralmente chatos, ou talvez que não criassem um ritmo bem pontuado. E se tem algo que me impressiona em um diretor é ele demonstrar sua opinião e ainda fazer bem isso, pois alguns diretores optam deixar que o público crie sua história da trama, e ache o que quiser dos diversos momentos, o que felizmente não ocorre aqui, pois quando precisou ser duro e mostrar torturas, ele foi lá e colocou, quando precisou mostrar um romance quente foi lá e trabalhou bem, mas principalmente evitou exagerar em cada momento para que a história fluísse bem e fosse interessante de ser acompanhada, criando perspectivas boas independente da ideologia política ou da fé de cada personagem, acertando assim em cheio na ideia da montagem completa do longa.

Como disse acima o ponto alto do longa, além claro da boa história, ficou a cargo do ator Christian Friedel por dar ótimas nuances expressivas para seu Georg, fazendo cada momento ser único ao cantar, fazer instrumentos com a boca, ser sensual quando partia para as garotas, sério e compenetrado na forma de conduzir o plano e até nos momentos mais duros e tristes da trama soube dosar energia para vivenciar tudo com força e muita dinâmica de impacto, o que é dificílimo de ver em atores não tão experientes, e sem dúvida alguma esse misto de características envolvendo a certa jovialidade do ator, acabaram resultando nos ótimos momentos do filme com sua atuação. Dos demais atores todos foram bem e mereceriam pontuar individualmente, mas como são nomes difíceis demais de ficar escrevendo aqui, vou priorizar dois, e claro que um seria Katharina Schüttler com sua Elsa, pois a atriz fez cenas fortes e sempre demonstrando um ar pessoal maior do que a personagem exigia, ela acabou acertando em diversas cenas somente trabalhando olhares, e claro que com isso adicionou bem uma personalidade marcante para o filme, mesmo que isso não exigisse tanto na história da trama. E Burghart Klaußner fez de seu Nebe um personagem interessante, pois oscilando bem o humor entre raiva e dúvida do que deveria fazer, acabou criando algumas nuances interessantes para serem analisadas tanto no quesito interpretativo do ator, quanto da forma que Hitler, ou o nazismo no caso, tratava seus elos mais "fracos", ou seja, um personagem que digamos inicialmente não tão demonstrativo, mas que lá pro miolo do filme mudamos a forma de olhar, e com o fechamento, a precisão muda novamente para uma outra forma.

O que mais me impressiona em longas de época é a incrível habilidade das equipes de arte arrumarem locações tão bem encaixadas com o momento em que o filme se passa, pois se tudo se passasse em cenas internas tudo bem, é difícil, mas é bem possível de criar um cenário completo seja através de montagens ou até mesmo usando muita computação gráfica, mas quando falamos de cenas externas com casas e prédios bem trabalhados, as equipes correm demais contra o tempo para encontrar tudo perfeito, e aqui temos locações incríveis da época, que junto de outros bons momentos interiores bem apanhados de elementos cênicos acabaram resultando em um trabalho bem pautado e cheio de vivência para ser visto contemplando cada detalhe. Além de uma boa direção de arte, o longa também manteve uma essência bem densa na fotografia, criando momentos certos para cada ato, e trabalhando bem um tom acinzentado num misto com tons de sépia/marrom que deixou o filme sujo, mas que por ter boas cores de contraste não acabou cansando tanto, muito pelo contrário, o que é algo raro de acontecer. O uso de um filtro pela equipe numa cena envolvendo drogas ficou interessante por granular a imagem, coisa que sairia completamente de eixo, e que muitos até criticariam, mas acabou funcionando por pouco tempo e agradou de certa forma.

Enfim, um ótimo filme que vale a pena ser conferido nos cinemas, pois diferente dos outros da Mostra que ou irão estrear bem para frente, esse já se encontra em cartaz em algumas cidades, e que mesmo sendo duro em críticas e até com algumas cenas fortes de tortura, acaba sendo interessante e agradável de ver, pois o trabalho foi mais vivo do que forçado. Portanto recomendo ele, mesmo tendo algumas falhas no interior que poderiam ser minimizadas, como alguns cortes exagerados e um certo didatismo para que o público entendesse o que realmente estava acontecendo, mas que com certeza é bem melhor do que abstrações forçadas. Bem é isso pessoal, amanhã volto com mais um texto da Mostra Internacional, então abraços e até lá.

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