Já é fato saber que quando um livro de algum escritor vivo estoura a bilheteria dos cinemas com sua adaptação, podemos esperar a vinda de praticamente todos os outros, e como "A Culpa das Estrelas" lotou cinemas pelo mundo afora, (principalmente no Brasil, o que fez a produção do novo longa estrear aqui bem antes do que no país de origem), era só aguardar a data de estreia de "Cidades de Papel". Não digo isso com nenhum pesar, pois mesmo sendo um nicho que muitos reclamam, eu tenho um certo carisma para com esse estilo de filme, pois como não tenho o poder de viajar tanto na imaginação literária, ver nas telas a imaginação que alguém teve de determinado autor é algo que me satisfaz bastante. E posso dizer mais, que fiquei curioso por mais longas baseados nos textos de John Green, pois esse escritor que tem levado adolescentes às lágrimas ao falar praticamente na mesma linguagem que eles, tem conseguido trabalhar de uma maneira menos forçada de clichês ao colocar o romance em pauta, mas sem finalizar da forma usual que todos esperariam, e isso é algo muito bacana de ver na telona, e certamente a bilheteria vai estourar (hoje por exemplo quase não consegui ingresso para a sessão) e já podemos ficar aguardando seu próximo livro nas telas do cinema.
O filme nos conta uma história sobre amadurecimento, centrada em Quentin e em sua enigmática vizinha, Margo, que gostava tanto de mistérios, que acabou se tornando um. Depois de levá-lo a uma noite de aventuras pela cidade, Margo desaparece, deixando para trás pistas para Quentin decifrar. A busca coloca Quentin e seus amigos em uma jornada eletrizante. Para encontrá-la, Quentin deve entender o verdadeiro significado de amizade – e de amor.
O que posso adiantar é que se você não leu o livro, assim como eu, evite ir nas sessões lotadas iniciais, pois um spoiler instantâneo pode fazer você querer matar a pessoa do seu lado, e não terá como mudar de lugar. Dito isso, o diretor Jake Schreier trabalhou muito bem o desenvolvimento que os roteiristas acabaram criando em cima do livro de John Green, o único aquém é que no livro provavelmente as passagens das horas devem ter um bom motivo, e aqui no filme ficou aparentemente algo bem inútil e até feio demais aparecendo na tela a todo momento, somente perguntando o tempo para o Radar ficaria mais elegante e bacana de ver. Além desse pequeno defeito, o diretor teve em seu segundo longa uma responsabilidade monstruosa de tentar passar os principais detalhes da trama que os fãs iriam procurar na tela, então ele soube junto com os jovens dar a dinâmica correta para que cada elemento tivesse a devida importância e ainda ajudasse que eles desenvolvessem seus diálogos, ou seja, trabalhar com jovens já é uma tarefa árdua, e ainda por cima juntar pedacinho de papel em canto, é algo que certamente funcionou como um bom treino. Além de que o texto do escritor por si só já fala com os jovens e ao montar todo o conteúdo, o diretor soube colocar o brilho total na última cena para casar com a sintonia que a trama pedia para ser fechada.
Um fato que é bem interessante sobre o elenco, é que mesmo todos possuindo idades de jovens que entram nas faculdades, alguns até mais, praticamente todos aparentam ser muito mais jovens, e isso de certa forma causa um pouco de incômodo, mas como fizeram bem suas interpretações, isso é o que mais vale falar. Nat Wolff é um dos poucos atores jovens que conseguem trabalhar a percepção de câmeras junto das melhores expressões faciais possíveis, claro que em cinema gravamos diversas vezes a mesma cena para ficar com uma tomada boa, mas seu Quentin aparenta funcionar tão bem no papel que mesmo nos momentos mais tranquilos da trama, ele sempre está com um ar curioso e empolgado para tudo o que vai fazer em seguida, vejo futuro nele. Cara Delevingne entregou a sua Margo ao mesmo tempo um ar enigmático e uma beleza diferenciada, de forma que não trabalhou com impacto para ser sexy, mas sim um desejo pela aventura mesmo e pelo jeito de ser, e isso é um dos trabalhos mais difíceis para diversas atrizes, pois jogar charme e beleza é fácil, mas conquistar usando de outras maneiras dá trabalho, o que de certa forma foi um pouco complicado para a jovem que já trabalha a muito tempo como modelo, mas que tem antes desse filme fez apenas participações em outros filmes e séries, mas foi tão bem, que já está gravando diversos outros, então certamente irá melhorar muito, e deve seguir carreira facilmente. Austin Abrams é o que mais aparenta ter menos idade do que seu personagem na trama, mas ao trabalhar seus diálogos foi tão impactante que acabamos gostando demais do que faz, e nos afeiçoamos ao que faz em cena, torcendo de certa forma para que suas mentiras virem futuro, e dessa maneira ligamos o personagem a diversos amigos e conhecidos que inventam mais do que fazem, e assim sendo o garoto conseguiu chamar atenção, e vamos aguardar outros papéis para falar mais dele. Justice Smith teve sua estreia nos cinemas com um papel mais sério e introspectivo, mas seu Radar sempre é de grandes sorrisos e boas cenas para chamar a atenção e agradar na medida com seu bom texto, é outro que certamente tem futuro. Dos demais personagens, a maioria acaba servindo para uma ou outra ligação com os protagonistas, mas não chegam a chamar tanta atenção, então vamos dizer que funcionaram apenas para o propósito de auxílio de cena, mas claro que a aparição de AnseL Elgort fez todas as meninas da sala gritarem.
Agora se estamos falando de um filme que coloca um mistério para ser desvendado, entra em cena o trabalho meticuloso da equipe de arte para que cada elemento do livro encaixasse perfeitamente no melhor ângulo de câmera e também não ficasse tão falso do protagonista localizar (embora alguns tenham ficado bem forçados), mas o resultado total funciona bem e mostrou que todos tiveram que ler e muito cada trecho do roteiro para não esquecer nada em cena e ainda dar um charme nos cenários. Aliado às boas escolhas de elementos, a equipe de fotografia trabalhou muito com uma iluminação de preenchimento para enobrecer ainda mais as cenas noturnas ou nas internas mais envolventes, e isso deu um tom muito gostoso de acompanhar e fluiu junto com o desenvolvimento da trama para que nada acontecesse ao acaso.
Enfim, não é um filme perfeito, mas agrada bastante pela forma dinâmica que foi produzido, construindo um misto de road-movie com pitadas de suspense/mistério, e um certo ar romanceado para dar o tom, mas sem dar muito spoiler, o amor não é o ponto principal da trama. Claro que quem não gosta de romances adolescentes vai odiar toda a situação, mas garanto que o texto tem um estilo próprio e não cansa como a maioria costuma fazer, e quem não leu o livro vai até se contradizer bastante com o final do longa. Portanto recomendo ele como uma boa diversão nos cinemas, mas como disse no começo, se você não curte ouvir pessoas falantes ao seu lado, fuja das sessões em horários mais comuns, pois as fãs ficam comentando partes do livro e dando spoilers durante o próprio filme. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a outra estreia da semana, então abraços e até breve.
4 comentários:
Muito bom texto.
O filme tbm me agradou, mesmo eu já tendo levado um spoiler do final do filme.
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@eubw
Obrigado @eubw! Que bom que gostou do texto! Está cada dia mais difícil fugir dos spoilers, principalmente pela alta quantidade de filmes baseados em livros, que a maioria já leu e se fala meia palavra conta o fim... rsss... então o jeito é relevar e tentar esquecer ao ir ver! Abraços!
Um bom filme para quem não leu o livro antes, muitas cenas empolgantes do livro foi totalmente esquecida no filme criando uma grande espectativa
Isso sempre é um pesar meu amigo! Mas para um livro entrar inteiro num filme é muito complicado, pois cada página de um livro, você pode calcular mais ou menos 1 minuto de projeção (em média), ou seja, um livro de 368 páginas como é o caso desse viraria 368 minutos... você aguentaria ficar no cinema por 6 horas??? Então acabam cortando mesmo! Mas como você disse, para quem não leu, rola numa boa. Abraços!
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