Já falei isso diversas vezes, mas é de praxe que toda vez que um filme dá resultado, a continuação já começa a ser escrita no dia seguinte no melhor estilo das escolas de samba do Carnaval, e em 2013 com toda certeza, uma das comédias nacionais que mais fez o público rir nos cinemas foi "Meu Passado Me Condena", e agora com sua continuação, ao ter um espaço mais amplo do que um cruzeiro, puderam caprichar no nível da produção e desenvolver mais o conceito de uma comédia romântica, porém esqueceram do detalhe que tanto agradou no primeiro filme: fazer o público rir mais do que apenas discutir a relação (detalhe numas tias no fundo da sala interpretando a relação dos protagonistas como se tivesse na janela olhando os vizinhos), não que algumas DRs não sejam engraçadas, mas as sacadas acabaram perdidas no meio das grandes locações da trama, e alguém ainda deve estar procurando elas para encaixar no filme.
O longa nos mostra que a vida de casado dos apaixonados Fábio e Miá cai na rotina quando, as diferenças, que não são poucas, precisam ser enfrentadas. Após Fábio esquecer o terceiro aniversário de casamento, Miá decide pedir um tempo. Quando o avô de Fábio, que mora em Portugal, o comunica que ficou viúvo, ele enxerga nesta viagem para o funeral uma oportunidade de salvar seu casamento.
É interessante observar que o roteiro da trama foi muito bem pensado para criar as situações interessantes que causam conflitos em casais, e ao poder contar com um orçamento bem melhorado, a diretora Julia Rezende, que havia estreado na direção justamente com o primeiro filme, agora veio com bagagem dos erros e acertos que teve da outra vez, para desenvolver um filme com uma cara até que bem europeia, trabalhando mais o conceito da comédia romântica de uma maneira mais leve, e usando as piadas de intervalo para tentar puxar uma comicidade maior. E embora isso faça com que o público que riu muito no primeiro filme ache um pouco estranho esse estilo, o resultado é até que bem favorável, mas é notável que muitas cenas que continham piadas mais contundentes e que talvez fizessem o público rir novamente ficaram de lado na edição final, para que o clima não fosse quebrado, e dessa maneira não consigo acreditar que o filme tenha a mesma rentabilidade que o primeiro teve, mas vamos aguardar, afinal o carisma dos protagonistas ainda é muito alto e pode ser que o público se divirta com eles. Mas o que temos de falar com muita certeza ainda sobre a direção é que Julia embora enfatize que uma das personagens gosta muito de novelas, o seu estilo de dirigir foge completamente dessa maneira, o que é um grande trunfo dentro do cinema nacional, pois saber se diferenciar quando todos querem ir para os mesmos rumos, embora inicialmente cause uma certa estranheza, futuramente ela deverá colher bons louros.
Sobre as atuações, já frisei isso na crítica do "Entre Abelhas", e reafirmo que Fábio Porchat não é mais aquele artista apelativo do início de sua carreira, e mesmo fazendo o irresponsável e brincalhão Fábio do longa, ele trabalha bem os trejeitos e consegue desenvolver seu carisma para com o público, tentando puxar emoção em algumas cenas e saindo até que bem de certos momentos em que certamente ele faria algo bobo e sem noção para chamar atenção, claro que como aqui a comédia era necessário ele poderia ter melhorado algumas piadas, mas isso já seria um trabalho dos roteiristas, então o que fez foi satisfatório. Miá Mello é uma atriz que não chega a chamar atenção nem pelo corpo nem pela forma que atua, e isso não lhe impede de trabalhar o roteiro que lhe é entregue, pois no primeiro filme se esforçou para ser o contrapeso do excesso de comicidade de Fábio, e aqui já teve maior enfoque para mostrar o estilo da mulher contemporânea que trabalha muito e ganha até mais que o marido, e depende somente de si para tudo, e com isso funcionou para que as discussões do relacionamento se apimentassem e até caísse algum resquício para o lado mais tradicionalista dos personagens de Portugal, ou seja, com seu jeito quietinho de ser trabalhou bem e entregou uma personagem até mais interessante para a trama do que a que fez no primeiro filme. A atriz portuguesa Mafalda Pinto caiu bem para o papel de Ritinha, e com um carisma interessante funcionou exatamente para contrapor a personagem de Miá, e assim com o seu belo sotaque português e uma beleza interessante, a atriz pôs trejeitos de diversas maneiras na sua interpretação e agradou bastante no que fez. É engraçado que quando Ricardo Pereira começou a fazer novelas na Globo, seu sotaque era fortíssimo e lembro de rir muito do jeito que falava, mas agora fazendo o português Alvaro, de certa maneira ficou parecendo um brasileiro interpretando e impondo um sotaque, ou seja, já está há tanto tempo por aqui que precisou impostar um pouco sua voz para dar ar a um personagem mais tradicionalista, claro que alguns podem até reclamar de seu ar machista na trama, mas sabemos bem que no interior é assim, e ele fez muito bem o que o papel pedia. A dupla Inez Viana e Marcelo Valle que funcionou bem no primeiro filme, aqui pareceu bem deslocada e não convenceu, parecendo que sua Suzanna e Wilson desembarcaram na Itália no filme anterior e ficaram perdidos pela Europa fazendo bicos, poderiam ter colocado situações mais divertidas para os dois, como por exemplo a cena da porta batendo, que agradaria bem mais do que o que foi mostrado. E para fechar Antonio Pedro como o vô Nuno deram texto demais para o personagem ficar como um contador de histórias, e logo que viram isso, deram praticamente um sumiço nele na edição, o que ficou muito feio e embaraçoso, pois ao que poderia ver, o mote do longa é o avô, e acabou sobrando quase nada de vô no resultado final.
Certamente a escolha da aldeia de Sortelha e a Quinta de Sant'Anna foi algo que a direção de arte trabalhou com a produção da melhor forma para que o acerto do filme fosse perfeito, pois com menos de 200 habitantes, o local praticamente ficou livre para a equipe trabalhar tranquilamente e dar um ar maravilhoso para o visual da trama, e com essa liberdade de ambientes, o roteiro também conseguiu se desenvolver para a ambientação colonial local que agrada bastante tanto pela simplicidade, como pelo teor mais calmo. E diante de belas paisagens da região, a equipe de fotografia só teve o trabalho de refletir a iluminação natural nas cenas diurnas, e das fogueiras/velas nas cenas noturnas/internas, o que deu um charme a mais para a produção e resultou num tom muito bem trabalhado.
Enfim, se você estiver esperando um longa aonde você vai mijar de tanto rir por puro besteirol como foi o primeiro filme, abaixe um pouco a expectativa e vá com mais calma ver esse novo, pois a chance de não gostar do estilo é alta, mas se você já gosta de algo mais trabalhado e bem produzido, certamente essa nova trama vai agradar e fazer você rir sem muito apelo, portanto é dessa forma que acabo recomendando o filme. Mesmo gostando de um estilo mais bem produzido, acredito que faltou comicidade para que a trama ficasse no mesmo nível do primeiro filme, ao menos no quesito fazer rir, portanto somando os pontos positivos com os negativos vou dar a mesma nota que dei no primeiro, quem sabe caso façam um terceiro filme, misturem a boa produção desse com a comicidade do primeiro, e aí sim teremos uma comédia nota 10 nacional. Bem é isso pessoal, encerro por aqui as estreias dessa semana, mas ainda tenho o Panorama Suíço para conferir no Domingo e na Terça, então deixo aqui meus abraços e até breve.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...