O Homem Das Multidões

5/19/2015 09:28:00 PM |

As vezes não é porque alguém vive só que ela não gosta de estar sozinho, pois muitas vezes o sentimento de solidão pode ocorrer em meio a diversas pessoas ou ao estar mesmo junto de outros. No filme "O Homem das Multidões" somos transportados à vida monótona dos protagonistas de um modo bem simples, e com a ausência quase que completa de diálogos, nos vemos frente a um turbilhão de sentimentos somente através de olhares e símbolos da vivência que é trabalhada por eles, e assim embora canse um pouco no início, o resultado final acaba sendo tão eloquente que agrada demais com o casamento perfeito da canção de fechamento com tudo o que foi montado em nossa mente durante todo o restante do filem.

O filme nos situa em Belo Horizonte, Minas Gerais, mostrando duas estórias de solidão diferentes. Juvenal, condutor de trem do metrô, enfrenta a impossibilidade de estar só. Para se sentir melhor, ele se mistura na grande multidão da cidade. Margô, controladora de estação do metrô, não consegue se desprender das redes sociais, trocando o mundo real pelo mundo virtual.

Os diretores e roteiristas Cao Guimarães e Marcelo Gomes foram ousados tanto na proposta do tema, quanto no modo de exibição, pois ao nos colocar numa janela de exibição quadrada, bem diferente do que estamos acostumados com o modelo wide nos cinemas, não temos o espaço para correr os olhos ao redor da cena, e com isso ficamos juntos dos protagonistas e suas percepções do seu mundo simples e casual, e assim vamos compondo junto com os símbolos e sinais apresentados tudo o que eles desejavam passar. Não digo que qualquer espectador suportará um longa de 95 minutos com seque 20 de diálogo, mas quem entrar no clima passado verá que isso é algo tão comum de acontecer atualmente (de pessoas que vivem tranquilas em seu mundinho simples, que qualquer fator atrapalhará) que acabará se conectando com a ideia proposta e apresentada.

Quanto da atuação, Paulo André nos entrega uma atuação completamente expressiva de seu Juvenal de uma maneira que tudo possa ser entregue somente com percepções e assim acabamos ficando quase que "amigos" conhecedores de suas vontades e de sua simplicidade, ou seja, algo perfeito que muitos podem até achar fácil de fazer, mas que poucos atores fariam tão simbolicamente. Em contrapartida Silvia Lourenço já inicia o longa de uma maneira desesperada aonde toda tecnologia tem de ser utilizada a milhão, vivendo sua solidão particular com sua Margô, mas desenvolvendo de uma maneira completamente diferente de Juvenal, e no decorrer da trama vai amansando e ficando mais próxima do que os diretores desejavam mostrar, e assim chegamos a ter até pena dela. Embora tenha uma participação bem rápida em duas cenas, Jean-Claude Bernardet também consegue simbolizar com poucos diálogos a vida de quem consegue ser feliz com sua simplicidade sem necessitar que outros entrem em sua vida e o famoso escritor que ele é serviu para remeter como uma referência mesmo que não fazendo um papel real.

Não seria condizente entregar um filme que mostra a solidão com uma cenografia rebuscada, e dessa maneira a equipe de arte foi simplista até demais, o que acabou gerando algumas risadas do público, o que era esperado pela situação, nas cenas em que a moça vai até a moradia do protagonista, e juntamente com isso a cena final ficou ainda mais genial. Ou seja, muitas vezes como dizemos menos é mais e o acerto acaba iminente. A fotografia usou bem a iluminação para que no resultado da edição entregasse essa tela diferenciada quadrada, e isso é algo que pode até incomodar inicialmente, mas no decorrer da trama, a paisagem retratada acaba acostumando nossos olhos e até acabamos esquecendo do restante da tela do cinema.

Enfim, um longa simples, mas que acaba sendo tocante e interessante de acompanhar, talvez se feito de outra forma nem teria o mesmo impacto, mas como foi acertadamente desenvolvido assim, o resultado acaba bem impressionante e inteligente. Vale a pena conferir, mas com a ressalva de que se você gosta de um longa mais falado do que expressivo, com certeza esse não vai lhe agradar muito. Bem é isso pessoal, daqui a pouco tem mais um longa do Festival SESC Melhores Filmes, então volto mais tarde com a crítica dele também. Abraços e até breve.


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