Diria que o diretor e roteirista Rafael Conde não quis trabalhar o livro de Samarone Lima, "José Carlos Novais da Mata Machado, uma reportagem" como algo mais aberto para comover e envolver, tratando o tema com uma pegada mais fechada e dramatizada para representar bem os jovens que viveram de maneira clandestina, sem recursos para sobreviver e que engajados promoviam discussões políticas e também alfabetização dos mais pobres para entenderem o que acontecia no país. E dessa forma mais fechada o longa ficou meio que seco de estrutura, ao ponto que não conseguimos nos envolver e conectar tanto com os protagonistas como deveria, o que acabou ficando um longa mais de ideais apenas. Claro que essa escolha foi precisa para ser representativa da época, e dos grupos que viveram dentro do caos da época, olhando pelo lado dos que estavam realmente na luta pelos direitos, e dessa forma talvez o filme pudesse ter ido mais além. Ou seja, o trabalho do diretor não foi bom, mas também não foi ruim, apenas foi uma escolha segura que ficou restrita demais, e assim praticamente nem vemos realmente o caos acontecendo, parecendo apenas escolhas do protagonista, o que certamente sabemos que não foi.
Quanto das atuações, a trama girou bastante em cima de Caio Horowicz com seu Zé, tendo diversas mudanças de visual durante toda a produção para representar o tempo, a vivência e toda a situação passada, de modo que o vemos desde no peso normal até ultra-magro de fome, vemos períodos com barba e outros de cabelo bem arrumadinho, tudo junto de trejeitos densos e diálogos bem pontuados em vários atos, além de alguns monólogos para representar a leitura de suas cartas para a família aonde suas pausas dramáticas acabaram bem encaixadas e emocionais na medida. Ainda tivemos atos bem expressivos por parte de Eduarda Fernandes com sua Bete, principalmente nas decisões de entregar os filhos para os sogros cuidarem, e também Samantha Jones com uma Grauninha bem trabalhada nas dinâmicas de ataque dos grupos, mas sem dúvida entre os personagens secundários quem acabou chamando atenção foi Rafael Protzner com seu Gilberto aparentemente dócil e prestativo com a família, mas trabalhando como denunciante dos militares para pegar todos os amigos da família.
No sentido visual a equipe de arte foi singela, porém na medida com cenas mostrando alguns encontros dos personagens em fuga pela cidade, o primeiro encontro no hospital, depois o romance numa piscina abandonada, o casamento na casa do irmão, a mudança para o nordeste e a vida sem muito recursos, e claro também o outro lado bem comparativo com o café da manhã na casa burguesa, e além disso ainda tivemos uma cena de tortura leve na delegacia com cigarro e a criança lá assistindo, e já no fechamento vemos outra bem mais violenta e marcante, aonde com certeza deram o tom que era esperado para o filme.
Enfim, é um longa que tinha sua proposta determinada, que quis ser mais fechado por opção, e que mesmo não lendo o livro que originou a trama dá para sentir as nuances que o escritor desejava de mostrar o jovem que opta por enfrentar o sistema independente de sua família, e aqueles que acabam recaindo quando tudo parece perdido, afinal tivemos vários tipos de pessoas nas lutas da época da ditadura, e aqui a ideia foi bem passada, mesmo sendo algo que facilmente dava para ir mais além. Sendo assim fica a dica de conferida nos cinemas a partir da próxima quinta, e eu fico por aqui claro agradecendo o pessoal da Embauba Filmes e da Sinny Assessoria pela cabine de imprensa, então abraços e até amanhã com mais dicas.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...