O Insulto (L'insulte) (The Insult)

3/24/2018 02:33:00 AM |

Já vimos muitos conflitos acabarem com um julgamento, mas e quando um julgamento acaba gerando um conflito imenso? Pois bem, "O Insulto" é daqueles filmes que uma bombinha, digo algo tão pequeno que você fala, sério que esse é o insulto do nome do filme, vira algo capaz de causar uma explosão tão imensa que a cada reviravolta, a cada novo ato só vamos ficando mais chocados com tudo, e o resultado final só não é mais perfeito por falta de atitude do diretor em algo que talvez chocasse mais ainda o público, mas que de certo modo funcionou dentro da proposta. Sabemos bem que muitas brigas de rua acabam mal, mas jamais imaginamos o tamanho que um conflito pode virar com um xingamento, uma ofensa, ou qualquer outro ato, e aqui a trama se desenvolve simples entre os protagonistas, mas que na digladiação entre os advogados acaba tomando rumos tão fortes que sinceramente pensei que o filme iria ficar num nível inaceitável de fechamento, mas com uma leve queda, o que acabamos vendo é que no Oriente Médio, uma leve bomba explode muitas casas e só quem tiver muito cerne consegue resolver de uma forma bem coerente.

O longa nos situa em Beirute, onde Toni é um cristão libanês que sempre rega as plantas de sua varanda e um dia, acidentalmente, acaba molhando Yasser, um refugiado palestino. Assim começa um intenso desacordo que evolui para julgamento com ampla cobertura midiática e toma dimensão nacional.

O trabalho feito pelo diretor e roteirista Ziad Doueiri é algo bem feito dentro da proposta que desejava atingir, pois como bem sabemos o Oriente Médio vive a beira de um colapso e qualquer meia conversa vira um conflito, e aqui ele ousou usar diversos vértices para justificar o conflito entre os dois personagens, e claro seus advogados para criar toda a orla jurídica. Claro que como falei faltou um pouco mais de coragem para ele encarar o fato que já tinha colocado no começo do filme falando que não está expresso a ideia do Líbano ali, mas ele certamente poderia ter aprofundado mais nos diversos conflitos e com isso causaria ainda mais com seu filme, claro que também tomaria algumas sanções, então o meio do caminho até que foi bem colocado e conseguiu mostrar o apelo de causas, a omissão por parte de alguns conflitos e ainda voltar claro para o caso dos protagonistas, que em diversos momentos até pensamos que esqueceram eles ali no banco de julgamento, e foram para outros rumos. Ou seja, a síntese dramática é tão forte, que acabamos rindo e se divertindo em diversos momentos por tudo ser tão inacreditável, que acreditamos no que estamos vendo, e ainda digo mais, facilmente um julgamento desse tipo com tudo o que acaba ocorrendo seria visto por lá, e em muitos outros lugares. Sei que soaria piegas da minha parte, mas acredito que uma versão comercial do longa feita em Hollywood, seria falsa, cheia de bordões e tudo mais, mas causaria um tremendo barulho.

No conceito das interpretações, chega a ser forte e ao mesmo tempo controverso os trejeitos e as expressões de cada um dos protagonistas, que ousam num grande jogo de olhares e facetas tão bem colocados que mesmo quem nunca tenha visto um filme sequer com eles, acaba na metade já quase conhecendo tão bem eles que já sabe o que esperar na cena seguinte, ou seja, jogam tudo para com o público e se saem muito bem no que fazem. Adel Karam é mais ríspido e com nuances mais fortes e duras ele acaba desenvolvendo seu Toni com um ar mais conciso de movimentos, sempre disposto a causar no conflito e sempre se achando o certo da situação, mesmo quando tudo aflora para outro lado, além de impor o ritmo também em suas cenas, ou seja, um domínio de ambiente perfeito. Já Kamel El Basha, que tem levado alguns prêmios pela atuação no longa, soube fazer expressões suaves e ao mesmo tempo revelar sua angústia, sua repressão, e com isso ir alocando cada ato dentro de um tom mais fechado, mas que ao mesmo tempo consegue fazer com que o público adentre as causas de seu Yasser, mas talvez um pouco mais de atitude em algumas cenas, como faz no final agradasse mais no miolo e chamaria muito mais atenção. O embate entre os advogados interpretados por Camille Salameh (Wadji) e Diamand Bou Abboud (Nadine) também é algo que merece muito ser observado, pois ambos usaram facetas fortes, jogos de olhares e muito da interpretação usual que só advogados de grande calibre sabem fazer tão bem, e claro que com isso o filme acaba sendo um chamariz e exemplo de filme para alunos dessa profissão para brincarem com a defesa e acusação, ou seja, mostraram como se faz e agradaram muito. Dentre os demais, a maioria foi coerente em suas expressões, mas nada que impressionasse, de modo que a esposa de Toni, interpretada por Rita Hayek soou mais jogada para escanteio que se não tivesse falas até esqueceríamos que estava no filme.

Embora tenha algumas cenas no prédio e na rua com os protagonistas, algumas tomadas aéreas mostrando Beirute, e outras cidades, com vídeos mostrando conflitos e tudo mais, a grande faceta da equipe de arte foi desenvolver bem o tribunal, e mesmo não sendo algo muito elaborado, todas as cenas ali fluíram muito bem e foram montadas com toda a intenção que o longa desejava para o conflito ocorrer. Com tons escuros e muitas cenas a noite, o desenvolvimento da equipe de fotografia foi em usar cada fonte de luz para valorizar os quatro protagonistas, e com isso a trama ficou bem fechada sem muitos momentos de respiro, mas como disse no começo tudo acaba sendo tão absurdo que acabamos nos divertindo mais do que ficando tensos com a situação toda.

Enfim, é um ótimo filme que possui leves deslizes, mas que vale tanto como uma boa sessão para conferir, quanto um filme para se refletir sobre os conflitos da natureza humana, como para estudar um pouco de política e até mesmo para os estudantes de direito florear ideias de defesa/acusação, ou seja, um filme para muitos públicos, que concorreu ao Oscar de Filme Estrangeiro, mas que enxergamos facilmente o motivo de não ter sido premiado, a falta de uma opinião mais efetiva, ou seja, recomendo o longa, mas também pontuo que assim como muitos outros, alguns diretores não gostam de arriscar sua opinião nos filmes. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com outras estreias, então abraços e até logo mais.

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