Alice Através do Espelho em Imax 3D (Alice Through The Looking Glass)

5/28/2016 02:14:00 AM |

Seis anos se passaram desde que "Alice no País das Maravilhas" foi lançado, e se muitos apostavam que a franquia não ganharia uma continuação após diversas críticas falando do exagerado estilo escolhido, eis que o dinheiro é claro que falou mais alto, e praticamente todos voltaram para seus papeis para que uma nova história fluísse, mesmo que a maioria seja praticamente apenas ligações para dar boas conexões, e novos personagens (alguns sendo os mesmos mais novos) trabalhassem bem a história toda. Dito isso, podemos dizer facilmente que "Alice Através do Espelho" é em quesitos de história, algo muito superior ao primeiro filme, pois temos algo realmente para ser contado, enquanto no outro tínhamos mais uma apresentação figurativa, e também podemos falar que visualmente o longa consegue novamente encantar com diversas facetas multicoloridas e que quem estiver disposto a esquecer a história poderá viajar facilmente somente pelo ambiente mostrado, porém ao trabalhar minuciosamente quase cada um dos capítulos do livro em que foi baseado, o diretor acabou fantasiando demais toda a trama, colocando lições demais para serem aprendidas, e com isso por bem pouco o longa não acaba monótono, alongado e cansativo, e desse modo, seus 113 minutos parecem certamente muito mais na tela. De modo geral é algo bem interessante para se pensar em diversas questões e muito bonito para se olhar, mas tem de ir ao cinema preparado para viajar, entrar no clima e se desprender completamente do tempo que irá passar por lá, pois senão a chance de não gostar do que verá é altíssima, e além disso, mesmo a trama de Lewis Carroll sendo algo mais infantilizado, evitem levar as crianças, pois a chance deles desistirem na metade é alta.

Basicamente a história nos conta que Alice retorna após uma longa viagem pelo mundo, e reencontra a mãe. No casarão de uma grande festa, ela percebe a presença de um espelho mágico. A jovem atravessa o objeto e retorna ao País das Maravilhas, onde descobre que o Chapeleiro Maluco corre risco de morte após fazer uma descoberta sobre seu passado. Para salvar o amigo, Alice deve conversar com o Tempo para voltar às vésperas de um evento traumático e mudar o destino do Chapeleiro. Nesta aventura, também descobre um trauma que separou as irmãs Rainha Branca e Rainha Vermelha.

Um ponto facilmente notado na diferença dos dois filmes é o estilo de ambos, e claro que isso se deve principalmente pela troca de diretores, pois ao sair Tim Burton e sua loucura desvairada com formas abstratas e nuances mais sérias, entrou James Bobin que já prefere um mundo mais cheio de lições de moral e personagens animados no meio de muita cor, que já vimos fortemente acontecer nos dois "Os Muppets" dirigidos por ele. Não digo que isso é algo ruim, só era necessário que o foco da trama não ficasse tão dependente disso, pois história em si foi, com toda certeza, o que mais os roteiristas lhe entregaram para trabalhar, e ele preferiu segurar seu mundo multicolorido trabalhando as referências, e deixando de lado boas sintonias que cada personagem poderia trazer de positivo para a trama. Outro ponto claro no estilo do diretor, é que ao não distribuir o tempo de tela para os diversos personagens, praticamente tivemos muitos atores apenas enfeitando tela, sem envolver ou chamar atenção, e isso é um erro num filme desse tamanho, pois é como se você colocasse em cena diversos lustres caríssimos, numa cena aonde o diretor de fotografia só enquadra até a cabeça do ator! Ou seja, temos algo de certa forma até bem interessante de ver na tela, com toda certeza vamos sair reflexivos com as questões familiares, de amigos e até mesmo com pensamentos melhores sobre todas as metáforas de tempo ditas no longa, mas não podemos em momento algum chamar o filme de obra-prima, pois de tudo falta um pouco, e usando uma expressão que brinca com a ideia do longa: "só o tempo dirá se vamos rever muito ele, ou se acabará sumindo em breve de nossa memória".

Sobre as atuações, com toda certeza Mia Wasikowska cresceu muito no seu estilo de atuação, não sendo mais aquela garota ingênua de pouca expressividade que vimos florescer no primeiro filme, mas sim uma atriz que já trabalha suas interpretações pontuando bem as alegrias, as dores e botando o sentimento pra jogo ao invés de apenas ficar se assustando, claro que sua Alice ainda não foi o seu melhor papel, mas a jovem já começou a agradar bastante num estilo mais envolvente, daria destaque mais para suas cenas junto de Tempo e as fora do mundo subterrâneo. Johnny Depp sempre gostou de personagens exóticos e com o Chapeleiro ele se esbalda em expressões e trejeitos, ainda mais nesse longa que é praticamente todo seu, tendo claro como narradora/expectadora da ação Alice, mas no fundo o longa é sobre sua perspectiva e dessa forma Depp acaba sendo incumbido de mostrar mais serviço do que no anterior. Fazia tempo que não entregavam um personagem tão icônico para Sacha Baron Cohen como foi essa personificação do Tempo, pois o ator pode desenvolver todas suas caricaturas e ainda ser coeso com uma ótima expressividade, e ao agradar bem num estilo mais contido do que faz em seus longas bagunçados, o ator conseguiu mostrar o quanto é bom no que faz, podendo pegar mais personagens fantasiosos que tenham conteúdo para ser mostrado. Anne Hathaway e Helena Bonhan Carter até voltam bem com suas rainhas Branca/Mirana e Vermelha/Iracebeth, trabalhando de forma mais contida, e Hathaway esqueceu o que é expressividade, fazendo caras e bocas mesmo que parada, o que não é legal de ver em cena, mas ambas não atrapalham o andamento em suas poucas cenas, e assim sendo fizeram o que lhes foi pedido. Dos demais personagens, tivemos muitos bons atores dando vozes à personagens animados, e até alguns que caíram bem em papeis do mundo real, mas sempre fazendo poucas cenas, quase nenhum chamou atenção demais para que precisássemos destacar algo, então como disse acima, o diretor colocou em alguns momentos cerca de 10 a 20 personagens na tela, mas poucos mostraram a que vieram.

Agora se temos de tirar o chapéu do chapeleiro e de toda a família Cartola para algo do filme certamente é para a equipe de arte, que com muito primor técnico criou um mundo fantasioso lotado de referências incríveis ao imaginário, trabalhou bem com a perspectiva temporal nas cenas do castelo do tempo, usou e abusou de ideologias de passado com visuais coloridos e cheios de elementos cênicos que foram usados inclusive como justificativa de enredo, trabalhou com muitas texturas interessantes de se envolver, ou seja, quem não quiser curtir a história e passar as quase duas horas de projeção viajando na cenografia vai sair até mais contente que quem ficar preso completamente na história procurando simbologias mais psicodramáticas como foi o primeiro longa, ou seja, um trabalho técnico incrível que ao misturar identidade cênica de locações, com ótimas criações computacionais, acabou chamando atenção para algo que já se falava desde "Avatar", que em breve esqueceremos as histórias para focarmos somente nos ambientes, e isso é um perigo monstruoso. Sobre a fotografia, é quase impossível dizer que o diretor de fotografia procurou trabalhar com determinado tom para isso, ou para aquilo, pois temos praticamente todas as cores possíveis e imaginárias no longa, e claro que vou dar destaque para o tom mais sombrio do castelo do Tempo, que ao brincar com referências de vida e morte acabou tendo umas nuances mais fechadas e interessantes de se ver, e claro que procuraram usar muitas sombras no longa inteiro para aumentar o campo visual do 3D. E falando da tecnologia tridimensional, mesmo na maior sala da cidade, o que posso dizer é que até temos uma boa profundidade e o longa funciona no quesito imersivo com muito brilho e dinâmicas de tentativa do público adentrar ao filme, mas por ser um longa convertido após as filmagens, acabaram esquecendo do detalhe mestre que é pensar em 3D, e assim sendo quase nenhum movimento acaba agradando e valendo tanto o ingresso mais caro.

Enfim, é um bom filme, de certa forma melhor que o primeiro por ter mais conteúdo para ser trabalhado, mas acabou apostando nas fórmulas erradas, e se alongou demais em uma das vertentes possíveis, talvez umas se desprendesse para uns dois ou três lados acabaria sendo mais dinâmico e agradaria bem mais. Porém ainda continua sendo algo maravilhoso de ver como falei na parte artística da trama, então com toda certeza ainda é um filme que vale apreciar, claro que alguns vão reclamar mais, outros menos, mas no contexto geral irá agradar pelo resultado em si. Bem é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas ainda faltam duas estreias da semana para conferir, então volto em breve com mais posts. Abraços e até lá.

PS: Pensei em dar 7 para o longa, mas voltei a pensar mais no visual da trama, e como valorizo demais a parte de produção técnica, o longa acabou me cativando demais nisso, então daria um 7,5... arredondando da forma que sempre pedimos para os professores, é igual a nota abaixo.

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